Dando seguimento as matérias combinadas com o Canal “Arte da Guerra”, desta vez vamos falar sobre Iwo Jima, e claro, não é possível
falar de Iwo Jima sem falar de Tadamichi Kuribayashi, o genial general do exército imperial japonês que comandou a defesa da ilha de Iwo Jima
durante a Segunda Guerra Mundial.
Kuribayashi
nasceu em uma família de grande tradição samurai em Nagano, Japão, no ano de 1891. Obteve
grande destaque no Colégio Militar de Guerra, onde se graduou em 1923,
recebendo o sabre de oficial das mãos do próprio imperador Taishō.
A partir de
1928, Kuribayashi foi enviado como adido militar da Embaixada japonesa em
Washington nos EUA, onde conduziu extensos trabalhos de pesquisa sobre assuntos
relativos a industriais de defesa e as forças militares dos EUA.
Um ponto
interessante, é que Kuribayashi após concluir sua adidância, afirmou em carta
redigida à sua família que "os Estados Unidos eram o último país com o
qual o Japão deveria se confrontar".
Após uma
virada nos rumos da Segunda Guerra em favor dos aliados, o alto comando japonês
se viu diante de uma dolorosa realidade, o Japão não tinha mais fôlego para
manter por muito tempo sua capacidade ofensiva, e isso ficava cada dia mais
claro diante do avanço norte americano no pacífico.
O alto
comando então decidiu compor uma defesa em linhas, onde Iwo Jima seria a última
linha de defesa antes que os americanos pudessem atacar diretamente o Japão,
sendo Iwo Jima um ponto estratégico para ambos os lados. Diante deste dilema,
Kuribayashi foi incumbido para cuidar das defesas de Iwo Jima. Com a missão de infligir
as maiores baixas possíveis aos americanos e retardar a captura da ilha, dando
tempo para que o Japão reorganiza-se suas defesas, e negar o máximo de tempo
que Estados Unidos tivessem a possibilidade de estabelecer uma base aérea na
ilha, a qual serviria de “trampolim” para atacar o Japão diretamente.
Tal operação
levou a evacuação de cerca de mil civis que habitavam a ilha, tendo sido deslocada
uma guarnição com 21 mil soldados para reforçar as defesas de Iwo Jima. Porém,
os equipamentos com os quais contavam eram básicos, se limitando a fuzis,
granadas de mão, metralhadoras, morteiros e alguns blindados leves, nada que
oferecesse uma real diferença frente ao avanço das forças norte americanas.
Apesar dessas deficiências, Kuribayashi possuía uma incrível visão estratégica,
e inovou em diversas táticas de defesa que implementou no seu plano de defesa
da ilha, contrariando toda uma postura defensiva padrão adotada pelo exército
imperial japonês, que de certa forma obteve algum êxito no primeiro momento,
apesar de já ser tida como uma derrota esperada.
Kuribayashi
ordenou que fossem removidas as trincheiras das praias, o que segundo sua visão
estratégica, seria perda desnecessária de homens e equipamentos frente ao inimigo
que se esperava. Ao invés de erguer suas
defesas nas praias e enfrentar os desembarques de frente, ele ordenou a construção de uma complexa rede de túneis e bunkers, defesas em profundidade interconectadas, com posições estáticas que contavam
com armamento pesado, usando a artilharia disponível e ninhos de metralhadora. Como
os blindados que dispunha para defesa não eram páreos para confrontar diretamente
as forças dos EUA, Kuribayashi optou por empregar os blindados sob
comando do coronel Takeichi Nishi como artilharia, os camuflando e protegendo em
trincheiras.
Um
dos pontos fortes da defesa de Iwo Jima era a vasta rede de túneis, embora os
túneis que ligavam o Monte Suribashi ao resto da ilha não tivessem sido
concluídos, Kuribayashi usou sua destreza e dividiu a ilha em setores
semi-independentes ao sul e ao redor do Monte Suribachi, com as principais
defesas construídas no norte. Ao longo de toda ilha
haviam bunkers enterrados, armadilhas, principalmente ao norte. Geradores movidos a querosene e gasolina mantinham as
luzes e os rádios operacionais.
Outra noção
que o general japonês tinha plena consciência, é que ninguém que estava
defendendo a ilha voltaria com vida ao Japão, estando preocupado com sua missão
de infligir o maior número de baixas possível ao inimigo. E Kuribayashi não
poderia contar com nenhum tipo de apoio aéreo ou naval, uma vez que o Japão
poupava esses recursos para empregar na defesa do território do Japão.
Lembrando que a essa altura a indústria japonesa estava exaurida e o esforço de
guerra japonês esta no seu limite, próximo ao colapso pela falta de material e
mesmo de pessoal qualificado em suas tropas.
Kuribayashi
teria o desafio de enfrentar uma força invasora muito maior que a sua e com
meios muita mais capazes do que os quais contava naquele momento.
