Na
última terça-feira (20), a cena de um ônibus onde 37 pessoas foram tomadas
reféns por um jovem de 20 anos que ameaçava atear fogo ao coletivo e mantinha o
controle sobre as vítimas as ameaçando com uma arma de brinquedo, trazia à tona
o pesadelo do dia 12 de junho de 2000, quando um criminoso tomou como reféns os
passageiros de um coletivo, onde infelizmente após mais de cinco horas de
negociações, a ação terminou com o criminoso e uma refém mortos, conhecido como
“Assalto ao 174”.
Desta
vez o desfecho foi diferente, e apenas o criminoso veio a óbito após mais de
três horas de intensas negociações, quando foi neutralizado pela ação de um
atirador de elite do BOPE, que atingiu o meliante e pondo fim ao sequestro,
desta vez sem que houvesse quaisquer vítimas entre os reféns. A ação bem-sucedida
trouxe a voga mais uma vez uma das forças especiais da Polícia Militar do Estado
do Rio de Janeiro (PMERJ) de maior prestígio e reconhecimento, o BOPE (Batalhão
de Operações Policiais Especiais).
Muitos
cariocas possuem uma forte admiração pelos “Caveiras”, como são conhecidos os
policiais que integram aquele Batalhão, tendo sido criada toda uma mística
sobre o treinamento e histórias envolvendo o emprego dessa tropa extremamente
treinada e capaz de levar a cabo verdadeiras missões de combate, as quais
diferem e muito do que seria o emprego convencional de uma força policial,
sendo também conhecidos como “Homens de Preto” em alusão ao clássico uniforme
negro, o qual deu lugar ao camuflado digital,
Nós
do GBN Defense News conhecemos um pouco da história e rotina destes verdadeiros
heróis anônimos, tendo tido um primeiro contato com essa formidável tropa no
início desta década, onde visitamos a unidade e fomos recebidos pelo hoje Major
Ivan Blaz. Diante de tudo isso e principalmente do drama ocorrido na Ponte
Rio-Niterói, resolvemos contar um pouco sobre esta tropa.
Criado
há mais de 41 anos, para ser exato, no dia 19 de janeiro de 1978, sendo fruto
da necessidade identificada de instituir um grupo de operações policiais especiais,
com treinamento específico para lhe dar com situações de risco envolvendo
reféns, estando ainda bem forte na memória o ocorrido nas Olimpíadas de Munique
em 1972, onde um grupo terrorista tomou como reféns atletas de Israel, ação que
terminou com onze reféns, um policial e cinco sequestradores mortos. Além de
uma ocorrência envolvendo uma tentativa de fuga de presos, onde o Major Darcy
Bittencourt, feito refém pelos criminosos, veio a óbito durante a ação policial.
Primeiramente denominado como Núcleo da Companhia de Operações Especiais
(NuCOE), foi constituído por policiais voluntários que possuíam especialização
em operações especiais nas forças armadas, onde muitos integrantes possuíam o
Curso de Guerra na Selva, ou Curso de Contraguerrilha. Inicialmente estavam
instalados em Sulacap, nas dependências do CFAP.
O
símbolo que ficou famoso nas telas de cinema de todo Brasil, representado por
um punhal atravessando uma caveira com duas garruchas cruzadas abaixo, surgiu
no início dos anos 80 e passou a ser uma marca registrada da unidade, que ficou
conhecida como “Faca na Caveira”. Ainda nos anos 80 a unidade passaria por
novas mudanças, onde em abril de 1982 passou a ser designada como Companhia de
Operações Especiais (COE), tendo sido transferida para o Batalhão de Polícia de
Choque. Já no ano de 1984, foi renomeada como Núcleo de Companhia Independente
de Operações Especiais (NuCIOE), subordinado ao BPChq e ocupando as instalações
do “Regimento Marechal Caetano de Farias”. Por fim, em março de 1988 a unidade
passou a ser denominada Companhia Independente de Operações Especiais, tendo
sido pela primeira vez empregados em operações contra o narcotráfico. Mas foi
no dia 1 de março de 1991 que a unidade passou a ser conhecida como Batalhão de
Operações Policiais Especiais (BOPE), a qual ostenta até hoje e que ganhou
grande notoriedade e importância no aparato de segurança pública do Rio de
Janeiro.
O
BOPE surgiu primeiramente como tropa especializada em ação de resgate de
reféns, porém, o avanço da criminalidade e o aumento dos confrontos entre
traficantes e policiais, onde os criminosos apresentavam um aumento em seu
poder de fogo, algo que ficou patente com a apreensão do primeiro fuzil de
assalto no Rio de Janeiro, onde um FAL 7,62mm foi apreendido na comunidade da
Mangueira. Tal fato foi uma surpresa, o que colocava a PMERJ em enorme
desvantagem, tendo em vista que há época a dotação policial contava com
revolver Calibre 38 como padrão e não era adotado colete balístico. Tal fato
levou a uma importante mudança, onde o BOPE passou a assumir a missão de
combate ao narcotráfico, sendo a primeira unidade policial a adotar o colete
balístico 24 horas, além de ter como dotação padrão pistolas, submetralhadoras
e posteriormente fuzis de assalto.
Sendo
uma força de operações especiais, o BOPE passou a desenvolver várias técnicas
de progressão no terreno, alcançando um nível de eficiência e capacidade que
leva todos os anos vários militares de nações amigas a realizar com os instrutores
da unidade o curso de técnicas de progressão em zona de conflito urbano, tornando-se
referência em todo mundo. Tal fato confere ao BOPE uma terceira missão, que é
atuar como multiplicador de conhecimento tático e de emprego de tropas em
ambiente urbano, fornecendo treinamento.
O
BOPE hoje mantém basicamente três missões principais: Gerenciamento de
Situações de Extremo Risco e Resgate de Reféns, Operações de Combate ao Narcotráfico
em áreas urbanas, e por fim Adestramento e Instrução Especializada. Nesta
última, o BOPE é capaz de adestrar cerca de dois mil homens ao ano.
O
principal diferencial do BOPE as demais unidades com que conta a PMERJ, é a
expertise adquirida pela unidade para atuar em situações extremas, sendo
especificamente uma força de intervenção, sendo empregada quando tudo mais falha,
como certa vez me disse um de seus membros “Estamos ali para atuar quando tudo
mais falha, então nossa missão é essa, chegar lá e resolver o problema...”
Para
ser um “Caveira” é preciso atender alguns requisitos, dentre estes é preciso
estar na corporação há mais de dois anos, ser classificado como bom
comportamento e ser aprovado nos testes médico, psicológico, físico e de
habilidade específica, mas acima de tudo é preciso querer muito, ter muita
força de vontade e perseverança. Pois os cursos são extremamente rigorosos e
exigem muito da resistência física e do psicológico do candidato. Para ter uma
ideia, de cerca de 250 inscritos, cerca de 65 conseguem ingressar no curso,
porém, apenas 15 em média conseguem se formar. Como diz o lema: “Nada é impossível para o Soldado
do BOPE”.
Em
breve pretendemos retornar as instalações do BOPE para uma nova entrevista,
afim de trazer um pouco mais sobre essa unidade de elite e seus meios, bem como
apresentar um pouco mais sobre o preparo das equipes que lidam com
gerenciamento de crises com reféns e o treinamento dado aos atiradores de elite
da unidade. Aproveitamos para prestar uma justa homenagem a todos homens e
mulheres que compõe esta unidade de elite, nossos heróis anônimos que
diariamente arriscam suas vidas para que tenhamos um pouco de paz e segurança.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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