Os navios de escolta
ganharam grande importância para as esquadras, principalmente após a Segunda
Guerra Mundial, onde provaram sua eficiência e importância diante do novo
cenário que surgia no emprego do poder naval. Conforme apresentamos no capítulo
anterior desta série, os navios de escolta surgiram para contrapor uma
determinada ameaça, mas ao longo dos anos ganhou um papel mais amplo,
incorporando novas capacidades e assumindo novas missões, uma evolução contínua
e que tem tornado os navios de escolta meios complexos e capazes de cumprir múltiplas
missões, que vão desde a proteção da esquadra contra ameaças aéreas, submarinas
e de superfície, chegando ao ataque á alvos estratégicos na costa e mesmo no
interior do território inimigo, a exemplo das corvetas Buyan-M russas, capazes
de lançar ataques de longa distancia com seus mísseis de cruzeiro Kalibr.
Ao longo de seu
desenvolvimento, os navios de escolta tem representado um papel de grande importância
no poder naval das grandes potências, sendo a espinha dorsal de marinhas com
menor orçamento, mas que embora não possuam meios de projeção de forças como
poderosos navios aeródromos e outros meios de projeção como LHD’s e LPD’s, não
deixam em nada a dever as grandes marinhas, e essa equação é alcançada pelo
investimento em modernos navios de escolta, equipando suas esquadras com modernas
Corvetas, Fragatas e Destroyers.
Durante os últimos
conflitos, o papel das escoltas foram marcante e por diversas vezes foram o
fiel da balança, especialmente em conflitos como a Guerra das Malvinas em 1982,
quando se confrontaram a Armada Argentina e a poderosa Royal Navy.
No cenário das
Malvinas/Falklands, as fragatas britânicas tiveram um papel fundamental para o
sucesso da retomada das Ilhas pela coroa britânica, embora tenham também
amargado importantes perdas, demonstrando fragilidades que ate então haviam
sido ignoradas pelos projetistas das novas classes desses navios britânicos.
Um ponto curioso que é
digno de nota, trata da ênfase que havia sido dada as capacidades ASW das fragatas,
as quais careciam de uma real capacidade de defesa aérea, lembrando que nos
idos anos 80 o mundo estava mergulhado na “Guerra Fria”, sendo a principal
ameaça aos membros da OTAN a enorme força submarina soviética, o que levou os
estrategistas a “sacrificarem” as capacidades antiaéreas em prol de ampliar as
capacidades de combate ASW, isso se mostrou um grave erro nas
Malvinas/Falklands, onde a deficiente defesa aérea dos meios britânicos,
possibilitou aos argentinos infligir pesadas perdas á Royal Navy, onde o
resultado só não foi mais grave pela inexperiência argentina e a falta de meios
a mesma, como o reduzido número de mísseis Exocet disponíveis, as repetidas
falhas nos detonadores das bombas lançadas contra os meios britânicos, os quais
por diversas vezes atingiram e perfuraram o casco, porém sem detonar.
Nas Malvinas foram
realizadas as maiores operações aeronavais desde o final da Segunda Guerra
Mundial, tendo sido a prova de fogo dos novos mísseis de defesa de ponto britânicos,
o que provou a obsolescência de diversos sistemas, como os Seacat e Seaslug.
Nesse cenário, se destacaram os Destroyers Tipo-42 equipados com mísseis Sea
Dart e as fragatas Tipo-22, equipadas com mísseis antiaéreos Seawolf, os quais
mostraram grande êxito durante o conflito, embora alguns navios destas classes
tenham sofrido danos e até mesmo tenham sido perdidos ao sofrer ataques aéreos
argentinos, os quais foram bem sucedidos com emprego dos Exocet. Algumas destas
fragatas veteranas das Malvinas ainda operam com a Marinha do Brasil, e deverão
em breve dar baixa.
A experiência nas Malvinas
levou os britânicos a reconsiderar o emprego de canhões em suas fragatas, onde
á época, as tipo-22 não tinham sido dotadas de canhões, se amparando apenas nos
seus mísseis Exocet antinavio e os Seawolf para defesa aérea. Sendo assim, as
tipo-22 construídas após o conflito passaram a incorporar um canhão de 114mm.
Na US Navy, a marinha
norte americana, os navios de escolta também possuem vital importância, sendo a
espinha dorsal da sua força de superfície os DDGs (Destroyers), principalmente
a Classe Arleigh Burke, que substituiu os poderosos “Spruance”. Mas não é só com
DDGs contaram os norte americanos, onde ao longo de sua história desenvolveram classes que
marcaram a história naval, mesmo alguns destes tendo sido navios “espartanos”
em comparação com outras classes contemporâneas. Neste foco, podemos citar
alguns desenvolvimentos dos anos 80, época em que a política norte americana
visava obter um quantitativo de navios em lugar da qualidade e capacidade dos
meios navais, estavam diante da “Guerra Fria”, assim Ronald Reagan conduziu um importante
programa de modernização da esquadra, amparado em meios de menos complexidade
com fins de se obter maior número de navios.
Durante o inicio dos anos
80 começaram a ser incorporadas as fragatas da Classe Oliver Hazard Perry (OHP),
classe projetada como fragata de emprego geral, concebida para escoltar Task
Force, tinha como principal missão prover defesa aérea á esquadra contra ameaça
representada por mísseis de cruzeiro e aeronaves inimigas, tinha como missão
secundária a defesa de superfície.
