Após o ataque da
coalizão liderada pelos EUA à Síria, e o sucesso da defesa aérea que conseguiu
interceptar 70% dos mísseis lançados contra alvos protegidos pelos sistemas de
origem soviética dos anos 60 e 70, nós resolvemos buscar um pouco mais de
informações sobre como se dá o treinamento dos homens que operam sistemas de
defesa aérea.
Há pouca
informação a respeito, mas de cara já podemos apontar que o sucesso da operação
deste tipo de equipamento se dá principalmente através de intenso treinamento e
disciplina, onde não adianta contar com o mais avançado sistema de defesa aérea
se não conta com homens preparados técnica e psicologicamente, somente com
homens plenamente qualificados se pode garantir a proteção dos céus contra
ameaças de diversos tipos e origens.
Seguindo nossa
pesquisa, encontramos algumas informações sobre o treinamento que recebem as
tropas de defesa aérea da Rússia, sendo consideradas as mais eficientes e
modernas no mundo, além de possuir um vasto histórico de sucesso na operação
destes sistemas, em especial no período da “Guerra Fria”, onde os sistemas de
defesa aérea soviéticos eram vistos como uma grande ameaça, criando uma
verdadeira “muralha” aos meios aéreos que ousassem invadir seu espaço aéreo.
Sendo o principal desenvolvedor de sistemas do tipo, tendo visto os mesmos
sendo empregados em diversos conflitos, em especial no Oriente Médio e Ásia.
Os SAMs S-75 (SA-2 "Guideline") ameaça no Vietnã |
Como referência,
podemos citar alguns exemplos da eficiência destes sistemas em conflitos, sendo
o mais notável a “Guerra do Vietnã”, tendo sido os SAMs responsável pela maior
parte das perdas aéreas sofridas pelos norte-americanos naquele cenário.
Hoje a Rússia,
herdeira da tradição e tecnologia da extinta União Soviética, estão equipadas
com os mais modernos e poderosos sistemas de mísseis, que protegem os céus não
apenas da Rússia, mas de vários países ao redor do mundo. Os militares russos
enfrentam cinco anos de estudos e preparação para operar os sistemas de defesa
aérea do país, sendo uma função de extrema responsabilidade e que exige o máximo
dos profissionais envolvidos, pois são os homens responsáveis por defender a
Rússia de qualquer eventual ataque por via aérea, seja convencional ou em um
cenário extremo, interceptar um ataque nuclear, seja lançado por bombardeiros
estratégicos, ou por ICBMs e demais meios de dissuasão.
Hoje a espinha
dorsal russa e a grande estrela do mercado de defesa aérea, são sem sombra de
dúvidas são os sistemas S-300, desenvolvidos ainda no final dos anos 70 pela
extinta URSS, apontados com um dos mais eficientes e capazes sistemas em
operação no mundo, e o S-400 “Triunf”, este um projeto extremamente moderno,
tendo sido produzido a partir de 2007, apontado como um dos mais capazes e
eficientes sistemas já produzidos, despertando o interesse de diversos países.
O treinamento dos
operadores destes sistemas é extremamente rigoroso, muitos tentam se qualificar
para operá-los, mas poucos conseguem concluir a preparação e entrar para uma
das forças de elite da Rússia.
O treinamento destes
militares é realizado em dois estágios preparatórios, afim de selecionar os
melhores e torna-los plenamente capazes de repelir um possível ataque de
mísseis ou bombardeio. O primeiro estágio deste treinamento envolve muito
estudo teórico dos sistemas de ataque em operação hoje no mundo, onde são
bastante mitigadas as suas características, envelope de voo e capacidades, além
de estudar as técnicas e estratégias empregadas pelos hipotéticos “agressores”,
nesta fase há muito estudo teórico com base em dados coletados através da
inteligência, o que dá um importante suporte a estes homens.
Segundo informações
que obtivemos através de artigos que abordam o tema, “O dispositivo de cálculo
de cada sistema transmite seu plano de ação ‘oralmente’ e no papel. O objetivo
é maximizar o uso do potencial do sistema e o poder de disparo de seus mísseis
para, assim, abater o maior número possível de alvos aéreos”, disse Dmítri
Safonov.
