sábado, 13 de janeiro de 2018

Série "Os Navios de Escolta" - Uma breve história da sua evolução

Dando prosseguimento a nossa série especial, o GBN News irá abordar neste capítulo uma breve história da evolução dos navios de escolta. Onde traremos um pouco sobre o avanço tecnológico neste importante tipo de navios e alguns destaques na cronologia destas classes de navios que são vitais no teatro de operações navais.

Conforme apresentado na primeira parte desta série, os navios de escolta surgiram a fim de atender a necessidade das marinhas em contar com um navio rápido, manobrável e que pudesse oferecer capacidade de prover defesa aérea, de superfície e anti-submarino á esquadra, sendo primordiais as forças tarefas baseadas em Navios-Aeródromos e mesmo outros navios de grande valor estratégico, mas que não são capazes de prover de maneira adequada sua auto-proteção.

Contratorpedeiro brasileiro Classe Amazonas - 1908
Os primeiros navios a atender essa nova vertente do combate naval, foram os Contratorpedeiros, navios que começaram a surgir nos idos de 1880, como resposta á ameaça representada pelos navios torpedeiros, os quais apresentavam um grande desafio aos meios até então empregados pelas marinhas, principalmente por suas características de grande velocidade, capacidade de manobra e o armamento baseado não apenas em canhões, os quais tinham papel secundário, sendo sua arma principal os torpedos.

Os Contratorpedeiros foram os primeiros meios empregados com intuito de proteger os comboios mercantes e mesmo as forças tarefas compostas por encouraçados e cruzadores pesados, os quais eram presas relativamente fáceis aos ágeis torpedeiros. Assim passou a cumprir o papel de “navio de escolta”, ainda que só durante a Segunda Guerra Mundial, tenha sido realmente criado o conceito de navios de escolta como conhecemos, apesar dos grandes avanços que este tipo de navios experimentou ao longo de quase oito décadas.

USS Fiske - Destroyer de Escolta Classe Edsall
A Segunda Guerra com certeza foi um divisor de águas no que diz respeito aos navios de escolta. O conflito foi marcante não só para o campo de novas tecnologias militares, mas principalmente no campo estratégico e nas doutrinas do emprego militar.

O mais sangrento e mortal conflito que o mundo já viu, deixou clara a necessidade dos navios de escolta, os quais eram peças fundamentais para as esquadras, sendo importantíssimos durante a “Batalha do Atlântico”, sendo a resposta aos U-Boats alemães que ameaçavam as linhas de suprimento dos aliados, causando pesadas perdas aos navios mercantes. Sendo marcante o papel desempenhado pelos Destroyers, Fragatas e Corvetas.

Estes navios em suas mais variadas classes e deslocamentos, exibiam grande versatilidade, sendo empregados na defesa aérea, defesa de superfície e combate anti-submarino, podendo ainda ser empregados no apoio á desembarques anfíbios, onde garantiam apoio de fogo com seus canhões.

Contratorpedeiro de Escolta Be-4 Bauru - Classe Cannon
No Brasil em especial, nos vimos diante de uma grave deficiência em nossa Marinha do Brasil durante o conflito no Atlântico Sul, onde nos idos de 1942 não possuíamos navios adequados a dar combate á ameaça representada pelos U-boats alemães que torpedeavam e afundavam impunemente nossa frota de navios mercantes, causando grandes baixas dentre nossa marinha mercante, o que levou o Brasil a tomar posição contra o Eixo e com isso entrando na Segunda Guerra Mundial.

Durante o conflito a Marinha do Brasil incorporou navios de escolta através de um acordo firmado com governo dos EUA, sendo estes navios objeto de um próximo capítulo desta série.

Dentre as principais classes de navios escolta construídos durante os esforços de guerra dos EUA, podemos citar: Classe Bostwick, Classe Edsall, Classe Evarts, Classe Buckley, Classe Rudderow, Classe Asheville, Classe Fletcher, Classe Benson, Classe Gleavs, Classe Gearing, Classe Allen M. Sumner, Classe Cannon, dentre tantas outras.

Após o final da Segunda Guerra, os EUA sozinhos produziram mais de 600 navios de escolta das mais diversas classes e deslocamentos. Os quais em grande parte foram modernizados e transferidos á outras marinhas, tendo o conhecimento adquirido durante o conflito resultado em importantes avanços tecnológicos e grandes mudanças nos projetos pós-guerra.

