Dando continuidade as matérias especiais sobre nossa visita ao Complexo Naval de Itaguaí, onde tivemos contato com a construção dos nossos novos submarinos "Classe Riachuelo" (SBR), nesta matéria vamos abordar um tema muito elevante, e que marca uma nova visão não apenas da Marinha do Brasil, mas de nossas Forças Armadas com relação a aquisição de novos meios, e cumprindo o objetivo exposto em nossa Estratégia Nacional de Defesa (END), onde esta previsto que, toda aquisição deva envolver transferência de tecnologias, mais conhecido como pacote de "offset", visando não apenas a produção de componentes do objeto avo da aquisição, mas a capacitação técnica e expertise para que nossa indústria seja capaz de absorver os conhecimentos com relação a produção, assim como a capacidade de dar um passo adiante e desenvolver produtos com base no conhecimento adquirido neste "offset", representando um grande ganho ao país.
O PROSUB envolve um vasto pacote de transferência de tecnologias à nossa industria, sendo um fator estratégico com vistas a alcançar a plena capacidade de operação destes novos submarinos, com relativa independência dos fornecedores externos, bem como sendo um grande ativo a ser aplicado nos desenvolvimentos futuros, incluindo o futuro "SNBR".
Conforme dito em nossa primeira matéria relativa a visita realizada na última segunda-feira (4) ao Complexo Naval de Itaguaí, em "PROSUB: Marinha apresenta os avanços do programa", o C.Alte Celso Mizutani Koga, nos ministrou uma palestra muito esclarecedora com relação ao PROSUB e seus desdobramentos, sendo um dos pontos que mais nos despertou atenção, justamente com relação ao pacote de "offset".
Dentre os sistemas de grande importância estratégica em sua nacionalização, vamos citar três fundamentais em relação ao PROSUB, onde foi nos apresentado "casos" que nos mostram o quão desafiador é o processo que envolve "offset".
No primeiro exemplo, citamos a capacitação da NUCLEP para produção da seção de proa dos novos submarinos, processo o qual não detínhamos a capacidade técnica e o ferramental necessário para sua execução. Aqui cabe lembrar que, remontando o programa de aquisição e capacitação para construção local dos submarinos IKL (Classe Tupi), o mesmo teve sua seção de proa construída na Alemanha, tendo em vista que à época,não dispúnhamos do ferramental e meios técnicos necessários a construção daquela seção, e o custo para aquisição de uma prensa destinada a execução da curvatura das chapas desta seção apresentava uma relação custo-benefício proibitiva, principalmente devido a pequena demanda de produção destas seções, o que não justificaria naquele tempo o investimento.
A NUCLEP recebeu no âmbito do PROSUB, um vultoso investimento em ferramental e capacitação técnica, onde foram investidos cerca de 480 milhões, envolvendo também a aquisição da maior prensa hidráulica da América Latina, tendo sido desenvolvida especialmente para dobrar as chapas especiais destinadas a confecção de partes do casco resistente dos submarinos da "Classe Riachuelo" (SBR). Com uma capacidade de 80.000kN de força de prensagem e conformação a frio de chapas de aço com 5 polegadas de espessura, a instalação deste colosso envolveu um cuidadoso planejamento de engenharia para sua instalação, tendo em consideração suas grandes dimensões, somadas ao peso total do
equipamento superior a 1.200 toneladas, já dá para termos uma ideia do desafio para os engenheiros.
Essa nova capacidade produtiva conquistada através dos insumos oriundos do PROSUB, e a capacitação técnica envolvida no âmbito de offset, é um notável case de sucesso do programa, o que nos dará grande autonomia em relação a projetar e construir estruturas complexas, como as demandadas por um submarino convencional ou mesmo um submarino nuclear, como será o caso do nosso SNBR.
Outro ponto que apresentamos aqui, é o cancelamento do acordo de transferência de tecnologia por parte da francesa Jeumont, empresa que produz o Motor Elétrico Principal (MEP), o EPM Magtronic que gera 2.915 KW à 150 rpm, o qual seria nacionalizado pela WEG, que já foi selecionada para fornecer outros sistemas para o SBR. Porém, a empresa francesa levando em consideração o risco envolvido na transferência do seu know-how para uma empresa com o porte da WEG, preferiu não correr o risco de criar um futuro concorrente no seu nicho de atuação. Assim a Jeumont se recusou a participar do programa de offset.
Tal fato não impedirá o avanço da construção dos SBRs, porém, o desenvolvimento de um MEP nacional demandará mais tempo, o que tornará inviável sua aplicação nos quatro submarinos iniciais da "Classe Riachuelo". Este case mostra que o processo de "offset" é algo multo mais complexo do que imaginam alguns de nossos leitores, pois envolve não apenas a relação entre Estados, mas também vislumbram o interesse das empresas e grupos industriais envolvidos no âmbito do programa, algo que em determinados pontos é muito difícil de se conseguir obter um equilíbrio.