Mas são os DDG’s da Classe
Arleigh Burke a grande estrela, possuindo uma capacidade de defesa aérea até
então considerada uma das mais eficientes e poderosas em operação, contando com
sistema AEGIS, o qual será abordado em uma matéria específica sobre os sistemas
de defesa aérea naval a ser lançada em breve aqui no GBN News.
A US Navy é de longe a
marinha mais poderosa no que tange a capacidade de navios de escolta, dentre
tantos outros meios nos quais também e de longe o maior expoente do poder
naval. E tendo em vista este fato, será objeto de um capítulo próprio, o qual
abordara a evolução dos navios de escolta naquela marinha, apresentando a
cronologia de seu desenvolvimento.
Na recente atuação das forças russas no conflito sírio, a Rússia demonstrou a grande versatilidade de emprego de suas corvetas Classe Buyan-M, as quais lançaram com precisão um ataque com mísseis de cruzeiro Kalibr contra alvos na Síria, o que chamou a atenção pelas diminutas dimensões destas corvetas e o poder de fogo que as mesmas possuem, sendo um exemplo do emprego de navios de escolta em missões que antes eram exclusivos de meios mais "pesados" e dedicados, uma clara amostra da versatilidade que os modernos escoltas apresentam, assumindo grande importância no cenário estratégico naval.
No Brasil nós enfrentamos
um período de grande fragilidade no que tange ao poder naval representado pelos
navios de escolta. Os atuais meios de escolta da Marinha do Brasil, enfrentam
um acelerado estado de obsolescência, o que torna de certa forma urgente a
aquisição de novos meios afim de garantir as capacidades da esquadra brasileira
em garantir a soberania nas águas territoriais do Brasil.
No final de 2017, a
Marinha do Brasil através do Ministério da Defesa em conjunto com BNDES e a EMGEPRON,
deram um novo passo rumo a obtenção de novos meios de escolta através do
Programa de Corvetas Classe Tamandaré, a qual na minha concepção não contempla
uma corveta clássica, mas o que eu classificaria como uma “fragata leve”, tendo
em vista seu RFP e capacidades objetivadas estarem mais próximas de uma fragata
leve do que de uma corveta propriamente dita.
Mesmo com a obtenção de
quatro novas escoltas através do Programa “Tamandaré”, a esquadra ainda ira
carecer de meios de superfície capazes de cumprir o papel de escolta. Diante
deste cenário, é preciso que o governo brasileiro passe a dar a detida atenção
as necessidades da força naval, uma vez que a carência de tais navios não se
pode suprir da noite para o dia em caso de uma eventual necessidade. Hoje a Marinha do Brasil conta com meios de
projeção como NDM Bahia e o recém adquirido ex-HMS Ocean, sendo meios que
podemos classificar como modernos e de grande valor estratégico, porém, os
mesmos estariam desprotegidos em uma eventual campanha naval, onde hoje não
possuímos meios adequados a prover a defesa aérea e de superfície que se faz
necessário ao emprego destes navios. Esse tema será abordado em um capítulo
posterior desta série especial.
Acompanhe conosco e para
quem ainda não leu os capítulos anteriores de nossa série, basta clicar nos
títulos a seguir e conferir esse importante trabalho que temos realizado no
âmbito de prover conhecimento e fomentar o debate sobre este importante tema, “Série "Os Navios de Escolta" - Conheça mais sobre estes navios” e "Os Navios de Escolta" - Uma breve história de sua evolução”.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.
GBN News - A informação começa aqui
Tudo bem Nicolaci!
ResponderExcluirMais uma vez presente e como sempre com alguma dúvida sobre estes belos meios que são as escoltas.
No 5° parágrafo é comentado que foi dado grande importância a guerra ASW nas fragatas como resposta ao temor dos submarinos URSS no tempo da guerra fria e por conta disso sempre quando leio algo a respeito deste tipo de escolta costumo as assimilar com embarcações que tem em seu principal objetivo o combate submarino e a defesa aérea e de superfície sempre ficando em segundo plano e como foi dito no texto este "sacrifício" fez os britânicos provar amargas percas em 1982; Hoje, as fragatas modernas ainda mantém esta tradição de focar mais no ASW ou já mantém no mesmo grau elevado na defesa aérea e de superfície como mantém na submarina e tirando o estigma de escoltas focadas mais para combater submarinos?
Grande abraço!
Olá Klaus!
ExcluirÉ sempre bom contar com sua participação, e suas perguntas ajudam a tirar a de outros leitores.
Conforme dito na matéria, os projeto oriundos dos idos da "Guerra Fria", possuíam foco em ASW, porém, como nas Malvinas e com "fim" da ameaça soviética, fora dada nova enfase nos projetos dos escoltas, com maior atenção a capacidade de defesa aérea. Hoje notoriamente, as modernas escoltas tem ganho uma nova percepção, tendo sido voltados a capacidade de múltiplo emprego, onde há capacidades de cumprir com segurança tanto missão ASW, como defesa aérea e de superfície, somando a essas capacidades a de ataque com mísseis de cruzeiro, isso é uma tendencia que visa dar maior flexibilidade aos meios e garantir a redução dos custos de operação, onde com menos navios se pode cumprir as mesmas missões mantendo a capacidade.
Um abraço e continue conosco.