sábado, 7 de julho de 2018

Submarino nuclear argentino?

Nos últimos dias, tomaram as mídias especializadas o anúncio do interesse argentino de construir um submarino nuclear. Segundo as informações tornadas públicas, a Argentina teria a ambição de utilizar o casco do submarino TR-1700 inacabado, batizado "ARA Santa Fé", o qual esta há anos abandonado, integrando ao mesmo um reator nuclear compacto.

A notícia levanta sérias dúvidas quanto a capacidade dos nossos vizinhos de conseguir alcançar seu objetivo, principalmente se analisarmos o panorama econômico em que se encontra o país, o estado de obsolescência em que se encontram suas forças armadas. Se considerarmos a perda da capacidade de guerra submarina, onde a Armada da República Argentina perdeu há quase um ano o submarino "ARA San Juan", vitimando toda sua tripulação, além de estar com o restante de seus meios fora de operação atualmente.

O projeto prevê no primeiro momento financiar os estudos de viabilidade, o que deverá consumir inicialmente 5 milhões de dólares, com prazo de três anos para se iniciar a fase de execução do projeto propriamente dito, o que pode significar um investimento que superará facilmente a casa dos 500 milhões de dólares, mesmo que seja aproveitado o casco abandonado do TR-1700 remanescente inacabado.

Vamos analisar superficialmente os desafios que os argentinos terão pela frente:

Em primeiro lugar temos de considerar o enorme risco financeiro envolvido, com o país atravessando um difícil momento econômico, onde dificilmente terá qualquer linha de financiamento no mercado internacional, o que pode levar a um agravamento na situação das suas forças armadas, as quais já possuem um orçamento extremamente baixo e longe de atender suas necessidades mínimas. 

Segundo desafio passa pelas suas capacidades técnicas, onde o programa demandará não apenas o investimento pesado em infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento, como também de corpo técnico capacitado a dar prosseguimento ao programa, pois muito se perdeu da capacidade técnico-científica que o país já possuiu nestas duas décadas. Este com certeza é um ponto sensível a ser considerado e que eleva o risco do programa demandar um investimento muito superior ao que se esta programando inicialmente.

O terceiro ponto que tem que ser avaliado, trata das condições em que se encontra o casco do "ARA Santa Fé", além de um meticuloso estudo visando adaptar aquele casco para receber um reator nuclear, o que não é tão simples quanto muitos pensam, há muitas equações a serem consideradas e o emprego da propulsão nuclear requer dezenas de sistemas e subsistemas para que possa ser operado com segurança, não são poucos os casos envolvendo incidentes e mesmo acidentes nos primórdios do emprego desta propulsão por potências como a antiga União Soviética e mesmo os EUA.

Ainda considerando o terceiro ponto, há a necessidade de substituição de muitos dos sistemas que foram integrados ao casco do "Santa Fé", o que representa um grande investimento não só em compra de tecnologia, como encontrar no mercado que queira fornecer estes sistemas, sabendo que os mesmos serão destinados á construção de um submarino nuclear.

Os argentinos terão um enorme desafio, dificilmente irão conseguir colocar no mar o seu almejado submarino nuclear em 2025. Não é preciso ir muito longe, basta compararmos com os desafios que nós brasileiros enfrentamos para desenvolver nosso primeiro submarino nuclear.

Submarino nuclear não é uma arma para países que não possuem uma economia sustentável e robusta, é um meio que demanda bilhões de investimento, pois o desafio não é apenas sua construção, mas manter todo seu ciclo operacional, sendo uma arma que representa não apenas uma capacidade estratégica ímpar, mas que representa um custo proibitivo para uma marinha que não possui um orçamento que comporte este tipo de embarcação.

A arma submarina nuclear requer o investimento de bilhões, fazendo com que apenas um seleto e restrito grupo opere este tipo de embarcações, sendo eles: EUA, Rússia, China, Reino Unido, França, Índia e em breve o Brasil.

Acredito que a Argentina deveria colocar os pés no chão e buscar equalizar seu orçamento com vista a conseguir atingir uma capacidade adequada as suas forças armadas, focando investir nos meios que são urgentes para manter a capacidade de garantir sua soberania e o controle de seu território. Não adiante olhar para nós brasileiros que estamos a poucos passos de constituir uma respeitável esquadra submarina e tentar nos acompanhar, principalmente pelo fato de estarmos vivendo realidades econômicas completamente diferentes, mesmo que nós estejamos diante de uma crise econômica, estamos anos luz a frente dos nossos vizinhos. Não adianta dar um passo muito maior que as pernas, vejo que há setores muito mais importantes da defesa argentina para receber investimentos, que o desenvolvimento de um submarino nuclear, o que poderá mergulhar nossos vizinhos num abismo tão profundo quanto o que repousa o "ARA San Juan".

  
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.



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