USS Joseph Strauss - Destroyer  Classe Charles F. Adams 1958 
A década de 50 apresentou grandes avanços em diversos campos da tecnologia, marcando uma verdadeira “revolução naval”, onde os navios de escolta estiveram entre os meios navais que receberam os mais importantes avanços, principalmente no que dizia respeito á guerra anti-submarino e a suas capacidades de defesa aérea. Nesse período surgiram os submarinos nucleares, a aviação entrava de vez na era do “jato”, além do surgimento dos mísseis guiados. Tais avanços, somados a integração de novos sistemas eletrônicos, como radares mais poderosos e outros meios eletrônicos, levou a uma mudança radical no perfil dos navios de escolta, a começar pela silhueta dos novos projetos, muito diferente das apresentadas pelos projetos produzidos durante a Segunda Guerra Mundial.

D-25 "Marcílio Dias" - Contratorpedeiro Classe Gearing FRAM I
Esse rápido avanço tecnológico, fez com que o grande excedente de navios construídos durante o conflito se tornassem rapidamente obsoletos, apesar da pouca idade e bom estado destes navios, diante desta obsolescência prematura da esquadra, foram adotados esforços com fins de prolongar a vida operacional destes navios, um dos principais esforços neste sentido fora o programa FRAM (Fleet Rehabilitation and Modernization), o qual conferiu aos vetustos navios novas capacidades de guerra anti-submarina e sistemas de defesa aérea que apesar de não prover as mesmas capacidades dos modernos meios de escolta, conferiam um relativo ganho na capacidade de auto-defesa. Muitos destes navios foram repassados a marinhas aliadas dos EUA, onde o Brasil foi um dos países que recebeu importantes navios oriundos do programa FRAM, que possibilitaram a Marinha do Brasil e possuir um relativo poder naval no cenário sul-americano. Mas isso será abordado em um próximo capítulo desta série.

Um marco importante neste período foi a substituição dos canhões, o quais passaram a ter menor atenção, perdendo espaço para o novo advento dos mísseis guiados. Entre a década de 60 e 70, os mísseis ganharam grande destaque, com desenvolvimento e entrada em operação de mísseis de emprego antiaéreo e anti-navio.

Os mísseis cada vez exibindo maior alcance e precisão passou a figurar como armamento principal dos novos navios de escolta, aposentando os canhões de grande calibre, os quais passaram a equipar pouquíssimas classes de escoltas.

Míssil britânico Seacat lançado pelo HMS Intrepid nas Malvinas
Nos anos 70 e 80, vários conflitos eclodiram ao redor do mundo, onde os novos conceitos de escolta foram postos a prova de fogo, dentre eles o emprego de helicópteros embarcados nos navios de escolta, o que propício ganho em capacidade de esclarecimento e combate, sendo principalmente empregados em missões ASW. Durante a atuação dos novos escoltas em conflito, muitos sistemas apresentaram deficiências e limitações, como foi o caso de diversos sistemas empregados pelos britânicos em sua campanha nas “Malvinas/Falklands” no princípio dos anos 80, quando muitos de seus navios só não foram perdidos devido a ineficiência das táticas e armamentos empregados pelos argentinos. O aprendizado levou a uma série de mudanças nos novos projetos britânicos, elevando a capacidade de suas fragatas.

Destroyer Classe Arleigh Burke
O avanço das capacidades dos novos destroyers, fragatas e corvetas, também representou um aumento vertiginoso nos custos de obtenção desses novos navios, o que levou a uma revisão no número destes navios nas esquadras, desequilibrou a balança no poder naval, onde o número de navios não era mais sinônimo de superioridade, uma vez que os novos escolta possuíam capacidades muito superiores aos da geração anterior, lembrando que o valor final de um escolta moderno de primeira linha é proibitivo para muitas nações, sendo poucos países que conseguiram acompanhar a evolução, sendo limitado á um seleto grupo de países, como EUA, Reino Unido, França/Itália, Rússia, Coréia do Sul, Espanha, Suécia e o Japão. Há outros países que constroem e operam seus próprios navios de escolta, os quais são classificados como no “estado da arte” e possuem custo/benefício bastante atraentes, apesar da construção de poucas unidades.

Fragatas Classe Oliver Hazard Perry
Nas últimas décadas do Século XX, os navios de escolta cresceram em tamanho, deslocamento e capacidades, os quais passaram a se apresentar como plataformas multipropósito, tendo recebido sistemas que possibilitaram aos mesmos não apenas garantir a proteção da esquadra, mas também de lançar ataques contra alvos no território inimigo, graças a integração de sistemas celulares de mísseis de cruzeiro, conferindo flexibilidade estratégica e maior poder de fogo a esquadra. Um grande exemplo desse novo conceito pode ser visto durante os ataques contra terroristas na Síria, com mísseis Kalibr tendo sido lançados por corvetas classe Buyan-M da Marinha da Rússia.

