Esta semana quando eu fazia uma verificação das principais notícias publicadas por agências de notícias, me deparei com uma interessante manchete no site da BBC Brasil: "O campo de concentração criado na Colômbia para prender alemães e japoneses na 2ª Guerra", o título me despertou a atenção, pois, apesar de sempre pesquisar sobre este conflito que sem sombra de dúvidas remodelou o mundo, confesso que desconhecia esse fato. Então, abrir a matéria e encontrei a história que até então eu desconhecia, e que acredito que alguns de nossos leitores também.
Segundo a matéria, o campo de concentração teria sido estabelecido há cerca de 80km da capital Bogotá, chamado de Campo de Concentração de Fusagasugá. Segundo esta relatado, o campo era o destino de alemães, italianos e japoneses que faziam parte da "Black list", uma listagem contendo os nomes de supostas pessoas envolvidas com atividades do Eixo no país, sendo considerados simpatizantes ou apoiadores do Eixo, algo que até os dias de hoje levanta bastante polêmica, pois como todos sabem, uma guerra abre as portas para que muitos excessos venham a ser perpetrados, infelizmente essa é a realidade e isso funciona para ambos os lados em um conflito, claro que, no caso nazista temos um caso claro de genocídio contra todos que não fizesse parte do ideário nazista.
Nós sabemos que a Colômbia rompeu relações com o Eixo após o ataque japonês de Pearl Harbor, tendo repudiado a ação nipônica em 18 de dezembro de 1941, porém, assim como ocorreu com Brasil, a Colômbia só declarou de fato guerra as potências do Eixo em 27 de novembro de 1943, após ter seu terceiro navio mercante vítima dos submarinos alemães.
O interessante, é que ao ler a matéria na BBC Brasil, a qual apesar de rasa, me motivou a pesquisar um pouco mais sobre a situação na qual estava a Colômbia diante daquele conflito mundial. Então me deparei com informações mais detalhadas do frenesi que tomou o país Sul-americano, onde após o repúdio as ações do Eixo, os cidadãos destas nacionalidades sofreram grande perseguição no país, sendo irrestritamente tratados de forma dura pelo governo colombiano. Um caso interessante é que neste período, a Colômbia havia expulsado os cidadãos das nações do Eixo que viviam ao longo do rio Magdalena e em áreas costeiras do país, temendo que os mesmos pudessem apoiar ações do Eixo na costa colombiana, fornecendo apoio e mesmo informações.
Porém, em minha pesquisa identifiquei um erro na informação dada pela BBC Brasil com relação ao campo de concentração de Fusagasugá, o qual segundo a matéria teria operado entre 1944 e 1945, quando na verdade o mesmo teve suas atividades iniciadas em 1943, após o decreto 2643 de junho daquele ano, uma resposta aos ataques alemães contra os navios colombianos, onde a partir dali se proibia o uso público do idioma alemão na Colômbia, imediatamente congelaram os bens dos cidadãos provenientes de países do Eixo, usando os recursos para repor as perdas causadas pelos ataques aos navios mercantes, e foi dado inicio à prisão de mais de 150 pessoas, entre alemães, italianos e japoneses, os quais foram conduzidos para o campo de concentração de Fusagasugá, onde foram utilizadas as instalações do Hotel Sabaneta. Havia também uma casa utilizada para o cárcere destes estrangeiros em Cachipay.
Muito diferente do que ocorria nos campos de concentrações europeus e asiáticos, os prisioneiros dos campos colombianos tinham um confinamento que apresentava tratamento "humano", onde os mesmos não eram submetidos à trabalhos forçados ou sofriam qualquer tipo de tortura, pelo contrário, os registros mostram que os mesmos tinham acesso a piscina, atendimento médico e até podiam realizar exercícios físicos.
