Há poucos dias um renomado programa televisivo brasileiro, apresentou uma matéria critica ao emprego no conflito que se dá no Iêmen de bombas do tipo "Cluster" de fabricação brasileira. Mas o que são e como funciona este tipo de armamento?
Os artefatos explosivos do tipo "Cluster", podem ser lançados através de plataformas terrestres ou aeronaves, sendo no primeiro tipo utilizados foguetes, e no segundo podem ser lançados através de bombas ou mísseis. A diferença entre a "Cluster" e os demais artefatos, reside na capacidade da mesma de empregar submunições de variados tipos, os quais são liberados sobre o alvo, ampliando o poder de saturação sobre a área alvo, sendo capaz de causar enormes danos á viaturas, infraestruturas e ocasionar pesadas baixas nas tropas inimigas.
A "Cluster" possui uma vasta gama de opções de submunições para emprego, sendo definidas de acordo com o emprego tático da mesma, sendo o mais comum as munições anti-pessoal, seguidas das munições anti-carro. Após ser lançada contra o alvo, o artefato "Cluster" se abre, liberando suas submunições que são "semeados" sobre o inimigo e suas tropas, os fragmentos resultantes da detonação das submunições no solo são lançados a alta velocidade em todas as direções, provocando danos a estruturas e veículos, além de ferimentos graves, muitos dos quais mortais no grande raio do ponto de lançamento, cobrindo uma grande área. Seu efeito sobre o inimigo é devastador: além de deixar vários mortos e feridos, o efeito psicológico do ataque empregando armamento tipo cluster é avassalador, causando pânico generalizado entre as fileiras inimigas.
A vantagem/desvantagem do emprego deste armamento esta no fato de que uma pequena parcela dos explosivos "semeados" pela Cluster não explodem inicialmente no primeiro momento, o que trás vantagem no emprego tático, minando a área alvo, se tornando um obstáculo ao emprego da força inimiga no local, sendo extremamente vantajoso no caso de ataque á instalações militares, em especial pistas de pouso e rodovias vitais ao deslocamento de tropas e material de apoio. Porém, esta mesma vantagem se torna um imensurável revés do ponto de vista humanitário, causando grande numero de baixas entre a população civil que habita e/ou transita na área atingida por este artefato, sendo considerados "danos colaterais", onde as munições não detonadas podem ser consideradas uma espécie de mina terrestre. A médio prazo, podem causar ferimentos e mortes entre as populações civis.
Há uma grande discussão com relação ao emprego deste tipo de armamento, sendo o mesmo alvo de pesadas críticas, já tendo sido elaborado um acordo entre vários países para abolir a fabricação e emprego deste tipo de armamento. Sendo este um dos focos da matéria tendenciosa e sem qualquer embasamento técnico-tático realizado pelo "Fantástico" da Rede Globo, o qual aponta as munições do tipo "Cluster" exportadas pela indústria brasileira de defesa á Arábia Saudita, como sendo responsáveis por várias baixas civis no Iêmen, o que é uma postura incorreta de se adotar, uma vez que, não somos o único produtor deste tipo de armamento, muito menos o único fornecedor dos contendores naquele conflito, com nossas exportações em armas no geral aquela nação árabe sendo inferior à 1% das aquisições militares daquela nação, lembrando que o mesmo investi vários bilhões em todos os tipos de armamento, e diversificados fornecedores.
Um ponto que cabe a esse jornalista ressaltar, é que o sistema Astros fabricado pela brasileira Avibrás, conta com o mais seguro dispositivo de autodestruição das munições cluster lançadas pelo seu sistema de foguetes, cumprindo o disposto nas legislações internacionais e contribuindo de maneira objetiva para redução do "dano colateral" ocasionado pelo emprego deste tipo de arma.
O Brasil é apenas um dos produtores deste tipo de munições, ocupando uma tímida posição nas exportações mundiais deste tipo de arma, contando com a mesma no inventário de nossas forças armadas. Com relação a Convenção internacional, o Brasil se recusou a ser um dos signatários, porém, permanece como observador, tendo em vista principalmente o interesse nacional e a importância estratégica que representa este tipo de armamento à nossa nação, principalmente levando em consideração a nossa composição territorial, a qual apresenta em caso de necessidade estratégica opção de emprego seguro deste tipo de armamento contra hipotéticos agressores.
Além do Brasil, existem cerca de 83 nações que se recusaram á abrir mão das munições do tipo "Cluster", dentre estas figuram potencias como Estados Unidos, Rússia, Israel e China. Temos que ter a seguinte compreensão, nós brasileiros não temos responsabilidade quanto ao emprego e a doutrina que serão utilizadas pelos operadores dos produtos por nós exportados, nossa responsabilidade esta ligada a doutrina de emprego do nosso arsenal. Pois não vai mudar o cenário mundial deixarmos de produzir e exportar determinado tipo de armamento, pelo contrário, vamos deixar de participar de um rentável nicho do mercado e perder investimento no desenvolvimento tecnológico nacional de defesa.
Se formos considerar a falácia da mídia brasileira, então que se proíba a produção de munição para fuzis, pois ao redor do globo são a maior responsável por vitimar civis, sendo uma verdadeira arma de "destruição em massa", vitimando milhões ao ano. O problema não estão nas armas que produzimos, mas nas pessoas que as estão utilizando, e não nos cabe pagar a conta da doutrina alheia, principalmente se levarmos em consideração o vasto mercado a disposição dos mesmos para adquirir todo tipo de armas, seja legalmente ou via mercado negro. É aquele velho dito: "Armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas", e vou além, se não for com bombas e armas modernas, serão com paus e pedras, como registra a história da evolução humana.
Nosso parceiro, Robinson Farinazzo, realizou uma abordagem direta e bem fundamentada sobre a questão relacionado as bombas "Cluster", vale muito a pena dar uma conferida e absorver um pouco mais sobre este tema que tem sido tratado de maneira absurdamente leviana e tendenciosa pelo mídia brasileira, a qual é incapaz de produzir material imparcial e que agregue real valor e conteúdo a nossa sociedade. Clique no título: "As bombas Cluster brasileiras e o fracasso saudita no Iêmen."
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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