segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

A colisão entre o TF-33A e o Piper Aztec: O que se sabe sobre a morte de Catello Branco?

No dia 18 de julho de 1967, ocorreu um estranho acidente aéreo nas proximidades de Fortaleza. Uma colisão aérea envolvendo um Piper Aztec PA-23 de prefixo PP-ETT e uma aeronave de treinamento da FAB, um TF-33A (FAB-4325) que realizava voo de instrução nas proximidades da Base Aérea de Fortaleza. Seria apenas um desastre aéreo se não fosse o fato de um dos passageiros do Piper Aztec ser o ex-presidente do Brasil, Marechal Humberto de Alencar Castello Branco.

O GBN News hoje trás aos leitores uma história que após mais de 50 anos, ainda levanta muitas dúvidas sobre o que realmente aconteceu naquele dia fatídico, durante um dos momentos mais complexos e difíceis do Brasil que estava então sob o regime militar, o qual enfrentava intensos protestos, onde o presidente Castello Branco se preparava para fazer um pronunciamento á nação, o qual nunca foi de fato conhecido com sua morte.

Especula-se que o Marechal Castello Branco apresentaria seu posicionamento sobre os rumos do Brasil, onde vale lembrar que Castello Branco era considerado um importante chefe militar, respeitado e que possuía uma posição moderada, tendo sido indicado por uma comissão militar á ocupar a Presidência da República após a instauração do regime militar no Brasil. Ele porém, se mostrava favorável a restituição da ordem política aos civis, tendo se afastado do Planalto em 15 de março daquele ano, onde sob pressão passou o cargo ao então General Arthur da Costa e Silva. Fato digno de nota era divergência entre ambos, onde há relatos que Castello Branco tinha determinado opor-se ao seu sucessor, algo que teria levado á uma ruptura na unidade do regime militar se Castello Branco realiza-se um discurso público, o que teria mudado os rumos brasileiros e sua história.

Castello Branco havia embarcado no Piper PA-23 Aztec pertencente ao governo do Ceará, após realizar uma visita ao sítio de Rachel de Queiroz, na região de Quixadá, acompanhado de uma comitiva. A aeronave era comandada pelo comandante Celso Tinoco Chagas tendo como co-piloto seu filho, Emílio Celso Chagas. Além do marechal Castelo Branco, estavam á bordo no Piper a escritora Alba Frota, o major Manuel Nepomuceno e o irmão do marechal, Cândido Castello Branco.

A aeronave decolou rumo a Base Aérea de Fortaleza por volta das 9hrs da manhã daquele 18 de julho. Enquanto da Base Aérea de Fortaleza decolavam quatro aeronaves Lockheed TF-33A afim de realizar treinamento de rotina. A esquadrilha estava sob o comando do Tenente Areal. O tempo estava bom, visibilidade praticamente ilimitada e nebulosidade insignificante.

Por volta das 9:30, o Piper estava á 5 mil sobrevoando o entorno da Base de Fortaleza, quando foi atingido por uma das asas do Lockheed TF-33A FAB-4325, pilotado pelo aspirante Alfredo Malan d'Dagrogne. A colisão arrancou o estabilizador da aeronave que conduzia Castello Branco, fazendo que a mesma precipita-se ao solo até atingir uma área descampada próxima a base. O TF-33A apenas perdeu o tanque de combustível alojado na ponta da asa e conseguiu pousar sem dificuldades na base aérea, com seu piloto sendo conduzido ao hospital. Já os ocupantes do Piper Aztec PP-ETT não tiveram a mesma sorte, dos seis ocupantes, apenas o co-piloto sobreviveu ao acidente. Castello Branco ainda teria sido encontrado com vida, mas não resistiu aos ferimentos e veio a óbito.

A morte de Castelo Branco teve um grande impacto no Brasil, sendo motivo de comoção por grande parte da população e nas casernas. Fora decretado luto oficial de oito dias pelo então presidente Costa e Silva.

