domingo, 9 de setembro de 2018

O Brasil e sua participação na Primeira Guerra Mundial

Pouco se comenta e muitos até mesmo desconhecem que o Brasil atuou na Primeira Guerra Mundial, isso mesmo que acabou de ler, nós estivemos envolvidos nas operações militares na Primeira Guerra Mundial. Seguindo nossa missão de apresentar um conteúdo ímpar e de grande relevância sobre o Brasil e sua história, vamos contar um pouco sobre esse importante capítulo de nossa história que poucos tem conhecimento.

A Primeira Guerra Mundial ocorreu entre 1914 e 1918, tendo levado o mundo a um sangrento conflito travado em trincheiras, mas que também trouxe à cena novos e modernos meios que revolucionariam a guerra. O Brasil também esteve envolvido naquele conflito, conforme você poderá conhecer um pouco conosco através desta matéria.

Vapor "Paraná" afundado pelos alemães
Como ocorrido na Segunda Guerra Mundial, o Brasil se manteve neutro nos primeiros anos do conflito que teve inicio na Europa, principalmente pelos fatores comerciais envolvidos, tendo forte comercio com alemães e britânicos, onde a definição em prol de um dos lados resultaria em perdas a nossa economia. Porém, assim como na Segunda Guerra Mundial, foi no mar que se deu o ponto de guinada rumo a participação brasileira no conflito, deixando aqui claro que a nossa participação na Segunda Guerra começou exatamente com os mesmos motivos que nos levaram anteriormente a Primeira Guerra Mundial, conforme você passa a conhecer agora. Para ser mais exato, foi no dia 5 de abril de 1917 que as coisas começaram a mudar, quando um submarino alemão atacou um mercante brasileiro próximo ao litoral francês, o ataque ao vapor "Paraná", o maior navio mercante brasileiro naquele período, que estava carregado de café, resultou na morte de três brasileiros. Mas esta não seria a única perda brasileira, no dia 20 de maio, outro mercante brasileiro, o "Tijuca", também seria alvo de um ataque alemão em águas francesas, sendo torpedeado por um submarino alemão, este segundo ataque foi o estopim para que o governo brasileiro tomasse posição e determina-se a entrada do Brasil no conflito, e mais uma vez os alemães atacaram nossa marinha mercante, deixando claro sua posição, quando no dia 26 de maio de 1917, o vapor "Lapa" foi atingido por três tiros do canhão disparados por um submarino alemão.

Aviadores Navais brasileiros que atuaram na Primeira Guerra
No dia 1 de junho de 1917 o Brasil declarou guerra aos países da Tríplice Aliança (Alemanha e Império Austro-Húngaro). Após declarar guerra aos alemães e seus aliados, o governo brasileiro confiscou 42 navios alemães que estavam em nossos portos, sob alegação de indenização de guerra, esse grande número de navios arrestados passou a corresponder por um quarto da frota mercante brasileira. Diferente do que ocorreu no conflito seguinte, o Brasil só enviou tropas para os campos de batalha europeus no fim do conflito, não exercendo uma participação vital como a realizada pela FEB. Desta forma, nenhum soldado brasileiro efetivamente foi morto em solo europeu naquele conflito. Porém, a Marinha do Brasil amargou a perda de um de nossos aviadores navais, que integrava o 10º Grupo de Operações da "Royal Air Force"(RAF) em 1918, sofremos ali nossa primeira baixa em combate, com a perda do Ten. Av Eugênio da Silva Possolo.

Naquele momento, a Marinha do Brasil foi a força que teve maior participação, lembrando que à época ainda não existia a Força Aérea Brasileira, tendo a Marinha do Brasil sua aviação naval. Embora tenha tido uma modesta participação no conflito, fora criada uma divisão aval voltada as operações naquele conflito, onde o Ministro, Almirante Alexandrino Faria de Alencar, determinou a organização de da força-tarefa que permitisse a efetiva participação da Marinha brasileira na Primeira Guerra Mundial, através do Aviso Ministerial nº 501, de 30 de janeiro de 1918, era constituída a Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG), composta por várias unidades que formavam a Esquadra brasileira. A DNOG era composta pelos seguintes meios: Cruzadores "Rio Grande do Sul" e "Bahia", os contratorpedeiros "Piauí", "Rio Grande do Norte", "Paraíba" e "Santa Catarina", o Tender "Belmonte" e o Rebocador "Laurindo Pitta", este hoje ainda hoje pertencente a Marinha do Brasil, sendo conservado no Espaço Cultural da Marinha no Rio de Janeiro, onde é possível não apenas conhecer o navio, mas navegar nele em um fantástico passeio pela Baía de Guanabara .

A Esquadra Brasileira foi inicialmente incumbida de patrulhar a área compreendida entre a cidade de Dacar, o arquipélago de São Vicente (Cabo Verde), e Gibraltar na entrada do Mediterrâneo. Subordinada as ordens do Almirantado britânico, representado pelo Almirante Hischcot Grant. Para comandá-la, foi designado um dos oficiais de maior prestígio na época, o Contra-Almirante Pedro Max Fernando Frontin, nomeado em 30 de janeiro de 1918.

