terça-feira, 28 de agosto de 2018

Especial PHM "Atlântico" - "Ataque contínuo e agressivo, Atlântico!!!"

Nossa estadia à bordo do PHM "Atlântico" nos possibilitou conhecer mais profundamente o novo capitânia da esquadra brasileira. Nesta ocasião, conhecemos o Centro de Operações de Combate (COC), a área mais sensível do navio, onde estão reunidos os sistemas que recebem todas as informações oriundas dos sensores e radares do navio, fornecendo uma visão tática, onde é realizada toda parte de comando e controle das operações. Além disso, do COC é possível comandar todo navio, bem como ser utilizado pelo Estado-Maior da Esquadra para comandar todas operações de uma força tarefa, contando com toda infraestrutura para exercer o papel de navio-capitânia. Toda informação e controle das operações aéreas embarcadas partem desta sala, exercendo uma grande importância tática, com capacidade de monitorar um grande número de contatos que entrem na zona de alcance de seu sistema radar, o qual esta amparado pelo ARTISAN 3D 997, o primeiro radar do tipo operado pela Marinha do Brasil, fornecendo uma visão tática sem precedentes, um verdadeiro "sentinela" que acompanha tudo que estiver num raio de cerca de 300km!

Conferimos em nossa visita ao COC do PHM "Atlântico" o funcionamento dos consoles da suíte eletrônica do sistema de combate do navio em operação, uma oportunidade rara de acompanhar o trabalho destes profissionais e conhecer como funciona a operação do sistema. 

Alguns de nossos leitores pediram para abordarmos um pouco mais sobre as capacidades do ARTISAN 3D 997, sendo um sistema moderno e de grande eficiência, o qual confere uma capacidade ímpar ao navio, quer seja na coordenação de suas operações aéreas, quer seja no controle do espaço aéreo e defesa da esquadra. O radar é capaz de acompanhar contatos dos mais diversos tipos e dimensões, voando a velocidades que podem chegar a Mach 3, desde simples drones, aeronaves de asa fixa e rotativa e mísseis de diversos tipos e classes.

O ARTISAN, sigla de Advanced Radar Target Indication Situational Awareness and Navigationé um radar 3D que confere a capacidade de vigilância aérea e de superfície de médio alcance. O sistema foi desenvolvido pela britânica BAE Systems afim de atender a demanda da Royal Navy, que passou a contar com essa nova tecnologia a partir de janeiro de 2012, já tendo integrado em 11 fragatas Type-23 e no HMS "Bulwark" e no Navio-Aeródromo HMS "Queen Elizabeth", além do PHM "Atlântico". Esta previsto equipar também as duas outras fragatas Type-23 e o segundo NAe britânico, o HMS "Prince of Wales" , sendo ainda avaliado se será ou não integrado ao HMS "Albion".

O ARTISAN 3D type 997 trabalha a 30 RPM e segundo dados fornecidos é capaz de rastrear mais de 900 alvos ao mesmo tempo. A BAE Systems afirma que a Artisan é capaz de rastrear contatos do tamanho de pequenas aves ou bolas de tênis voando a Mach 3 com "desempenho incomparável de detecção e medidas de proteção eletrônica contra os mais complexos jammers". Sendo um sistema sem comparativos no Atlântico Sul.

Além do COC, conhecemos a estrutura de gestão do Destacamento Aéreo Embarcado (DAE), onde obtivemos mais informações sobre a Vistoria de Segurança da Aviação (VSA), processo no qual são realizados uma série de pousos e decolagens para determinar os envelopes de voo de cada aeronave que deverá operar embarcada. A rotina de operações aéreas envolve um alto grau de coordenação entre os diversos departamentos que compõe a dotação do navio, onde existem regras e normas rigorosas que visam garantir a segurança das operações à bordo. 

