Da esq. Wagner Sarmento, André Simões, nosso editor, Maurizio Giuliano e André Zavarize |
Na manhã desta última quinta-feira (16), estivemos na UNIC-Rio (Centro de Informação das Nações Unidas), localizado no centro do Rio de Janeiro, bem próximo ao Palácio Duque de Caxias. A ocasião era o lançamento do livro "Sergio Vieira de Mello, O legado de um herói brasileiro", escrito por Wagner Sarmento e produzido por André Zavarize, um lançamento da Editora ZAZ.
Estavam presentes vários membros do Exército Brasileiro e da Marinha do Brasil, os quais trabalham no CCOPAB (Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil), além de membros da ONU e várias pessoas que acompanharam o lançamento do livro e do documentário produzido pelo André e o Wagner. Dentre os presentes, estavam André Simões, sobrinho de Sergio Vieira de Mello e nosso amigo Major Félix.
O livro que retrata a vida e o trabalho de Sergio Vieira de Mello, apresenta em profundidade o legado deixado pelo nosso herói brasileiro, o qual dedicou 34 anos de sua vida ao trabalho na ONU, tendo estado presente em grande parte dos conflitos que ocorreram na segunda metade do século XX.
Durante o evento entrevistamos o produtor André Zavarize e o escritor Wagner Sarmento, e você confere nossa entrevista sobre o livro que retrata um dos grande heróis brasileiros, sendo marcante esse lançamento as vésperas do décimo quinto ano da morte do diplomata brasileiro, que morreu defendendo a causa humanitária, vítima de um atentado terrorista em 19 de agosto de 2003, quando uma explosão em um dos prédios´da ONU no Iraque vitimou várias pessoas, dentre elas o brasileiro.
Iniciamos nossa conversa, com André Zavarize, que atuou como produtor do projeto:
GBN News: Como surgiu a iniciativa de retratar a vida de Sergio Vieira de Mello, um nome brasileiro tão importante dentro da ONU?
André Zavarize: Olha cinco anos atrás quando nós começamos nossa pesquisa, nós tínhamos dois grandes nomes para iniciar o projeto, um era Ayrton Senna e o outro era o Sergio. Como a memória do Senna ainda é muito viva no dia a dia do brasileiro, nós optamos por escolher o Sergio.
Mas porque a gente escolheu o Sergio? Na pesquisa que a gente já vinha iniciando sobre a sociedade brasileira, identificamos que estávamos um pouco carentes, sofrendo da "síndrome do vira-latas", do brasileiro nunca reconhecer os seus heróis, achar que nunca temos heróis, principalmente dessa parte contemporânea da sociedade. Nós falamos:"Não, nós temos dois grandes heróis, Sergio e Senna...", então optamos por escolher o Sergio.
Então começamos dois anos e meio de pesquisas em escritório, colhendo as informações que a gente conseguia, pegamos todas as referências de tudo que podia envolver o Sergio, depois desse planejamento de dois anos e meio de pesquisas, agora era hora de captar as imagens e as entrevistas in-loco. Foi quando escolhemos alguns países onde sabíamos que tinham muito do trabalho do Sergio Vieira de Mello, aí nós fomos para campo, passamos mais dois anos e meio produzindo o documentário e o livro.
Basicamente foi isso, dois grandes nomes e optamos pelo Sergio, pois sentíamos a necessidade do povo brasileiro entender um pouco mais sobre a obra desse fantástico ser humano, brasileiro e carioca, que trabalhou mais de 34 anos na ONU, atuando em mais de vinte países.
André Zavarize: Obrigado pela pergunta, trabalhar com cultura no Brasil é muito difícil, esse é um projeto proprietário, nós não temos patrocínio de ninguém, por isso ele demorou cinco anos, talvez poderia ter sido concluído em bem menos, só que nós fomos fazendo com nossas próprias forças. O documentário assumimos o lado "guerrilha", onde dois produtores estavam em zonas de conflito e países que passaram por conflitos, assumimos essa identidade, "é isso mesmo, é guerrilha, vamos para cima". Mas desse jeito nós conseguimos chegar em dois nobéis da paz, no secretário da ONU, colher mais de cem entrevistas em todo planeta, foram quase 80 mil quilômetros rodados.