O Hotel Sabaneta, foi construído na década de 20, e contava com piscinas, jardins, refeitórios e uma torre de água. Antes de ser convertido em campo de concentração, era destino de viagem escolhido por muitos políticos da época. Os judeus que habitavam na Colômbia, diziam que os prisioneiros alemães desfrutavam de mais conforto do que as vítimas do nazismo, e isso é uma grande verdade.
O interessante é que os prisioneiros pagavam sua estadia no campo de concentração, algo que levou muitas família a falência. Segundo a matéria, alguns dos alemães se dedicaram à construção e à carpintaria, enquanto japoneses melhoraram os jardins e criaram peixes em um riacho. Não faziam nada além de jogar cartas, dormir, limpar e sofrer longos períodos de tédio. Era preciso autorização para ler livros, revistas e jornais. Bebidas alcoólicas eram completamente proibidas, assim como rádios e câmaras fotográficas.
..."As listas negras não foram uma invenção da Colômbia. Em 1941, os Estados Unidos elaborou uma lista de 1,8 mil pessoas e empresas de origem alemã, italiana e japonesa na América Latina, a quem acusava de atuar em benefício direto ou indireto do Eixo.
As listas foram publicadas nos mais importantes jornais do continente, e quem aparecia nelas era afetado imediatamente.
Os EUA afirmaram que não fariam nenhum tipo de negócio com essas empresas ou pessoas e passaram a pressionar os países da região para seguirem seu exemplo.
Também exigiam que os incluídos na lista não chegassem a menos de 100 km de qualquer fronteira norte-americana.
Os Estados Unidos também instalaram campos de concentração em seu território, onde prenderam japoneses e seus descendentes.
Em maior ou menor medida, quase todos os países do continente, com exceção da Argentina, aceitaram aplicar certos vetos aos citados nas listas.
A Colômbia não foi uma exceção, apesar da intensa atividade comercial alemã no país e da crescente influência dos japoneses na agricultura.
Para o historiador Felipe Arias, isso mostra a necessidade histórica dos governos da Colômbia de ter uma boa relação com os Estados Unidos.
"Durante o século 20, os governos colombianos mostraram uma posição coerente em relação aos Estados Unidos, a de um aliado necessário, apesar da separação do Panamá (apoiada pelo país) e do massacre das bananeiras na costa do Caribe (a morte de trabalhadores grevistas da United Fruit Company, em 1928, pelo exército colombiano, também com apoio americano)", afirma Arias.
Ele lembra que muito antes da Segunda Guerra o país já havia adotado o lema "olhar a estrela polar", em referência aos EUA...."
É muito interessante termos o contato com relatos e histórias tão diversas deste período que arrastou o mundo para um período de caos e incertezas, nós brasileiros também tivemos um papel importante neste conflito, embora muito pouco se ensine sobre esta página de nossa história nas salas de aula brasileiras, as quais hoje estão mais preocupadas com temas alternativos e longe de nossas raízes e necessidades educacionais. Nós do GBN News temos o compromisso com a cultura e a história, nos preocupando em preencher algumas lacunas que infelizmente tem crescido nos últimos anos devido a políticas e posicionamentos partidários desconexos com os interesses e valores nacionais brasileiros.
Bom pessoal, espero que tenham gostado desta leitura que fiz sobre a matéria veiculada pela BBC Brasil, e espero que tenha somado ao seu conhecimento e sirva como base para discussões e debates sobre a participação latino americana naquele que foi o mais sangrento conflito da história da humanidade.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança
GBN News - A informação começa aqui
com BBC Brasil
Muito legal, Nicolacci. Desconhecia completamente esse fato, que aconteceu próximo de nós, aqui na América do Sul.
ResponderExcluirExcelente artigo!
Meus parabéns e meu muito obrigado.
Obrigado Willian, nós buscamos trazer uma visão ampla da história mundial e de casos que poucos tem conhecimento, pois o mais precioso tesouro é o saber..
ExcluirUm forte abraço e aguarde que vem muito mais pela frente