A guerra no mar, para o Brasil, teve início no dia 1 de agosto, quando da partida da DNOG do porto do Rio de Janeiro. No dia 3 de agosto de 1918, o navio brasileiro "Maceió" foi torpedeado pelo submarino alemão U-43. Na noite do dia 25 de agosto, na travessia de Freetown para Dacar, a divisão sofreu um ataque lançado por um submarino alemão, mas felizmente o ataque fracassou, sem causar vítimas ou danos aos navios. Naquela ocasião, os torpedos passaram sem causar danos entre os navios brasileiros, que lançaram um contra-ataque com cargas de profundidade, afundando o submarino alemão, sendo a primeira vitória brasileira no combate efetivo contra o inimigo, tendo a marinha real britânica creditado aos brasileiros o afundamento do submarino inimigo.

Entre o comando naval aliado houve intenso debate sobre como as forças brasileiras deveriam ser empregadas, havia uma falta de consenso entre os aliados, com os italianos querendo a esquadra brasileira no Mediterrâneo, enquanto americanos preferiam que trabalhassem em estreita colaboração com suas forças no Atlântico Norte, e os franceses queriam mantê-los na proteção do tráfego marítimo comercial ao longo da costa africana entre Dakar e Gibraltar. Esta hesitação do comando aliado, somados a outros fatores, como a Gripe Espanhola que assolava os marinheiros brasileiros, resultando em baixas maiores que as proporcionadas ela guerra em si, fizeram com que a frota fosse designada ao mediterrâneo somente no início de novembro de 1918, poucos dias antes da Alemanha assinar o armistício que pôs fim a guerra.

O Brasil participou enviando medicamentos e equipes de assistência médica para ajudar os feridos da Tríplice Entente (Reino Unido, França, Rússia e Estados Unidos)..Também participou realizando missões de patrulhamento no Oceano Atlântico, utilizando embarcações militares. E poucos sabe que o Brasil esteve à poucos passos de enviar tropas como foi feito posteriormente na Segunda Guerra Mundial, havia um plano conhecido como "Plano Calógeras".

Em 1918 ficou pronto um estudo confidencial encomendado pelo candidato presidencial eleito naquele ano, Rodrigues Alves. Este estudo, coordenado pelo parlamentar especialista em política externa e assuntos militares João Pandiá Calógeras, no tocante à entrada do Brasil no conflito, recomendava o envio de uma força expedicionária de "considerável tamanho" para lutar na guerra, utilizando-se de todos os meios para fazer desembarcar a tropa em solo francês, onde esta seria treinada e equipada pelos franceses, tudo financiado com empréstimos bancários americanos, que por sua vez seriam quitados pelas compensações impostas às potências derrotadas após a guerra.

Este Plano que só foi tornado público após a morte de seu elaborador e que continha propostas em relação a várias áreas governamentais, no que se referia à participação do país no conflito independia da falta da infraestrutura industrial-militar que caracterizava o Brasil à época.

Com o término do conflito ao final de 1918 e o consequente arquivamento do Plano Calógeras, no tocante ao envolvimento militar do País na guerra, a participação brasileira nas operações terrestres se resumiu ao envio de um corpo de sargentos e oficiais do Exército Brasileiro numa missão preparatória, que havia sido enviada em meados daquele ano sob o comando do General Napoleão Felipe Aché, que tinha por finalidade operar em conjunto com exército francês, coletando informações sobre as modernas técnicas de organização e combate empregadas no front europeu.

Um terço dos oficiais enviados foi promovido por atos de bravura em ação, dentre eles estavam os então, tenente José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, que ao longo da carreira se firmaria como importante ideólogo e reformador do exército brasileiro e o major Tertuliano Potyguara, este último figura controversa e de destaque na campanha do Contestado, que foi ferido na última Batalha do Canal de St. Quentin durante a Ofensiva Meuse-Argonne.



Equipe médica do EB designada para Primeira Guerra
Em 18 de agosto de 1918, uma Missão Médica, chefiada pelo Dr. Nabuco Gouveia e também subordinada ao General Napoleão Aché, foi a última a partir, com 86 médicos. Em 24 de setembro de 1918, a Missão Médica brasileira chegou à terra francesa pelo porto de Marselha, depois de uma viagem acidentada. Uma outra missão já havia sido enviada ao teatro de guerra europeu com a finalidade de instalar um hospital. Integravam a missão 92 médicos, sendo dez militares e os demais mobilizados e convocados nos respectivos postos privativos de oficiais. Além dos médicos, integravam a missão acadêmicos, farmacêuticos, pessoal de apoio administrativo e um pelotão de segurança. A contribuição da missão médica brasileira materializou-se no apoio dado à população francesa contra a epidemia de gripe espanhola que assolava também aquele país, o que garantiu a continuidade do apoio logístico às tropas da frente de combate. A Missão Médica utilizou um convento jesuíta na rue Vaugirard aonde foi instalado o hospital brasileiro que recebeu principalmente soldados franceses. A unidade foi extinta em fevereiro de 1919.

Há muito sobre nossa história que desconhecemos, e através do trabalho realizado pelo GBN News e nosso parceiro "Canal Arte da Guerra", buscamos trazer a tona esse conhecimento, despertando o sentimento de orgulho nacional e principalmente, descortinando páginas de suma importância a nossa história e tradições.

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Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança

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