Então a pior parte é difícil de responder, mas a mais dura é que trabalhar com cultura no Brasil é muito difícil. Quando você bate em alguma porta, algum ministério, é sempre a mesma coisa, é sempre um foco diferente, a questão do refugiado por exemplo, a gente escutou muito isso por incrível que pareça, que a questão do refugiado não é problema do Brasil. Como não é problema do Brasil?
Hoje a gente vê essa questão, mas há cinco anos já sabiamos, já tínhamos números da questão dos refugiados da África para o Brasil, do Oriente Médio, a questão do Haiti e hoje a gente vê a Venezuela, nós estivemos lá também. Então, há cinco anos já se registravam um grande índice migratório rumo ao Brasil, principalmente para São Paulo, e as pessoas pensavam assim, desde empresas à governos, não é problema meu, não é problema nosso, e a ONU apontando, a ACNUR apontando, a gente já sabendo que isso é um problema nosso sim, a gente precisa estar estruturado para isso.
Então a maior dificuldade é esse contexto da política, o contexto das pessoas não entenderem a questão dos refugiados, e a questão de produzir cultura no terceiro mundo ainda é muito difícil.
GBN News: Como foi o apoio da ONU a essa iniciativa?
André Zavarize: Foi fantástico, eu poderia aqui falar do Maurizio Giuliano, que trabalhou com Sergio em muitos países, principalmente em Timor Leste, a UNIC-Rio teve um papel fundamental, abriu as portas para gente, nos cedeu muitas entrevistas, muito material, entre fotografias e vídeos. Sem a UNIC-Rio esse projeto poderia demorar quinze ou vinte anos para acontecer.
GBN News: Com relação a tudo que foi visto, todo esse trabalho e esforço para lançar esse livro e o documentário, qual foi o momento mais marcante desse projeto?
André Zavarize: Eu acho que foi o Timor Leste, que é o "case" de sucesso da ONU, e quando a gente vai para um pais que, quando o Sergio chegou lá, era "terra arrasada".
A Indonésia quando retirou as tropas do Timor, deixou um país realmente em ruínas, deixando aquilo lá "terra arrasada". Então a gente ir lá depois do trabalho do Sergio e ver um país em reconstrução, com maior índice de democracia de toda Ásia, é realmente emocionante. Quando você vai em uma praça, naquele país humilde, ver as pessoas discutindo política, jovens, adolescentes, as pessoas mais velhas, isso é muito lindo. E saber que todo timorense que você perguntar, do mais simples ao com mais estudo, reconhecem o nome de Sergio Vieira de Mello e sabem da importância dele para o Timor.
A Indonésia quando retirou as tropas do Timor, deixou um país realmente em ruínas, deixando aquilo lá "terra arrasada". Então a gente ir lá depois do trabalho do Sergio e ver um país em reconstrução, com maior índice de democracia de toda Ásia, é realmente emocionante. Quando você vai em uma praça, naquele país humilde, ver as pessoas discutindo política, jovens, adolescentes, as pessoas mais velhas, isso é muito lindo. E saber que todo timorense que você perguntar, do mais simples ao com mais estudo, reconhecem o nome de Sergio Vieira de Mello e sabem da importância dele para o Timor.
Estar no Timor e você vê isso, quando você bate numa porta, "ah é Sergio Vieira de Mello...", as pessoas abrem a porta para nos receber, desde o ex-primeiro ministro, ao prêmio nobel da paz, José Ramos Horta, que foram fantásticos com a gente, é grandioso, vale a pena enfrentar momentos de adversidades para estar tendo momentos como agora.
GBN News: Agora com o lançamento do livro, o que vocês esperam, e quais os projetos futuros?
André Zavarize: Olha, o que a gente espera agora é um pouco mais de compreensão da sociedade brasileira em relação ao trabalho do Sergio, esse é o primeiro ponto. O que pretendemos agora é que todo mundo consiga compreender que tínhamos um grande nome que trabalhava com a questão dos refugiados, defendendo essa bandeira, e hoje o legado dele persiste em todas as ONGs que trabalham com refugiados. O Sergio é referência nas forças armadas como você vai ver no documentário, o Cel. Machado fala maravilhosamente bem, "Onde estiver um capacete azul brasileiro, o legado do Sergio estará presente".Então a gente espera com toda humildade que o povo brasileiro compreenda um pouco mais da trajetória desse homem, e compreenda um pouco mais sobre o trabalho dele e sua influência no mundo.
