terça-feira, 8 de janeiro de 2019

36 horas? Uma análise sobre o processo de remoção do motor do F-35

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Recentemente uma polêmica relacionado ao F-35 ganhou as mídias brasileiras, onde um renomado site publicou em seu artigo que o referido caça de 5ª Geração norte americano levaria 36 horas para que fosse realizada a faina de remoção do motor. O GBN News mantendo nosso compromisso com a precisão de nossas informações e conteúdo, resolvemos apresentar uma análise sobre a questão. Como sempre pautados em dados, longe do sensacionalismo e teorias de google.

Para iniciar nossa análise, fomos atrás da raiz do problema, e encontramos a notícia publicada pelo site "Air Force Magazine", o qual aborda uma solução criativa encontrada para substituição dos componentes da linha de combustível do F-35, aquela mesma que há alguns meses levou a aterrar toda frota de aeronaves F-35 após um acidente envolvendo uma aeronave do tipo pertencente ao USMC. Tal solução faria com que o processo necessário para correção do problema fosse realizado em 24 horas, ao invés do procedimento até então adotado com a retirada do motor, onde o processo completo de remoção, reparo e reinstalação do motor levava 36 horas no total, tendo por base o release emitido no site "US Air Force"

A remoção do motor é um processo demorado, mas não chega à 36 horas
Então vamos aos fatos descritos pela mídia responsável pela informação raiz: 

"Os F-35 que foram evacuados Base Aérea de Eglin AFB, durante o furacão Michael em outubro, foram submetidos à inspeção de aterramento e combustível em sua base temporária em Louisiana, forçando os mantenedores a trabalhar rapidamente e encontrar novas maneiras de realizar a inspeção.
O Departamento de Defesa em 11 de outubro aterrou todos os F-35 para inspecionar os tubos de combustível após o acidente de 28 de setembro envolvendo um F-35B do USMC na Carolina do Sul. Essas inspeções incluíram os F-35A da 33ª Fighter Wing de Eglin, que foram evacuados para Base Aérea de Barksdale AFB, Em 9 de outubro, antes da tempestade.
O trabalho exigiu que os mantenedores removessem o motor do F-35 para realização do reparo, um processo que exigiria 36 horas por jato. Reboques de motor e ferramentas também precisavam ser transportados para Barksdale, e peças dentro de um número de lote específico tinham que ser substituídas, de acordo com um release de 3 de janeiro.
A manutenção de um caça de 5ªG exige mais atenção que as gerações anteriores
"Foi particularmente preocupante para nós, porque tínhamos jatos fora da estação sem acesso a todas as nossas ferramentas e pessoal", disse o 1º tenente Patrick Michael, 58º oficial adjunto da Unidade de Manutenção de Aeronaves, no comunicado. “Nós não tínhamos a orientação para mudar a parte ainda. A orientação preliminar dizia que precisaríamos remover o motor para acessar e remover a linha. ”
Depois que a tempestade passou, os mantenedores que trabalhavam com os jatos em Barksdale determinaram que oito jatos precisavam ter a peça substituída. O resto da aeronave retornou a Eglin enquanto mantenedores e funcionários da base da Flórida tentavam encontrar uma maneira de fazer isso de forma diferente.
Apesar de envolto em muitas polêmicas, o F-35 exibe um grande potencial
Os chefes de equipe de Eglin descobriram que podiam acessar a área problemática através de um buraco que poderia caber a mão, em vez de remover o motor inteiro. A descoberta reduziu em pelo menos 12 horas o tempo previsto para reparar cada aeronave e limitou o impacto no treinamento do F-35. Eglin inicialmente esperava um atraso de dois meses nas formaturas, mas o processo acelerado permitiu que o programa de treinamento retornasse a uma programação completa em duas semanas e que nove pilotos do F-35 pudessem se formar a tempo, o tenente-coronel David Cochran. Diretor de operações do esquadrão, disse no lançamento.
O aterramento impactou todas os operadores do F-35, incluindo aeronaves do USMC baseadas no Oriente Médio. A Pratt & Whitney disse que estava "adquirindo rapidamente" mais peças durante o aterramento para minimizar o cronograma de reparo. A Força Aérea não disse especificamente quantas aeronaves foram impactadas, mas que a "maioria" das aeronave retornou ao voo logo após o aterramento ser anunciado."...
Apesar da avançada tecnologia, o Gripen é mais simples de manutenir
Acredito que a seguinte sentença, tenha causado todo o problema de interpretação e levado a errônea informação de 36 horas para remoção do motor: ..."O trabalho exigiu que os mantenedores removessem o motor do F-35 para realização do reparo, um processo que demanda 36 horas por jato"..., pois a mesma induz a crer que apenas a remoção seja realizada em 36 horas, quando na verdade todo o processo de remoção, reparo e reinstalação do motor na aeronave demande as 36 horas. 
A remoção do motor do Gripen é mais rápida por não possuir isolamento RAM
Outra informação pertinente a nossa atenção, é o fato que o reparo quando realizado sem a remoção do motor, demanda 24 horas de serviço, algo que nos deixa a crer que o processo de remoção e instalação do motor dure em torno de 12 horas, mas não podemos ser tão simplistas, pois como técnico em motores e conhecedor de logística e um pouco de manutenção, embora não no campo da aviação, cabe ressaltar que o trabalho de substituição de componentes com o motor fora demanda teoricamente menos tempo, devido a facilidade de acesso aos componentes, algo que não podemos precisar devido ao desconhecimento das dimensões do acesso aos componentes identificado pela equipe técnica em Barksdale, bem como a posição do conjunto a ser substituído e a facilidade de trabalho nestas condições. O certo a se ter em mente e concluir, é que a remoção do motor do F-35 não demanda 36 horas como supõe erroneamente a matéria veiculada pela mídia brasileira e tem causado enorme discussão entre os membros de fóruns e grupos de discussão especializado em defesa.
Assim como o Gripen, o Rafale francês apresenta ausência de material RAM
Outro ponto que quero salientar neste artigo, é derrubar uma comparação simplista e sem real fundamento técnico, em que alguns indivíduos comparam que o processo de remoção do motor de uma aeronave stealth de 5ª Geração de alta complexidade técnica como é o caso do F-35, a uma aeronave de 4ª Geração ++ como é o caso por exemplo do SAAB Gripen E/F ou outro caça desta geração, o que leva a uma clara disparidade, uma vez que um demanda muito mais técnica e cuidados no processo que o outro, principalmente se levar em consideração o tipo de motorização e a cobertura RAM (Radiation Absorbent Material) que faz parte do revestimento desta seção da fuselagem.
A tecnologia Stealth cobra seu preço na complexidade da manutenção
É preciso ter perspicácia e atenção ao realizar traduções e interpretações de comunicados e informações inerentes a determinados meios e sistemas, cabendo ao analista de defesa buscar o cruzamento de dados e fontes afim de não cometer erros simples e que podem comprometer de maneira séria a qualidade da informação por este prestada, um cuidado que tem sido a voga do trabalho do GBN News e o Canal Arte da Guerra.
Espero ter conseguido sanar a dúvida de grande parte de nosso público, o qual nos questionou através de inúmeros e-mails e mensagens em nossos canais através do Facebook e Whatsapp. 

Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.


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2 comentários:

  1. Muito bom!!Esperamos assim acabar com os sem noção

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  2. Boas informações, comentários maduros.
    Parabéns!

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