A
Batalha de Iwo Jima ganhou as telonas do cinema sob direção de Clint Eastwood,
que produziu o magnífico filme “Cartas de Iwo Jima, que foi inspirado nas
cartas enviadas pelos defensores da ilha as suas famílias. O próprio General
Kuribayashi escreveu inumeras cartas para a sua esposa, as quais hoje são
documentos históricos, que refletem os sentimentos e pensamentos dos defensores
de Iwo Jima.
A
Batalha de Iwo Jima teve inicio em 19 de fevereiro de 1945, quando a força
tarefa 58 da Marinha dos EUA chegou á Iwo Jima nas primeiras horas da madrugada
daquele dia, logo ao amanhecer um intenso bombardeio naval saturou as praias da
ilha, sendo sucedido pelo desembarque do primeiro contingente de Marines. Enfrentando
pouca resistência, os norte americanos havia acreditado que os japoneses haviam
sofrido pesadas perdas diante do bombardeio anterior ao desembarque, porém, essa era a estratégia de Kuribayashi,
que permitiu que os americanos desembarcassem nas praias de Iwo Jima e ficassem
confiantes, permitindo que os Marines avançassem pelo terreno arenoso
vulcânico e os americanos começassem a desembarcar seus equipamentos pesados.
Após
algumas horas os americanos tinham tomado a praia com milhares de homens e
equipamentos, era o momento que aguardava Kuribayashi, o mesmo deu então ordem
para que suas tropas lançassem um fulminante ataque contra as forças invasoras,
todas as metralhadoras e morteiros dispararam contra a “cabeça de praia”,
desnorteando as forças americanas e levando o caos, foi um verdadeiro banho de
sangue, com as tropas sendo pegas de surpresa.
A artilharia pesada posicionada no Monte Suribachi abriu fogo
contra as posições americanas, em seguida recolheram-se evitando o
contra-ataque. A rede de túneis construída começou a mostrar seu valor
estratégico, permitindo que as tropas japonesas fizessem manobras, recuando de
suas posições diante do avanço das forças americanas e após sua passagem,
retomavam suas posições surpreendendo os invasores com ataques em sua
retaguarda, estratégia que surpreendeu os militares americanos, que por diversas
vezes certificavam a limpeza da área com uso de granadas e lança-chamas contra
as casamatas defensivas japonesas, mas que em pouco tempo voltavam a disparar
contra as tropas, o que causou um grande número de baixas nas primeiras horas
do combate.
O combate foi intenso, mas no quarto dia da Batalha de Iwo
Jima, uma emblemática foto foi tirada após a tomada do Monte Suribachi, a
bandeira dos EUA tremulava após ser hasteada por um grupo de Marines. Apesar da
conquista do monte, o grande desafio seria tomar o lado norte de Iwo Jima, onde
havia o maior aparato defensivo. A missão resultou em milhares de americanos
mortos, porém, os japoneses também sofreram pesadas perdas, sendo o ataque
lançado para retomar o Monte Suribachi um dos maiores desastres para os
japoneses, resultando na morte de mais de 780 homens de uma força formada por
mil, com a maior parte sobrevivente ao ataque sendo feita prisioneira ou
morrendo em conseqüência dos ferimentos posteriormente.
Mas no dia 25 de março, diante da derrota eminente e com
escassos recursos, os japoneses lançaram sua última ofensiva contra a base
aérea estabelecida pelos americanos no norte da ilha, uma tentativa desesperada
para tentar matar os pilotos americanos e assim atrasar os ataques contra o
Japão a partir de Iwo Jima. Segundo relatos, Kuribayashi teria pessoalmente
liderado o ataque final contra os americanos, a defesa da ilha resultou na morte de todos os soldados imperiais
e do General Kuribayashi em batalha, diferente do que ocorreu em outras
derrotas japonesas, onde seus líderes realizaram o Harakiri diante da derrota eminente,
Kuribayashi preferiu lançar um ataque silencioso, em uma última tentativa de
atrasar as forças americanas, seu corpo jamais foi encontrado. Esse era o fim
de um dos maiores estrategistas japoneses e um legítimo guerreiro.
No dia 26 de março de 1945, as forças norte americanas declaravam Iwo Jima como território seguro, sendo oficialmente o fim de uma das mais sangrentas batalhas travadas no teatro de operações do Pacífico.
O
nosso parceiro, Cmte Robinson Farinazzo, preparou um vídeo que fala sobre o General
Kuribayashi e vale a pena conferir no Canal “Arte da Guerra” o vídeo "General Kuribayashi, o defensor de Iwo Jima" e não
esqueça de se inscrever no canal. Outra parceria que estréia nessa matéria
combinada, é o vídeo produzido pelo Luciano Silva, que trás um vídeo que fala
sobre as espadas empregadas pelos japoneses na Segunda Guerra Mundial em "Gunto - As espadas modernas do Japão",
contando um pouco da história japonesa e a relação das espadas com a tradição
militar nipônica, uma matéria muito interessante, vale a pena conferir, clique aqui no link.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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