GBN News: O nosso leitor querendo adquirir o livro, onde vai estar disponibilizado para compra?
André Zavarize: Olha, já disponibilizamos no site da editora Olhares, onde poderá ser feita essa compra on-line, e as livrarias estão começando a fazer os pedidos.
GBN News: Uma última palavra para nosso público
André Zavarize: Então, estamos tentando mostrar um pouco da cultura, um pouco dos projetos brasileiros, feitos por brasileiros para brasileiros, e isso hoje é o mais difícil até do nosso povo entender. O povo acha muito bonito o que é feito lá fora, mas o povo agora precisa achar um pouco bonito e defender o que é nosso.
Após a entrevista com produtor André Zavarize, fui convidado a tomar lugar no auditório, onde foi realizada a cerimonia de lançamento. O evento foi iniciado com um minuto de silêncio em homenagem as vitimas do ataque que resultou na morte de Sergio Vieira de Mello. Após o minuto de silêncio, teve a palavra Maurizio Giuliano, diretor da UNIC-Rio, membro da ONU, que trabalhou com Sergio em várias ocasiões, em especial no Timor Leste. Ainda participou da homenagem o nobel da paz, José Ramos Horta, que através de um vídeo prestou sua homenagem ao diplomata brasileiro e comentou sobre a importância do livro, que trás um pouco sobre a vida e a importância do trabalho do Sergio para o Timor Leste.
André Zavarize e Wagner Sarmento fizeram um breve bate papo, onde falaram um pouco sobre o desafio que foi produzir o livro e o documentário sobre esse grande herói brasileiro chamado Sergio Vieira de Mello.
Na sequência do evento, nos foi apresentado o documentário, o qual trás um trabalho primoroso, revelando particularidades e desafios que o Sergio enfrentou durante sua carreira de mais de 34 anos na ONU, onde atuou em várias partes do mundo, e os produtores realizaram uma verdadeira jornada, como dito pelo André em sua entrevista acima, foram mais de 80 mil quilômetros, centenas de entrevistas e depoimentos, foi um verdadeiro mergulho na biografia e obra do nosso herói, trazendo ao público um pouco da história deste brasileiro que é pouco conhecida no Brasil, levantando também a questão dos refugiados e o papel do Sergio, que atuou de maneira expressiva nesse campo.
Após o emocionante documentário, teve inicio a sessão de autógrafos e o coquetel, onde pudemos conversar um pouco com André Simões, sobrinho do Sergio Vieira de Mello, reencontrar nosso amigo do Exército Brasileiro, o Major Félix, que atuou por um longo período no CCOPAB e finalmente entrevistar o escritor Wagner Sarmento.
GBN News: Como foi trabalhar nesse projeto e escrever sobre a vida e o trabalho de Sergio Vieira de Mello?
Wagner Sarmento: Bom, antes de mais nada, foi uma honra gigantesca, porque eu tenho apenas 33 anos, tenho pouco mais de dez anos de jornalismo, sou relativamente jovem na profissão, e escrever sobre um personagem gigantesco como é o Sergio, é uma responsabilidade e um orgulho muito grande.
Foi difícil, porque falar sobre o Sergio, é também falar sobre os principais conflitos do mundo na segunda metade do século passado. O Sergio esteve envolvido nas mais diversas crises. Esteve na Europa na época da desintegração da União Soviética, a ex-Iugoslávia, os conflitos africanos, do oriente médio e dos conflitos da ásia. Enfim, o Sergio esteve presente em todos eles, então era estudar a história do Sergio e a história contemporânea do mundo. Esse foi um desafio muito grande, foi mais que um resgate biográfico, tentamos dar uma atualizada na história dele, já existem várias biografias sobre ele, e o que queríamos era tornar esse obra atual, para que as pessoas não saibam só quem foi o Sergio, mas como o nome dele e o legado dele, sua herança estão presentes hoje nos lugares onde ele atuou.
GBN News: Durante o trabalho de escrever sobre o Sergio Vieira de Mello, o que mais te impactou e chamou sua atenção na vida e trabalho do Sergio?