Por último e não menos importante, esta o case envolvendo a nacionalização das baterias que irão compor o sistema elétrico do SBR, trata-se de um dos mais importantes componentes desta fabulosa arma que é o submarino, pois sem essas, o mesmo fica sem capacidade de operar submerso abaixo da cota de periscópio, o que inviabiliza o emprego tático desta arma.
As baterias utilizadas no "Scorpene" são fabricadas pela empresa alemã Hagen, que pertence ao grupo Exide, que fabricará as primeiras unidades para o "Riachuelo" (SBR1) e o "Humaitá" (SBR-2) na Alemanha, pois o processo de offset que envolve as baterias, foi impactado pela instabilidade econômica e a crise política que atingiu o Brasil nos últimos anos, o que levou o Grupo Exide a cancelar o processo de transferência de tecnologia e a produção nacional destas para Marinha do Brasil.
O Grupo Exide já tinha contratado uma empresa brasileira como sua parceira, a Rondopar, que receberia dessa capacidade produtiva e ao longo do programa iria aumentando o percentual de nacionalização até atingir o nível de 100%. Era previsto inicialmente que o "Riachuelo" (SBR-1) receberia um conjunto de baterias produzido na Alemanha, e os submarinos posteriores receberiam gradativamente componentes produzidos aqui no Brasil, onde de acordo com os planos originais, o "Humaita" (SBR-2) contaria com um índice de 30%, o "Tonelero" (SBR-3) chegaria aos 60% e no último dos quatro submarinos previsto, o "Angostura" (SBR-4), esse índice de nacionalização chegaria finalmente aos 100%.
Diante desse imprevisto, a Marinha do Brasil teve que buscar uma solução a problemática que se apresentava, e foi ai que surgiu a NewPower, empresa que foi selecionada para desenvolver e produzir as baterias destinadas ao "SBR" no Brasil.
A empresa paulista detém o know-how no desenvolvimento e produção de baterias automotivas, industriais, estacionárias e tracionarias. Sendo fornecedora atual dos conjuntos de baterias empregados pelos nossos submarinos da "Classe Tupi", e já exporta também para outras marinhas que operam com submarinos IKL como o "Tupi". A Newpower conta com ferramental adquirido da extinta Saturnia, antiga fornecedora de baterias para os submarinos de nossa esquadra. Outro importante ativo, foi a contratação de muitos funcionários que fizeram parte do quadro técnico da extinta empresa, o que representou um enorme ganho e conhecimento e capacitação.
A Newpower já esta desenvolvendo as baterias que irão equipar os submarinos da "Classe Riachuelo", onde teve de ser feita a verticalização do processo, uma vez que a empresa teve que iniciar do zero. Mas, diferente do caso que envolve o MEP, as baterias já se encontram em fase avançada de desenvolvimento, com inclusive já tendo sido produzido um lote pré-série que será destinado aos testes de certificação, onde após uma série de avaliações rigorosas, a mesma sendo aprovada já terá sua produção iniciada. Segundo ao que nos foi dito durante a visita, o progresso esta sendo rápido e espera-se que a mesma já venha a equipar o "Tonelero" e o "Angostura", posteriormente substituindo as baterias importadas que estão previstas para o "Riachuelo" e o "Humaitá" conforme estas alcancem o fim de sua vida útil.
Esses são alguns exemplos para que se possa compreender um pouco o que envolve um programa da envergadura do PROSUB, onde muitos nos perguntaram com relação aos atrasos, onde posso afirmar que os mesmos são insignificantes diante do tamanho do desafio, e vou até um pouco além, afirmando que temos ganhado muito com o PROSUB, lembrando que ele não termina no comissionamento do "Angostura", mas dará inicio a era dos submarinos de propulsão nuclear (SNBR) na Marinha do Brasil.
Aqui deixo um especial agradecimento ao C.Alte Celso Mizutani Koga, que é o gerente de obtenção dos submarinos convencional e nuclear do programa, e que nos recebeu e acompanhou em nossa visita as instalações da UFEM e EBN.
Em breve o Cmte Farinazzo vai trazer mais um vídeo abordando nossa visita no Complexo Naval de Itaguaí, não percam, clique aqui e confira o trabalho primoroso de nosso parceiro no "Canal Arte da Guerra", e aguardem nossas próximas matérias sobre o PROSUB, vem muito mais por ai, essa visita nos garantiu um vasto conteúdo a ser compartilhado com vocês.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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