Após diversos testes e lançamentos de mísseis e pouco mais de um ano de tensões elevadas com Washington, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, propôs um encontro com o presidente dos EUA, Donald Trump e ofereceu interromper o seu programa nuclear para o início das negociações.
"Com os mísseis balísticos intercontinentais ele jogou todas suas cartas. Ele não tem mais nada e agora está observando as consequências", disse o especialista Robert Schmucker, da Universidade Técnica de Munique. "Ele não pode ameaçar ainda mais. Ele diz ter o míssil balístico intercontinental. O que poderia ser ainda mais ameaçador?"
Schmucker é um especialista em mísseis e foguetes internacionalmente reconhecido. Ele foi membro da equipe de inspeção da ONU no Iraque, entre 1995 e 1998. A empresa de tecnologia por ele fundada executa serviços de consultoria para a Otan, entre outros.
Em diversas vezes, Schmucker expressou que a corrida armamentista da Coreia do Norte não passa de um blefe e de que não há evidências suficientes que sugerem que o regime de Kim tenha adquirido a tecnologia necessária. Ele manteve essa posição em entrevista à DW.
"No caso da Coreia do Norte, sabemos de algumas explosões e detonações, nada mais. Eles lançaram oito tipos de foguetes completamente distintos, que não são em nada compatíveis entre si", afirmou Schmucker. "Concluir a partir disso que eles têm um sistema operacional de armas nucleares é muito ousado."
DW: De acordo com relatos da mídia, o vice-chefe do BND (serviço secreto alemão), Ole Diehl, disse numa reunião com parlamentares que poderia se dizer com certeza que a Coreia do Norte poderia alcançar a Europa e a Alemanha com seus mísseis.
Roberto Schmucker: Estou muito surpreso porque não tivemos nenhum lançamento da Coreia do Norte desde novembro e me pergunto o que teria mudado agora. Kim Jong-un demonstrou, com o míssil balístico intercontinental HS 15, que talvez consiga, com uma pequena carga útil de talvez 700 quilos, atingir um alvo a 12 mil quilômetros de distância. Nada mais.
Não sabemos nada sobre a evolução do programa, não sabemos nada sobre sua tecnologia de reentrada na atmosfera e não sabemos nada sobre a arma nuclear que supostamente estaria lá dentro. Para mim, não passa de uma simples suposição. É possível? Talvez sim, mas minhas análises me dizem que a probabilidade é a de que esse não seja o caso.
Mas a quantidade de carga útil mencionada seria suficiente para carregar uma ogiva nuclear. Isso não reflete uma ameaça suficientemente concreta?
Sim, com certeza, tratando-se de um país que vem desenvolvendo e testando armas nucleares há anos ou décadas. No caso da Coreia do Norte, sabemos de algumas explosões e detonações, nada mais. Concluir a partir disso que eles têm um sistema operacional de armas nucleares é muito ousado. Para atacar é necessário possuir um sistema completamente funcional e seguro.
O que mais sugere que Kim Jong-un é bom em ameaças, mas não necessariamente em tecnologia de mísseis?
É como tirar uma Ferrari da garagem e dizer: 'Eu construí essa Ferrari'. Todos responderão: 'Conte essa história para outro'. E é exatamente o mesmo com a Coreia do Norte. Eles praticamente tiraram um foguete atrás do outro da cartola – oito mísseis, oito tipos diferentes nos últimos dois anos.
O que podemos ver de indicações técnicas no míssil intercontinental sugere que ele tenha vindo da Rússia ou de um Estado sucessor da União Soviética. De qualquer maneira, o motor é identificável: trata-se de um mecanismo soviético-russo. Os dados fornecidos pela Coreia do Norte indicam claramente qual é o motor. É evidente também a partir das imagens.
E isso significa que também há um foguete correspondente. É muito improvável que a Coreia do Norte construa esses motores do nada e também um foguete de dois estágios. É muita coisa ao mesmo tempo. E, além disso, oito tipos de foguetes completamente distintos, que não são em nada compatíveis entre si.
Mas mesmo que esses mísseis sejam baseados em desenvolvimentos estrangeiros, eles poderiam estar operacionais?
Não, eles só estão prontos para entrar em ação quando estiverem totalmente aprovados. Isso significa que eles teriam que ser testados 30 vezes, com 30 lançamentos, porque a linha de produção deve estar ok. O material deve ser aprovado para diferentes temperaturas. Os foguetes devem poder ser lançados em trajetórias exatas nas direções oeste e leste.
É um longo caminho até um sistema funcional e operacional que possa suportar as cargas e os obstáculos de voo. Tudo tem que ser testado. Temos uma força extrema de reentrada na atmosfera. Precisamos de um objeto de reentrada atmosférica que suporte o atrito, as temperaturas, os atrasos e o disparo: são elementos que não estão comprovados e que nunca foram demonstrados.
Mas a corrida espacial entre a União Soviética e os EUA na década de 1960, por exemplo, não mostrou que avanços tecnológicos rápidos são possíveis com a correspondente vontade política?
Aqueles enormes mísseis americanos eram disparados quase semanalmente, talvez 40 em um ano. Também na União Soviética, eles foram lançados aos montes porque era preciso aprender – inclusive sobre a produção. São necessários muitos, mas muitos dispositivos.
Acrescente a isso o fato de que existem oito tipos de foguetes com diferentes tecnologias na Coreia do Norte. O que eles precisariam de equipamentos, garantias de qualidade, máquinas, instalações, funcionários – nenhum país conseguiria. Mas, aparentemente, a Coreia do Norte o faz como se fosse simples.
Teríamos que ver cerca de 30 lançamentos seguidos acertando alvos. Ainda não vimos isso em nenhum disparo. Em muitos casos, a Coreia do Norte disparou apenas mísseis soviéticos antigos, como o Scud, ou pequenos foguetes de artilharia, que também foram abatidos 20 vezes. Todos esses dispositivos são pequenos e conhecidos. Dispositivos que já estavam no arsenal do Exército da Alemanha Oriental.
Então as sanções com as quais se pretende confrontar a corrida armamentista nuclear de Kim Jong-un são exageradas?
De jeito nenhum, elas são muito sensatas. Porque com esses mísseis e com a última explosão ele jogou todas suas cartas, como no pôquer. Ele não tem mais nada, e ele mesmo disse isso: 'Terminamos, acabamos, temos tudo o que precisamos'. E agora ele está observando as consequências, agora começam as negociações.
Ele não pode ameaçar ainda mais. Ele tem o míssil balístico intercontinental, ou seja, com o que ele poderia ameaçar ainda mais? Ele poderia, por exemplo, lançar um desses mísseis todas as semanas. Então o Ocidente teria razão em dizer: 'O que está acontecendo lá? O que ele tem lá é incrível!'.
Fonte: Deutsche Welle
0 comentários:
Postar um comentário