O Exército Brasileiro tem o enorme desafio
de prover a defesa das fronteiras do Brasil, as quais são extensas e fazem
divisa com quase todos país do continente. Tal desafio demanda meios
necessários a proteção das mesmas, e embora não haja uma real ameaça a
integridade territorial brasileiras em nosso horizonte, é preciso dispor dos
meios adequados para contrapor qualquer ameaça que venha a surgir no horizonte.
Diante deste cenário, a região sul do país,
onde prevalece o teatro de operações ideal para o emprego da “Arma Blindada”,
dada as características geográficas da região, abriga as principais guarnições
de blindados do Exército Brasileiro, o qual atualmente conta com um mix de
carros de combate, sendo 239 Leopard 1A5 e 128 da versão 1A1 de fabricação
alemã e 32 M-60 TTS remanescentes em operação dos 91 originalmente adquiridos
juntos aos EUA.
Tendo em vista o orçamento que esta muito
distante da real necessidade da força terrestre brasileira, a qual possui
grandes necessidades tecnológicas para
cumprir com sua missão constitucional diante do moderno teatro de
operações, é preciso que o mesmo busque soluções criativas para suas
necessidades, afim de maximizar suas capacidades e mantê-las com os recursos
dos quais dispõe.
Diante do que expusemos acima, tomamos a
liberdade de pesquisar inovações e soluções a “Arma Blindada” do Exército
Brasileiro, buscando através deste artigo abrir o debate e a discussão acerca
das soluções as quais podemos adotar para prover os meios necessários a força
terrestre em manter a posição soberana de nossa nação. Assim, estudamos várias
opções e soluções viáveis, e dentro dessa visão, vislumbramos uma boa resposta
as nossas necessidades, considerando principalmente o cenário regional no qual
estamos inseridos e o nível de ameaças que são factíveis de ser consideradas em
uma hipotética agressão, ou a necessidade de um incursão de nossa força em
territórios vizinhos caso seja necessário no futuro.
Esta que será a primeira matéria de uma
série, que terá por objetivo trazer o debate sobre a questão, terá como
primeira parte a apresentação de uma solução simples e de baixo custo,
representada pela modernização de nossos 91 carros de combate M-60 TTS, dos
quais 59 encontram-se estocados aguardando uma definição de seu destino.
O M-60 Patton, entrou em operação na década
60, tendo sido o principal tanque de batalha dos EUA ao longo de pouco mais de
três décadas. Tendo representado o auge da tecnologia em sua era, armado
com um canhão M68 de 105mm e protegida por uma blindagem superior aos seus
rivais à época, tendo sido projetado para contrapor o soviético T-55. O M-60 teve mais de
15.000 unidades produzidas em suas diversas variantes, tendo operado com as
forças armadas em mais de 24 países. Hoje, apesar de superado pelos mais
modernos e eficientes MBTs, deu baixa em diversos países, mas metade desses blindados
ainda continua em operação em diversos países pelo mundo, muito dos quais
passaram por extensos programas de atualização e modernização, com os quais
ganharam um nova vida no cenário de combate moderno.
As principais batalhas onde o M-60 foi empregado,
tiveram lugar junto as forças de defesa israelenses, com a qual entrou em combate
a primeira vez em 1973, tendo participado em todos os conflitos nos quais
Israel participou desde então, proporcionando à Israel obter valiosas lições de
combate, com as quais obteve grande vantagem no campo de batalha, conhecendo bem
as vulnerabilidades e vantagens do M-60, experiência a qual guardou a sete
chaves dos demais operadores do carro de combate regionais, tendo em vista que
vizinhos como Egito e Arábia Saudita também possuíam grande frota desses
blindados em seus exércitos.
Lembrando que ainda hoje as maiores frotas
de M-60 estão em operação no Egito e Arábia
Saudita , onde mesmo após décadas operam na mesma configuração
dos anos 70!!! Dividindo espaço com os modernos M-1A1 Abrams.