As investigações e o inquérito aberto após o desastre aéreo serviram para levantar mais questões do que respostas, servindo de fomento as mais variadas teorias, sendo até hoje motivo de muitas dúvidas.

Poucas informações foram reveladas sobre as investigações, e as mesmas são em muitos pontos divergentes e contraditórias, o que leva a diversas especulações, principalmente por conta de o inquérito ter sido conduzido numa das fases mais duras do regime militar.

Dentre as causas apontadas como responsáveis pelo acidente, um dos relatórios divulgados apontam falha deliberada do comandante do Piper Aztec, que teria invadido inadvertidamente uma área restrita ao treinamento da Força Aérea Brasileira.

O inquérito oficial seria marcado por contradições em relação aos dados colhidos pela equipe de investigação. Os pontos mais controversos seriam:

- Tipo de colisão: segundo o relatório oficial, a asa do T-33 arrancaria a cauda do Piper. Porém as fotos tiradas pela equipe de investigação mostravam que apenas o leme da aeronave fora arrancado;

- Danos: a aeronave teria sido parcialmente incendiada. No entanto, as fotos e testemunhos demonstram que não houve incêndio a bordo. Durante o resgate dos corpos, a aeronave seria destruída a golpes de machado, prejudicando as investigações;

Outros pontos relevantes levantam dúvidas sobre o que realmente ocorreu naquele dia, levando ao acidente que vitimou Castello Branco.

É curioso o fato de apenas constar nos altos das investigações o depoimento do aspirante Alfredo Malan d'Dagrogne, sem nenhuma menção em qualquer parte do inquérito dos nomes dos demais pilotos que compunham a esquadrilha na qual voava o TF-33A FAB 4325 envolvido na colisão, fato muito estranho, uma vez que a mesma participava de um exercício com outras três aeronaves, que pela lógica teriam testemunhado a colisão, porém, nunca foram ouvidos ou mesmo citados no inquérito.

A investigação, ainda concluiu que o choque foi acidental, onde ambas as aeronaves estavam em um mesmo "corredor" em direção à Fortaleza, e que teria havido, possivelmente, falha do controle de tráfego aéreo. Mas é curioso que o tráfego aéreo civil era respeitado e as aeronaves da FAB mantinham separação visual dos mesmos, como acontece até hoje. Mas o bimotor que levava Castello Branco foi atingido na deriva com uma precisão "cirúrgica", com poucos danos ao TF-33A. As condições de visibilidade eram excelentes, dando condições ao piloto, o Aspirante Alfredo Malan d'Dangrogne, de avistar perfeitamente o tráfego à sua frente. Mesmo assim, ocorreu a colisão, o que despertou a suspeita, anos depois, de que não se tratava de um acidente, e sim de um atentado.

Durante algum tempo foi especulado por alguns historiadores e setores da mídia que a morte do marechal fora um atentado, por conta do seu suposto envolvimento em um movimento, liderado pelo senador Daniel Krieger, que era contrário ao endurecimento do regime militar. Essa versão ganharia força pelo fato do tanque de combustível suplementar do TF-33 que colidiu com o estabilizador do Piper estar vazio. Porém os adeptos dessa teoria nunca conseguiram explicar o porquê do Piper ter invadido uma área restrita de treinamento da FAB.

Em 1991, Rachel de Queiroz contaria que Castelo Branco ordenara ao piloto sobrevoar uma linha de transmissão construída em sua gestão para que apreciasse uma de suas obras. Apesar da oposição do piloto, a mudança de rota foi realizada, de forma que o Piper acabou invadindo a área de treinamento da FAB, assumindo o risco de colisão com as aeronaves de treinamento

Talvez este seja um dos mistérios que não serão desvendados, onde os principais envolvidos nesta página da história brasileira já estão mortos.

O GBN News e o Canal “Arte da Guerra” irão lançar em breve uma matéria e um vídeo sobre o TF-33A, aguardem, vem por ai mais um trabalho primoroso de nosso Cmte Robinson Farinazzo e do nosso editor Angelo Nicolaci, em breve.



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