A Marinha do Brasil está bem próximo de finalizar a reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz, que sofreu um grande incêndio em 2012, no qual cerca de 70% das instalações da estação de pesquisas brasileira foi destruída. O cronograma sofreu algumas alterações ao longo dos últimos sete anos, sendo um enorme desafio logístico e técnico, o qual requer capacidade técnica e monitoramento das condições climáticas locais, um fator dificultante para as obras de reconstrução.
Em março deste ano, uma etapa importante da
reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) marca o término da montagem
do prédio principal e a conclusão dos módulos isolados.
O prédio principal é composto por três blocos, distribuídos da seguinte forma:
• Bloco Leste: destinado às pesquisas, convívio e serviços da EACF. Nele, estarão 14
laboratórios, refeitórios, cozinha, setor de saúde, sala de secagem e oficinas;
• Bloco Oeste: será o lugar privativo onde estão sendo instalados, no nível superior, os
32 camarotes, biblioteca, ginásio e sala de vídeo/auditório e, no nível inferior, paióis de
mantimentos e tanques de aguada e de combate a incêndio;
• Bloco Técnico: garagem e praça de máquinas da estação, onde estarão localizados os
geradores, quadros elétricos, caldeiras, estação de tratamento de água e esgoto, incinerador, entre
outros.
A montagem dos blocos técnico, leste, parte do bloco oeste e demais unidades isoladas
estão sendo realizadas no período de outubro de 2018 a março de 2019.
Os módulos isolados que foram concluídos são os de telecomunicações, de
Meteorologia/Ozônio, de VLF (Very Low Frequency), de lavagem de sedimentos, de mergulho e o
paiol de resíduos perigosos.
Fases da reconstrução
As obras de reconstrução da EACF foram planejadas para serem executadas em quatro fases
distintas e consecutivas, sendo duas de fabricação e pré-montagem na China e duas de montagem na
Antártica.
Na primeira fase de pré-montagem, ocorrida de março a novembro de 2016, a China
National Electronics Imports and Exports Coporation (CEIEC) montou o canteiro de obras em
Xangai, onde todas as fundações do prédio principal, composto dos blocos oeste, leste e técnico (garagem, estação de tratamento de água e esgoto, caldeiras, incinerador e geradores) foram pré-montadas e montado um modelo em escala natural (MOCKUP).
Na segunda fase, ocorrida de dezembro de 2016 a março de 2017, a CEIEC montou essas
fundações na Antártica e instalou também um canteiro de obras, um alojamento para 72 pessoas e
uma plataforma com guindaste, que proporcionou agilidade ao desembarque de material do navio
fretado pela empresa. Essa fase foi concluída ao término do verão antártico, conforme previsto.
A terceira fase, realizada em Xangai, de março a novembro de 2017, consistiu na fabricação
e pré-montagem dos pilares, estruturas e contêineres que constituem os blocos leste, oeste e técnico,
além dos Módulos Isolados. Essa fase foi concluída no dia 15 de novembro, após a desmontagem,
catalogação e embarque dos diversos itens e o suspender do navio “Magnólia”, fretado pela CEIEC.
A quarta fase, que previa a montagem de toda a EACF no local da antiga estação, só foi
iniciada após a chegada do navio fretado à baía do Almirantado, no dia 25 de dezembro de 2017.
Hoje, trabalham na reconstrução da EACF 268 operários da CEIEC e sete fiscais designados
pela Secretaria da Comissão Interministerial de Recursos do Mar (SECIRM), sendo cinco
Engenheiros Navais da Marinha e dois do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA), com o apoio do Grupo-Base composto de 16 militares.
É um motivo de grande orgulho para nós brasileiros manter presença e uma estação de pesquisas na Antártida, sendo o PROANTAR um programa que se iniciou nos idos de 1982, fruto do tratado internacional ao qual o Brasil aderiu em 1975, o qual exige que cada país membro do ICAR (Comitê Científico para Pesquisas Antárticas) realize “substancial atividade de pesquisa científica” para manter seu direito ao voto. Assim em 1984 foi instalada na Península Keller a Estação Antártica Comandante Ferraz, tendo como objetivo principal desenvolver pesquisas nas áreas de oceanografia, glaciologia, biologia e meteorologia.
Mesmo após o incêndio que destruiu praticamente toda estação, as pesquisas não cessaram, tendo sido construído laboratórios provisórios ao lado da antiga estação, uma amostra da perseverança e compromisso brasileiro no que tange as pesquisas realizadas pelo programa.
A Marinha do Brasil conduz ao longo de mais de três décadas o PROANTAR, e o GBN News espera em breve poder enviar uma equipe para acompanhar uma faina de abastecimento da EACF. Lembrando que as fainas de abastecimentos são realizados no período entre outubro e março, época em que há melhores condições para navegação e voo à EACF. Além da Marinha do Brasil, a Força Aérea Brasileira também presta apoio ao programa com voos que levam suprimentos e pessoal à estação de pesquisas brasileira, um verdadeiro desafio logístico em prol da ciência e pesquisa.
Solicitamos a Marinha do Brasil algumas imagens da reconstrução da EACF, e publicamos nesta matéria do GBN News as imagens fornecidas pela Marinha do Brasil, onde aproveitamos para agradecer a toda equipe do CCSM pelo apoio e informações fornecidas sobre este importante investimento no campo de pesquisa, o qual ao longo destes sete anos chegou a casa dos 99,6 milhões de dólares. Não esquecendo de render uma justa homenagem à todos os homens e mulheres que ao longo de mais de três décadas dedicaram suas vidas ao PROANTAR, em especial homenageamos o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e do sargento Roberto Lopes dos Santos, dois heróis que deram suas vidas no combate ao incêndio que destruiu a EACF em 2012.
Mas é preciso que o governo volte os olhos ao Programa e destine recursos para que seja dada continuidade as pesquisas realizadas no continente gelado, sendo algo de grande urgência a destinação de recursos orçamentários ao programa, afim de manter as equipes de pesquisadores e cientistas trabalhando nas inúmeras pesquisas e estudos em andamento.
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