A aeronave foi abatido
na Ásia Central na década de 1980 e seu piloto estava desaparecido desde então. Mas, recentemente, o homem foi encontrado vivo e quer voltar para sua terra natal.
Um veterano da
guerra no Afeganistão cuja aeronave foi abatida em 1987 e estava declaradamente
desaparecido, enviou um sinal de vida recentemente, informou o presidente da
União de Paraquedistas Russos, coronel-geral Valeri Vostrotin.
Embora a
identidade do homem não tenha sido divulgada, por confidencialidade, sabe-se
que ele declarou o desejo de voltar para seu país de origem, segundo
Viatcheslav Kalinin, vice-diretor da organização de veteranos Irmãos do
Combate.
“Atualmente, nossa
organização de veteranos, em total colaboração com as estruturas diplomáticas
afegãs, está trabalhando na identificação desse ex-soldado soviético, bem como
em seu eventual retorno ao país de origem. Segundo as informações que temos, ele quer vir
para casa”, disse Kalinin à agência de notícias RIA Novosti.
Também é possível
que o piloto esteja no Paquistão, uma vez que todos os campos de prisioneiros
soviéticos ficavam neste país no momento dos acontecimentos.
“Como dizem os
veteranos do conflito, o fato do piloto ter sobrevivido ao acidente de avião,
abatido pelos mujahidin, é surpreendente. Mas também é surpreendente que
durante décadas não houvesse informações sobre ele”, acrescentou Kalinin.
Identidade (nem
tão) anônima
Embora não se
saiba exatamente a identidade do piloto, a maioria dos veículos de comunicação
russos acreditam se tratar do primeiro-tenente Serguêi Panteliuk. “Segundo
nossas fontes, havia apenas um piloto desaparecido no Afeganistão em 1987”,
escreveu o jornal Kommersant. “É o primeiro-tenente Serguêi Panteliuk.”
Nascido em 1962, na pequena cidade de
Zernogrado (na região de Rostov, a 1.000 quilômetros ao sul de Moscou),
Panteliuk era um cidadão soviético comum. Colegas de classe o descreviam como
“um romântico tímido”, que sonhava com aviões e se matriculou na escola de
aviação especializada em reconhecimento aéreo. Serviu pela primeira vez na
Geórgia, mas, em 1987 foi transferido para o Afeganistão, onde os soldados
soviéticos vinham lutando desde 1979, apoiando o governo pró-soviético na
guerra contra rebeldes islâmicos apoiados pelo Paquistão e pelos Estados
Unidos.
“Olá
querida...tudo é incomum e interessante...não se preocupe muito comigo”,
escreveu Panteliuk para sua esposa apenas alguns meses antes do
desaparecimento.
Pilotos soviéticos desaparecidos no Afeganistão |
Um piloto
experiente, com 118 surtidas de combate no currículo, Panteliuk estava tendo um
dia de rotina em 27 de outubro de 1987. Junto com outra aeronave sobrevoava a
província de Kunar, no leste do Afeganistão, mas o tempo fechou, e as aeronaves perderam contato. Mesmo horas depois, os soviéticos não tinham conseguido
localizar o Su-17 de Panteliuk. As busca e o resgate não encontraram nada.
Um mês
depois, a esposa de Panteliuk, que acabara de dar à luz sua filha, recebeu uma
carta do alto comando: “Seu marido está desaparecido em combate (...) Não o consideramos
morto; continuamos a procurar e esperar por ele”. Hoje, sua filha tem 31 anos,
mas nem ela nem a mãe tiveram notícias do destino de Serguêi.
Uma história única, mas não única
A guerra
do Afeganistão foi um fardo para a União Soviética, resultando em até 15 mil
soldados mortos e 50 mil feridos. Além disso, 417 soldados desapareceram: 130
foram libertados e voltaram para casa; e mais de 100 foram mortos em cativeiro.
Outros 30 foram achados graças ao trabalho de parentes e associações de veteranos.
“Alguns anos atrás, durante uma missão no
Afeganistão, conheci um ex-soldado soviético que também havia desaparecido
durante a guerra”, disse à RIA Novosti Franz Klintsévitch, presidente da União
Russa de Veteranos do Afeganistão.
“Já falava
russo lentamente e se recusou a revelar sua identidade. Imediatamente me
ofereci para ajudá-lo a voltar para casa. Mas recebi como resposta um ‘bem, 25
anos se passaram, eu sou um elo perdido’. Todas as tentativas subsequentes de
encontrar esse homem foram em vão. A vida, às vezes, experimenta uma mudança
trágica.”
De acordo
com as fontes disponíveis, durante a guerra no Afeganistão, cerca de 125 aviões
soviéticos foram abatidos.
Confira outros três casos de desaparecidos envolvendo o conflito
no Afeganistão:
Aleksandr Rutskoi
O coronel
Rutskoi, vice-comandante da Força Aérea Soviética no Afeganistão, teve o avião
abatido em 1988 perto da fronteira com o Paquistão. Capturado pelos mujahidin,
interrogado e torturado, Rutskoi se recusou a dar informações. “Eu fui tratado
de uma maneira diferente”, comentou em uma entrevista anos depois.
Depois de um mês, os soviéticos conseguiram
libertá-lo pagando uma enorme quantia. Condecorado com o título de Herói da
União Soviética, Rutskoi se tornou o primeiro e último vice-presidente da
Rússia nos anos 1990. Ele liderou as forças anti-Iéltsin durante o conflito
entre o então presidente e o Parlamento russo, em 1993, mas depois do fracasso
do golpe, desistiu da política.
Prisioneiros de Badaber
Os
prisioneiros de guerra soviéticos eram mantidos em campos paquistaneses
controlados pelos mujahidin. Em 1985, 12 soldados soviéticos, juntamente com 40
camaradas afegãos, rebelaram-se em um desses campos, chamado Badaber,
protestando contra as condições desumanas. Depois de renderem os guardas e
capturarem o arsenal, eles resistiram por 11 horas, repelindo ondas de ataques
até que todo o prédio explodiu, matando os defensores e os mujahidin
envolvidos.
Nikolai Bistrov
Alguns
russos capturados abraçaram a cultura afegã e se converteram ao islamismo.
Talvez, a
história mais surpreendente seja a de Nikolai Bistrov, que quase foi morto em
cativeiro. Na época, porém, conheceu um dos mais proeminentes senhores da
guerra afegãos, Ahmad Shah Massoud, que, segundo o militar russo, era “um homem
diferente dos outros… Ele era um verdadeiro líder.
Embora eu fosse russo, ele
confiava em mim (...)”. Depois de mudar seu nome para Islam-ad-Din, Bistrov
acabou se tornando o guarda-costas mais leal de Massoud.
Anos
depois, o russo decidiu retornar à pátria com sua esposa afegã. Sem o
guarda-costas russo, Massoud foi assassinado em 2001 por militantes da
Al-Qaeda. Quanto a Bistrov, ele vive atualmente no sul da Rússia com sua esposa
e três filhos.
Fonte: Russia Beyond
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