O encarregado pelo planejamento e controle das operações aéreas é o Oficial de Operações Aéreas, no caso do PHM "Atlântico" essa função é exercida pelo Capitão-de-Corveta Munaretto, experiente piloto de SH-16 "Seahawk" que nos concedeu uma entrevista, esclarecendo um pouco sobre a importância da coordenação das operações aéreas com todos os departamentos que integram o navio. Esta seção esta subordinada ao "Departamento de Operações", sendo responsável pelo planejamento e controle de todas operações aéreas programadas para o navio. Para cumprir com essa tarefa, a seção recebe informações dos diversos esquadrões que integram o DAE, com os planejamentos dos voos e missões que estão previstos para ser executados. A partir dessas informações é estabelecida uma consolidação do planejamento que resulta no "programa diário de voo", onde consta todos os pousos e decolagens previstos naquele dia, bem como as missões que serão executadas por cada uma dessas aeronaves. Em dia normal são lançadas aproximadamente 30 aeronaves, capazes de realizar as mais diversas missões. Esse "programa diário de voo" é distribuído em todos os esquadrões embarcados e as seções do navio, sendo um documento de grande importância para a operação do navio de forma segura, o que deixa toda tripulação ciente do que se passa à bordo. Se eventualmente ocorrer alguma alteração na programação, essa é imediatamente comunicada ao Oficial de Operações Aéreas, que irá gerar um novo "programa diário de voo" que deverá ser encaminhado as demais seções retificando o anterior emitido.

Um ponto importante da rotina de voos a bordo de um navio como o "Atlântico", diz respeito aos procedimentos adotados para operações aéreas, onde aproximadamente uma hora e meia antes do inicio das operações propriamente ditas, são ocupados os postos de voo, condição na qual o navio e toda sua tripulação se prepara para iniciar a sua rotina de operações aéreas, essa preparação não envolve apenas o pessoal ligado diretamente as aeronaves, mas todos os setores que integram o navio realizam procedimentos e guarnecem de acordo com o previsto pelo plano de segurança de operação do navio. Só após todas as estações do navio estarem preparadas para o lançamento e recolhimento das aeronaves é que tem inicio as atividades de voo, seguindo sempre a programação divulgada pelo "programa diário de voo".

Para termos uma ideia de como é composta a operação de um porta-helicópteros multipropósito, é exigido a coordenação entre diversas equipes para que possam ser conduzidas as operações de forma segura e eficiente, e para isso o "Atlântico" conta com três homens trabalhando continuamente no departamento de operações aéreas, já no convoo o numero de envolvidos nas operações é determinado de acordo com o número de aeronaves em operações, lembrando que o "Atlântico" é capaz de operar até seis aeronaves simultaneamente, além do guarnecimento de diversas estações em todo navio.

A operação de aeronaves embarcadas é algo muito complexo, que exige grande conhecimento das características específicas de cada tipo operado á bordo, onde é seguido os procedimentos determinados pelo envelope de operação de cada aeronave, sendo este envelope estabelecido durante a VSA, quando são verificadas as condições ideais para operação segura de cada vetor. Conforme nos foi dito pelo CC Munaretto, aeronaves menores possuem um envelope de lançamento e recolhimento muito restrito, demandando em determinadas ocasiões que o navio manobre para que seja alcançada as condições de segurança do voo, sendo a direção do vento e sua velocidade um dos fatores mais importantes nessa equação. Porém, aeronaves de maior porte e potência, como os SH-16 e UH-15, apresentam um envelope muito mais flexível devido a potencia e estabilidade destas aeronaves em condições mais severas.

O convoo do PHM "Atlântico" esta preparado para receber até sete aeronaves, as quais podem ser "spotadas", além do convoo, o navio conta com um amplo hangar, capaz de receber uma variada combinação de aeronaves, as quais podem acessar o mesmo através de dois elevadores. No total o PHM "Atlântico" pode receber um DAE (Destacamento Aéreo Embarcado) com até 17 aeronaves. Lembrando que as aeronaves pertencem aos esquadrões, sendo embarcadas de acordo com as missões que se pretende executar a partir do "Atlântico", onde a Marinha do Brasil dispõe de um diversificado leque de aeronaves, sendo capaz de cumprir as mais variadas missões.