Nos próximos capítulos desta série, iremos abordar a importância das escoltas no cenário naval, os modernos meios navais, além de apresentar os tipos de escolta, com capítulos dedicados a apresentar as corvetas, fragatas e os destroyers.
Corveta russa Classe Buyan-M dispara um missil de cruzeiro Kalibr

A série “Os Navios de Escolta” irá presentear nossos leitores com um material bastante objetivo, completo e que representará uma importante base para quem objetiva estudar e conhecer mais sobre o poder naval e a importância dos navios de escolta, algo que é bastante discutido nos fóruns e redes sociais devido as necessidades brasileiras de obter novos meios.

Acompanhe nossa série e participe dando sua sugestões e críticas, basta clicar na parte superior de nosso site em FALE CONOSCO, ali você encontra nossos contatos. Um grande abraço e “bem vindos abordo”.


Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.


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2 comentários:

  1. Lendo este segundo capítulo da série me veio a tona algumas dúvidas que sempre tive a respeito deste vaso de guerra e que será bastante relevante abordá-los neste capítulo já que foi exposto no mesmo.
    1 - No 15° parágrafo foi abordado que nos navios modernos, os mísseis vem tomando lugar dos canhões de grosso calibre, e sempre que vejo fotos de modernas escoltas como das classe de destroyer arleigh burke e do projeto das novas corvetas da classe tamandaré, sempre me questiono qual o proposito dos canhões nos teatros de guerra do século XXI equipados nessas modernas classes?;

    2 - Hoje em dia, navios torpedeiros, ainda possuem espaço no cenário da guerra moderna ou já são considerados obsoletos, sendo facilmente neutralizados?;

    3 - No 17° parágrafo quando se afirma que os custos para a construção de modernas escoltas está se tornando cada vez mais proibitivos, realizar parceiras, assim como a França/Itália o fez com o projeto da FREMM, não seria a melhor saída para minimizar e diluir os custos na quantidade já que a tecnologia embarcada nesses navios possibilitou a diminuição da frota em relação das quantidades gigantescas vistas no tempo da segunda guerra mundial?;

    4 - Assim como na aviação militar de caça, navios escoltas também são diferenciados através de gerações para distinguir as tecnologias embarcadas?.

    No mais, somente parabenizar mais uma vez a sua forma de escrever, deixando o texto bem agradável e fácil de ler sem deixar em nada a desejar no rico conteúdo apresentado.

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    1. Boa tarde Klaus,

      É muito bom contar com sua participação aqui no GBN, bem, vou responder as questões que foram levantadas por ti.

      1 - Os canhões perderam o protagonismo para os mísseis, porém, continuam sendo importantes coadjuvantes. Sendo utilizados para defesa aérea e de superfície. um exemplo que posso dar com relação a essa capacidade, sãos os canhões Bofors Trinity MK-3 de 40 mm que dotam nossas fragatas Classe Niterói, o qual é apontado pelo radar RTN -30C, o mesmo que guia os mísseis Aspide, ou pode ser apontado pela mira optronica EOS 400. As granadas disparadas por este canhão são do tipo de fragmentação e sua detonação se dá por espoleta de aproximação ou ainda programáveis. O alcance maximo é de 10 km contra alvos de superfície, ou 6 km contra alvos aéreos. Ainda sobre canhões, os ingleses tiveram uma dura experiência na Malvinas, onde muitas de suas escoltas estavam amparadas apenas pelos mísseis, o que em determinadas ocasiões foi um desastre.

      2 - O torpedeiros hoje deram lugar a outro tipo de embarcação mais rápido e letal, trata-se das lança-mísseis, que nos primeiros empregos se mostraram letais, dentre estas estavam as classes Komar e Osa.

      3 - As parcerias são uma maneira de diluir os custos de desenvolvimento e construção, o que torna viável os projetos de grande complexidade tecnológica, algo que não é comportado por países com orçamento militar mais modesto que os de países como EUA, Rússia e China.

      4 - Não há uma analogia como a realizada no campo da aviação de combate, pois há navios e navios, no campo naval há o espaço para que um determinado projeto perdure muito além do que seus contemporâneos sem que o mesmo se mostre atrasado em relação a projetos mais modernos. Os navios são meios muito complexo e capazes, o que difere muito das aeronaves em relação a capacidade de se manter no "estado da arte".

      Espero ter ajudado a esclarecer suas dúvidas, e ao longo desta série vamos abordar muitos pontos importantes e aprofundar mais no conhecimento a cerca de cada tipo em específico, abordando as principais classes.

      Um grande abraço e obrigado pela participação Klaus.

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