Diante do atual cenário de conflitos
assimétricos, o teatro de operação tem apresentando grande mudanças no clássico
emprego da “arma blindada”, onde os modernos e caros carros de combate não tem
representando um fator preponderante no campo de batalha, abrindo espaço para o
emprego de meios mais convencionais e de baixo custo que oferecem uma melhor
razão custo/benefício diante da mesma capacidade de resposta obtida por ambos
no teatro de operações. Assim, assistimos ao longo dos últimos anos, cada vez
mais presente nos conflitos em ebulição no Oriente Médio, o emprego de veículos
vetustos, os quais tem apresentando ótimo rendimento e levado muitos de seus
operadores a promover estudos e programas de modernização e atualização dos
mesmos para o “estado da arte” no quesito eletrônico e armamento
disponibilizado as suas frotas.
Tanto o Egito, Arábia
Saudita como a Turquia, sofreram significativas perdas em
combate no cenário assimétrico do Iêmen, Síria e norte do Iraque, sendo os
principais responsáveis por essas perdas as modernas e práticas armas
antitanque, como RPGs, ATGM e outros.
A Turquia curiosamente operou com seus M-60
no conflito sírio, tendo empregado na ocasião alguns dos exemplares modernizado
M-60T, resultado do programa de upgrade executado com auxílio do expertise
israelense. Diante do dinâmico teatro de operações, os “vetustos” M-60
turcos, lograram mais sucesso nas operações que os relativamente modernos
Leopard 2A4, os quais sofreram pesadas baixas no conflito.
Essa versão atualizada dos M-60 turcos, é o
ponto de partida para nossa análise neste artigo. O M-60T recebeu um intenso
processo de atualização, onde recebeu atenção especial em sua blindagem, a qual
tinha ainda proposta adoção de um sistema de proteção ativa e novos controles
de tiro, pontos que não foram totalmente implementados ao projeto devido problemas nas relações diplomáticas entre
Ancara e Jerusalém, os quais resultaram numa modernização mais simples em
relação ao pacote oferecido pela IMI ao governo de Ancara, o qual é uma
interessante opção ao Exército Brasileiro.
Abordando agora as soluções que podem ser
empregadas em uma hipotética modernização/repotencialização dos M-60 TTS
brasileiros, Vamos apresentar algumas soluções que estão disponíveis no mercado
de defesa e que poderiam vir a atender as nossas necessidades e trazer os 91 CC
M-60 novamente ao moderno teatro de operações e permitir ao Brasil operar esse
blindado de maneira satisfatória e por um período prolongado á baixo custo.
Dentre as necessidades que identificamos
para manter os nossos M-60 capazes de suprir as necessidades de nossa força
terrestre, estão o aprimoramento do poder de fogo, mobilidade e capacidade de
sobrevivência, além da introdução de sistemas de suporte a tripulação.
O primeiro ponto que iremos abordar trata
das melhorias em seus sistemas de tiro e sobrevivência, os quais são conhecidos
como o “calcanhar de Aquiles” deste blindado, o qual apresenta relativa
necessidade de incremento da proteção da torre, a qual poderia ter como opção a
substituição integral da torre original, conforme foi realizado no programa
executado pelos israelenses em sua frota de M-60 no fim da década de 90. O
programa dotou os M-60 de uma nova torreta blindada, a qual manteve o canhão de
105mm, que passou a contar com sistema de acionamento elétrico, substituindo o
sistema hidráulico original, o qual usava fluido hidráulico altamente
inflamável, o qual muitas vezes era responsável por provocar incêndios quando
atingidos, além de freqüentemente dar panes que impossibilitavam o emprego do
canhão ou movimentação da torreta. Os controles de disparo destes M-60 foram
atualizados o que melhorou significativamente a letalidade e a capacidade de
sobrevivência do tanque. Segundo informações fornecidas, tal programa de
modernização permitiu que os artilheiros veteranos da IDF obtivessem excelentes
resultados em disparos a longa distancia, muitas vezes derrotando as
tripulações mais jovens que operavam MBTs modernos.
O "Magach”, como foi denominada a
versão desenvolvida em Israel, recebeu um motor com 950 hp, o qual operou por
um período com a IDF, sendo gradativamente substituído pelas novas variantes do
Merkava, deixando a base para o desenvolvimento da versão M-60T da Turquia
criado pela IMI,a qual denomina como programa Sabra III.