O PHM "Atlântico" cumpriu a primeira fase do VSA, restando ainda cumprir algumas etapas para certificação das capacidades de operações aéreas, onde no primeiro momento foi certificada a operação de aeronaves sob condições normais de dia, agora o "Atlântico" para passara por uma segunda fase, onde é prevista a certificação da capacidade de lançamento e recolhimento de aeronaves em simultâneo, durante nossa estadia à bordo, o "Atlântico" estava já com capacidade de operar duas aeronaves em simultâneo, após obter essa capacidade de operar com até seis aeronaves simultaneamente começará a certificação das capacidades de operações noturnas e sob condições meteorológicas adversas, conhecidas como IFR/IMC, seguindo o mesmo processo de VSA executado no NDM "Bahia", o qual já apresenta plena capacidade de realizar operações noturnas, dentro é claro do envelope de lançamento e recuperação que determina os procedimentos e as limitações existentes neste tipo complexo de operações. 

Sobre as capacidades IFR/IMC, conversamos com o CC Costa, Chefe de Operações do Esquadrão HS-1 e piloto de SH-16, que nos explicou a complexidade e as necessidades de se realizar um estudo profundo para se estabelecer os envelopes de lançamento e recuperação de cada aeronave, sendo dentre as condições a mais restritiva e complexa, exigindo muita atenção e observância dos procedimentos para uma operação segura e eficiente, tida como a mais crítica das condições de voo do programa de capacitação do navio, estando no auge do processo de certificação, principalmente devido a enorme complexidade e a necessidade de se dominar a pleno todas nuances dos envelopes de voo de cada aeronave nas mais diversas condições, afim de se obter a certificação Full IFR/IMC. Os degraus para se alcançar esta capacidade plena passam por todos as seções envolvidas nas operações de voo, desde a manutenção, passando pelas equipes do convoo, controle de trafego aéreo e tripulações das aeronaves, é algo que exige muito do conjunto como um todo. Segundo as expectativas, essa plena capacidade Full IFR/IMC pode ser alcançada até meados de 2019.

Foto: Luiz Gomes / GBN News
Como todos sabem, o PHM "Atlântico" passou por um intenso processo de modernizações há cerca de quatro anos, quando inclusive passou a contar com o moderno radar ARTISAN 3D Type 997, dentre os sistemas, o navio passou a contar com novos consoles e sistema de combate, custando aos britânicos cerca de 64 milhões libras. Todo o processo pelo qual passou o navio, garantiu ao mesmo um aspecto de novo, todos os corredores e instalações que acessamos tinham aspecto de ter sido recentemente construído, tamanho o grau de conservação. Grande parte desse trabalho foi executado pela Babcock, empresa que acompanhou o navio desde sua construção até a última manutenção prevista que foi realizada ainda durante o processo de transferência da Royal Navy à Marinha do Brasil. No quesito manutenção, o navio apresenta grande facilidade de obtenção de peças de reposição, tendo sido um dos pontos estudados pela Diretoria Geral de Material da Marinha (DGMM), a qual chegou a consultar diversos fornecedores para checar a disponibilidade de peças e a logística necessária para manter o navio operacional. 

Dentre os fornecedores consultados, soubemos durante a última edição da Marintech South América, evento que o GBN News cobriu, que a MAN foi procurada pela Marinha do Brasil e questionada sobre a disponibilidade de reposição e custos para os motores empregados na propulsão do navio, a qual confirmou a grande disponibilidade de peças para reposição e as facilidades inerentes a manutenção dos mesmos no Brasil, a qual deverá ser executada pela empresa, detentora de todo know-how nestes motores após a incorporação da fabricante destes motores.

O PHM "Atlântico" faz jus ao seu lema: "Ataque contínuo e agressivo", tendo em vista a capacidade de cumprir uma vasta gama de missões, as quais serão abordadas em breve na continuidade de nossa cobertura sobre a chegada do PHM "Atlântico" ao Brasil.


Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança

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