Wagner Sarmento: O Sergio era uma pessoa extremamente carismática, acho que o carisma que ele tinha, e o carisma você não aprende, você tem ou você não tem, e esse talvez seja o ponto de partida para tudo, e fez com que ele galgasse os degraus da ONU muito rápido. Ele também era extremante habilidoso com as palavras, muito persuasivo, era alguém que estava sempre aberto ao diálogo, e teve uma formação filosófica que ajudava muito na base teórica e o argumento dele, mas ele também sabia ser muito pragmático quando necessário, e tudo isso ajudou a forjar o Alto-Comissário dos direitos humanos que ele se tornou. Dentro de tudo que a gente pode conhecer da trajetória do Sergio, com certeza, o que mais marcou, foi a experiência dele em Timor Leste.
Quando ele chegou em Timor Leste em 1999, ele encontrou um pais que era terra arrasada, mais de 90% da infraestrutura do país havia sido destruída pelos militares e milicianos da Indonésia, e em pouco mais de dois anos e meio que ele permaneceu lá, conseguiu entregar um país pronto para independência e pronto para democracia. Então era um país que não tinha funcionalismo público, que não tinha forças armadas, polícia, universidades e com suas escolas totalmente destruídas, e ele ajudou a erguer tudo isso.
Então ir hoje, quase vinte anos após sua passagem por lá, e encontrar no Timor Leste um país altivo, um país que ostenta os maiores índices de democracia naquela região e um país reconstruído, apesar de ser um país pobre que ainda tem muitos desafios pela frente. Mas se formos imaginar que pouco mais de quinze anos atrás não existia nada, que o Timor Leste começou do zero, é muito emocionante para nós.
Então ir hoje, quase vinte anos após sua passagem por lá, e encontrar no Timor Leste um país altivo, um país que ostenta os maiores índices de democracia naquela região e um país reconstruído, apesar de ser um país pobre que ainda tem muitos desafios pela frente. Mas se formos imaginar que pouco mais de quinze anos atrás não existia nada, que o Timor Leste começou do zero, é muito emocionante para nós.
GBN News: Agora com o livro pronto e sendo lançado, como você vê a importância desse trabalho aqui no Brasil?
Wagner Sarmento: O brasileiro conhece muito pouco a trajetória do Sergio, ele é reverenciado e reconhecido no mundo inteiro, mas ele é muito pouco falado e lembrado no Brasil. Então o principal objetivo nosso, é que o nome do Sergio seja reverberado nacionalmente. Nosso país esta muito carente de boas referências, o Sergio foi alguém que precisa ser lembrado. Vivemos um momento em que o mundo nunca teve tantos refugiados como agora, os relatórios do Alto Comissariado da ONU desde a Segunda Guerra mundial mostra isso, um número sem precedentes de pessoas que precisaram se deslocar por conta de perseguições, por conta de conflitos e guerras. Isso o Brasil também esta respirando com a chegada cada vez maior de venezuelanos. Então isso torna cada vez mais relevante se lembrar de pessoas como o Sergio.
GBN News: Uma mensagem para nossos leitores
Wagner Sarmento: A mensagem é a inicial, a mensagem que estamos repetindo em todos nossos discursos e na nossa obra, que é "Sergio Vive", a gente tem que manter a chama dele acesa, e outra é uma frase que era bastante usada por ele: " O futuro precisa ser inventado", então isso que a gente precisa, inventar um futuro que seja melhor que o presente que a gente esta vivendo.
Quero deixar aqui aos nossos leitores a indicação do livro: "Sergio Vieira de Mello, o legado de um herói brasileiro", uma excelente leitura, de uma relevância imensa para compreender um pouco sobre um dos nossos muitos heróis, e dar a devida atenção a questões tão importantes quanto a crise de refugiados.
Em breve publicaremos um especial sobre Sergio Vieira de Mello, e você poderá em breve conferir a nossa cobertura em vídeo do lançamento do livro em nosso canal GBN News Channel e com nosso parceiro Canal Arte da Guerra. Iremos disponibilizar na próxima semana o link na barra lateral para que os leitores interessados possamos adquirir o livro com mais facilidade.
Deixo aqui meu agradecimento ao André Zavarize e ao Wagner Sarmento por nos conceder a entrevista, e um grande abraço a toda equipe do CCOPAB e da UNIC-Rio, além de enviar um abraço a galera do DGEI da UFRJ.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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