Os M-60T tiveram o canhão de 105mm substituído
pelo MG251 120/44mm da IMI , que projetou
especialmente para substituir os canhões de 105mm, opção a qual não seria
adotada pelos M-60 brasileiros caso opta-se por este projeto israelense, tendo
em consideração a grande quantidade de munição 105mm á qual dispomos no Brasil
e ampla gama de munições que podem ser empregadas por este canhão em relação ao
120mm, considerando também que a adoção do 120mm reduziria a capacidade de munição
em nossos M-60 e o aumento no peso final do blindado.
Outras soluções e pacotes visando dar um
novo fôlego aos M-60 foram desenvolvidos por outros conglomerados de defesa, os
quais identificaram o vasto campo de possibilidades a ser explorada pelos operadores
dos M-60 remanescentes, dentre estes o Brasil. A Raytheon, Leonardo
e a General Dynamics Land Systems, também oferecem pacotes de modernização similares
ao oferecido pela israelense IMI. Essas atualizações buscam suprimir as
vulnerabilidades dos M-60, especialmente em sua blindagem e sistemas hidráulicos
e de pontaria, os quais tirando a substituição dos canhões 105mm, a qual encaro
como desnecessária para nosso teatro regional de operações.
A Raytheon oferece um pacote de extensão de vida para o
M-60 bem interessante. Entre as principais modificações estão a adoção de
um novo canhão de 120mm e uma estação de armas controlada remotamente montada à
esquerda da torre. A proteção da torre ganhou um gradeado contra RPGs e
ATGMs, recebendo ainda saias laterais, na seção traseira e compartimento do
motor fora adicionado incrementos em sua armadura, a qual também teve atenção
especial na seção frontal do casco.
O programa SLEP como foi denominado,
introduz modificações que incluem ainda sistemas de descarga de fumaça, novos conjuntos
optronics que inclui um sistemas de visão 360 com visão panorâmica diurna/noturna
para o condutor. A motorização do M-60 abandona o velho conjunto com 750hp para
receber um motor Diesel AVDS-1790 com 1.200hp. Este pacote ainda conta com atuadores
elétricos para a torre e o canhão, substituindo os problemáticos sistemas
hidráulicos originais, um novo sistema de controle de tiro (FCS), permite que o
M-60 A3-SLEP dispare em movimento.
Uma das importantes alterações propostas, é
o uso do acelerador de pistão elétrico Curtiss-Wright. Este sistema
totalmente eletro-mecânico substitui os sistemas de estabilização hidráulicos e
híbridos mais antigos e menos precisos da torre do M-60. O novo sistema de
direção e estabilização de torre oferece um controle mais preciso e
significativamente mais confiável, garantindo uma melhor resposta e redução no
ruído ao substituir as linhas hidráulicas por atuadores elétricos controlados
digitalmente. Isso permite que a torre gire mais rápido e dispare com
precisão enquanto o blindado estiver em movimento, garantindo redução de peso e
segurança com a ausência dos fluidos hidráulicos inflamáveis na torre.
Outra gigante da industria de defesa, a
General Dynamics Land Systems (GDLS), também desenvolveu um pacote de
modernização para os M-60, tendo apresentado no início do ano 2000 seu conceito
com um M-60 atualizado e equipado com uma torre do M-1 Abrams, sendo denominado
M60/2000. Essa variante participou da disputa pelo contrato de modernização dos
M-60 na Turquia, porém, como citado no inicio desta matéria, o pacote
israelense da IMI foi o vencedor do contrato. Após sua participação na
concorrência turca, a GDLS ainda tentou fornecer tal pacote ao governo egípcio,
que analisou a proposta, mas não avançou.
O M60/2000 apresentou grandes melhorias,
sendo um pacote de modernização bastante extensivo, elevando de maneira
considerável as capacidades dos vetustos M-60 a um novo padrão que não deixava
em nada a dever aos modernos blindados no campo de batalha. Mas a GDLS durante
a concorrência na Turquia, prosseguiu no desenvolvimento da sua proposta, o
qual resultou no programa 120S.
O programa M60/120S deu vida ao mais
radical pacote de modernização do M-60, tendo tido inicio em dezembro de 2000 e
sendo apresentado em agosto de 2001. Tamanho foi o processo de modificações
inseridas no veículo original, que a GDLS passou a adotar apenas a designação
120S, tendo em vista que ao fim do programa havia surgido um novo carro de
combate, muito semelhante ao M1A1 Abrams, porém com dimensões reduzidas.