Essa fase do
treinamento é que apresenta maior cobrança nas academias militares russas, com
grande parte do tempo dedicado a esta atividade, é uma das fases onde o aluno é
submetido a maior carga de stress e tensão, afim de selecionar apenas os
melhores, os professores cobram severamente dos futuros oficiais um alto grau
de precisão e eficiência, caso não tenham conseguido assimilar alguma etapa do
processo, o aluno possui uma chance apenas, reincidindo na mesma deficiência, o
mesmo é desligado.
Após a preparação,
o modelo computacional da situação passa para o “papel”.
“Aqui são
determinadas todas as ações da equipe de cálculo do sistema de defesa aérea: as
informações que eles passam uns aos outros e à equipe de direção são anotadas,
assim como as ações do grupo. Simultaneamente, o ‘cenário de combate’ é
dificultado por interferências e possíveis falhas nos sistemas. Desse modo, é
criada uma simulação completa do que encontrarão em combate real, para que a
equipe esteja preparada ao máximo para lidar com todas as situações da vida
real”, acrescentou o especialista.
Após concluir a
fase teórica, o aluno passa ao segundo estágio, que compreende a etapa em que
ele terá o primeiro contato com os sistemas em operação real, sendo a fase de
grande importância para a avaliação e aperfeiçoamento do que foi aprendido na
fase anterior, com a realização de disparos reais. A diferença, porém, é que durante
esses testes são realizados disparos sem “virtuais” em simulação contra aeronaves
que simulam ataque de mísseis, onde os operadores dos sistemas de defesa tem a
oportunidade de aplicar o que aprendeu na teoria.
Outro estágio dessa fase prevê a
interceptação com disparos reais contra drones e alvos que devem ser
rastreados, identificados e abatidos pelos alunos.
O processo
possui três estágios: o radar detecta e captura o alvo, é feita uma estimativa
da trajetória de voo do alvo para o solo, e o míssil é lançado para atingir o
objeto. Em seguida, o dispositivo de cálculo monitora a situação, enquanto o
sistema é recarregado com novos mísseis.
Nos atendo aos sistemas de longo alcance que
são a primeira defesa, estes detectam alvos a uma distância que vai de 250 a
400 km e seus mísseis podem interceptá-los a uma distância de 150 a 250 km. O
alvo pode ser engajado e abatido mesmo se estiverem voando a uma velocidade de
2,5 km/s. Os sistemas são capazes de acompanhar até 36 alvos e disparar
simultaneamente contra até 12 destes, contando ainda com reduzido tempo
necessário para recarga de seus lançadores, o sistema pode rapidamente
responder a múltiplas ameaças.
Segundo a
doutrina de camadas adotada pela Rússia, os sistemas S-300 e S-400 sempre
contam com a cobertura de pelo menos uma bateria Pantsir-S1 que possui um
alcance de 10 a 15 quilômetros. Garantindo a proteção do sistema de longo
alcance contra um eventual agressor que represente ameaça será neutralizado
pelo Pantsir.
O sucesso da Síria contra o ataque da
Coalizão, demonstra que a mesma tem recebido suporte técnico da Rússia, que
provavelmente tem realizado a atualização dos sistemas que equipam a defesa
aérea do país e dado o treinamento necessário as equipes que operam os sistemas
de defesa aérea naquele cenário. Não seria surpresa se tais sistemas tenham
sido operados sob supervisão de militares russos, que podem estar implantando
uma nova doutrina no país árabe.
Concluindo esta matéria,
é bem clara a necessidade não apenas de se contar com um sistema de defesa
aérea, mas principalmente contar com um doutrina eficaz e um rigoroso treinamento
dos operadores, sendo este último o fator mais importante na equação que pode
definir o sucesso ou o fracasso da defesa aérea contra um ataque inimigo.
Em breve iremos
publicar uma matéria abordando as necessidades brasileiras, onde iremos trazer
os pontos chaves para construirmos um sistema de defesa aérea eficiente e as
possíveis doutrinas que podem ser implantadas por nossas forças armadas.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em
Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e Rússia, especialista em assuntos de defesa e segurança.
GBN
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Fontes de informações TASS, Russian Today e Iszvêstia
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