O cenário mundial de defesa e geopolítica aponta para um claro momento em que as principais potencias buscam modernizar e atualizar suas capacidades tecnológicas de defesa, sendo uma das grandes premissas deste novo reaparelhamento a busca pela capacitação da indústria local e a absorção de novas tecnologias, visando principalmente alcançar um determinado grau de independência em relação aos fornecedores, assim reduzindo os riscos logísticos e de suprimento de sua cadeia de suprimentos.
Esse tem sido o caminho adotado por inúmeros países, dentre os quais podemos citar a Índia, Brasil e Austrália dentre os que mais se destacam na busca pela capacitação de sua industria local através dos programas de reaparelhamento de suas forças armadas.
Nesta primeira matéria, pretendemos apresentar o "case" australiano, o qual tem se destacado pelo vultoso investimento em diversos programas que visam recompor a capacidade de defesa daquela nação e eleva-la tecnologicamente a um novo patamar. Onde podemos citar os bilionários programas que visam a construção local de modernos submarinos, aquisição de aeronaves de quinta geração e diversos novos meios que elevarão não apenas a capacidade militar australiana, mas a capacidade do parque industrial de defesa do país, o que além de objetivar suprir as necessidades locais em um primeiro momento, tem como alvo projetar sua industria no competitivo mercado internacional de defesa.
Recentemente noticiamos aqui no GBN News o contrato bilionário assinado entre o governo Australiano e a França, onde a Naval Group irá não apenas construir localmente uma versão convencional de seu submarino Barracuda, mas irá transferir tecnologia à industria local, criando uma cadeia de suprimento e tornando a industria local um importante parceiro no programa que visa a obtenção por construção de 12 novos submarinos, a futura Classe "Attack", conhecidos como Shortfin Barracuda, um contrato que supera os 50 bilhões de dólares, superando o programa de obtenção de nove fragatas baseadas nas Type 26 britânicas, denominadas na Royal Australian Navy como Classe "Hunter", um programa estimado em 35 bilhões de dólares, que envolve não apenas a aquisição de nove fragatas, mas a construção local com transferência de tecnologia.
Além do programa de submarinos e meios de superfície, a Austrália desenvolve um audacioso programa de modernização de seu poder aéreo, tendo como principal programa a obtenção de 72 aeronaves F-35A, os quais deverão substituir os vetustos F/A-18 A/B Hornet, sendo um dos países que integram o programa multinacional Joint Strike Fighter, tendo sua industria uma parcela significativa na cadeia de componentes e suprimentos para construção e manutenção não apenas da frota pertencente à Royal Australian Air Force (RAAF).
O Programa "Jericho", tem por objetivo transformar a RAAF em uma moderna força aérea capaz de operar no moderno conceito de rede, levando a RAAF ao novo conceito de combate amparado em redes de informação. Esse programa concebera uma importante capacidade de processamento de dados e o aumento da consciência situacional, o que proporcionará uma importante capacidade de defesa e ataque, principalmente à medida que entrarão em operação modernas aeronaves. Além da aquisição de 72 aeronaves F-35 A, que visam substituir os vetustos F/A-18 A/B Hornet, conforme já citamos, passando a se tornar a principal aeronave de combate da RAAF, contando ainda com 24 aeronaves F/A-18 F e 11 aeronaves de guerra eletrônica EA-18G Growler.
A aposentadoria dos F/A-18 A/B deverá se dar por completa em 2022, e resultará na transferência das células em melhor estado ao Canadá, que já demonstrou interesse em adquirir aproximadamente 25 destas aeronaves, as quais deverão complementar a atual dotação daquele país até que se chegue a decisão sobre qual vetor irá reaparelhar aquela nação, além de obter alguns exemplares destinados a canibalização.
A reestruturação das poderio aéreo australiano alcança um espectro muito maior, resultando em um verdadeiro salto em capacidades nos vários campos do poder aéreo, dentre os quais figuram a capacidade de patrulha e guerra anti-submarina, adotando modernos meios, como é o caso da substituição dos AP-3C Orion, pelos modernos P-8 Poseidon e VANTs MQ-4C Triton, conferindo uma ampla capacidade de monitoramento marítimo de superfície e submarino.
Dentre os meios voltados ao monitoramento marítimo, a RAAF já conta com sete aeronaves P-8A Poseidon, sendo previsto o recebimento de outras oito aeronaves, os VANTs MQ-4C Triton, devem ser entregues a partir de 2023, sendo prevista a aquisição de 6 aeronaves do tipo.
No campo terrestre, os australianos já iniciaram estudos com vista a modernização seus MBT's, contando hoje com uma força composta por 58 MBTs M1A1 Abrams que foram incorporados em 2007, substituindo os antigos Leopard 1A4, conhecidos como Leopard 1AS. Segundo informações, a Austrália deverá iniciar o programa de modernização de sua frota de M1A1 por volta de 2025, onde segundo estudos, deverá ser adotado o atual padrão dos M1 Abrams em operação com o US Army.
As viaturas ASLAV-25 também deverão ser substituídas no âmbito do programa de reaparelhamento das forças armadas australianas, devendo abrir espaço para chegada de 211 viaturas BOXER que começam a ser entregues este ano, as quais substituirão as atuais 257 viaturas ASLAV-25, com processo de baixa tendo inicio em 2021 e sendo concluído em 2026, um investimento na casa dos 12 bilhões de dólares, compreendendo não apenas a aquisição de 211 novas viaturas, mas a transferência de tecnologia e a produção local destas novas viaturas que deverão modernizar as capacidade do exército australiano.
A Austrália com esse audacioso investimento, passa a se tornar uma dos mais poderosos players regionais da Ásia-Pacífico, sendo um dos principais aliados norte americanos na região e tendo ativamente atuado em importantes operações no Oriente Médio e Ásia. Ressaltamos que o bilionário investimento feito pelo governo australiano, visa não apenas trazer suas forças armadas para o moderno campo de batalha, mas tornar sua industria capacitada e capaz de desenvolver e lançar soluções no mercado mundial de defesa, além de se tornar um importante polo de suprimento para a industria de defesa mundial, tendo em vista que é cada dia mais comum ver a cadeia de suprimentos da industria de defesa ser distribuída ao redor do mundo, o que tornar mais acessível e barata a logística de produção e suporte pós-venda.
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