A proposta da GDLS inclui a substituição da
torre original do M60 pela torre do M1A1 Abrams, a qual apresenta uma blindagem
muito superior á encontrada na torre original, além de possuir um paiol
separado para munição de 120mm. O canhão M256 de 120mm pode operar com munições
de diversas origens, assim possibilitando enorme flexibilidade logística e uma
vasta gama de opções de munições, sendo complementado por uma metralhadora
coaxial M240 de 7,62mm. O 120S ainda dispõe de uma metralhadora M2 de 12,7mm
para o comandante e outra M240 de 7,62mm.
Entre os recursos disponibilizados nos
novos 120S, figuram a adoção dos lançadores de fumígenos dispostos nas laterais
da torre, sendo capazes de disparar para os lados e para frente do veículo.
Ainda tratando-se de recursos de proteção, o 120S recebeu um dispositivo que
cria cortina de fumaça através da injeção de diesel no escape do motor, criando
uma densa nuvem de fumaça.
Um novo sistema de controle de tiro digital
foi adotado pelo 120S permite que ele trave alvos e dispare mesmo em movimento,
capaz de operar sob condições adversas tanto de dia como a noite, com alto
índice de acerto no primeiro disparo. Dentre os optrônicos que foram
integrados, agora o M60 passa a contar com um sistema de visão estabilizada,
equipado com FLIR e sistema de detecção
laser e térmico.
A suspensão do 120S recebeu atenção
especial, passando a ser equipado com sistema de barra de torção também oriunda
do M1 Abrams, afim de suportar o peso adicional da nova torre e blindagem,
tendo ainda a opção de um sistema hidropneumático que possibilita melhor
desempenho fora de estrada e economia de espaço. A esteira e parte superior da
suspensão receberam a proteção de uma saia blindada, a qual ainda criou novos
espaços na parte superior traseira do casco, possibilitando a adição de novos
sistemas ou armazenamento de provisões (munições, peças de reposição,
combustível).
Com relação a motorização, o 120s abandona
o velho propulsor original do M60 para adotar o AVDS-1790-9AR com 1200hp, o
mesmo motor usado nos Merkava Mk3, o qual conta com a transmissão automática
Allison x-1100-5 similar as integradas aos M1 Abrams.
O pacote oferecido pela General Dynamics
Land Systems com certeza é uma opção que eleva consideravelmente as capacidades
de ataque e sobrevivência dos M60, tornando uma solução letal para o moderno
teatro de operações. Mas olhando pela perspectiva de dotar o Exército Brasileiro,
tal pacote não se enquadra exatamente em nossas necessidades, sendo
demasiadamente oneroso, apesar de oferecer uma capacidade muito acima da
objetivada para nossos M60, o que levando em consideração nosso teatro de
operações regionais e suas possíveis ameaças nos daria enorme vantagem
estratégica.
Outra interessante proposta para os M60 é o
pacote oferecido pela italiana Leonardo, que há pouco
tempo apresentou ao mercado uma solução modular, a qual integra uma nova arma
principal de 120/45mm de recuo reduzido, sendo a mesma solução adotada pelo
veículo blindado sobre rodas Centauro II.
Segundo
informações obtidas, a proposta italiana conta com diversos sistemas e subsistemas,
que incluem o Sistema de Controle de Tiro (FCS), visão noturna e o canhão de
120mm, projetados e fabricados pelo grupo. Ponto interessante pela autonomia que
confere ao cliente em saber que não terá de obter licenças e permissões á
outras nações para aquisição e manutenção dos sistemas envolvidos no pacote.
Um dos pontos
mais atraentes da proposta da Leonardo é o canhão de 120mm com baixo recuo, o
qual oferece maior precisão e peso reduzido, o que contribui para redução da
fadiga estrutural do casco e acessórios dos M60.
Os sistemas
embarcados como o de controle de tiro, integra optronics que possibilitam o
emprego tanto de dia como a noite, dispondo de um alto nível de proteção
balística da torre e áreas sensíveis, somando aos demais itens da modernização,
o M60 tem um grande aumento na probabilidade de detectar e neutralizar ameaças
potenciais durante operações sob quaisquer condições.
Uma solução
muito importante introduzida pela Leonardo, é o controle de tiro, que através
de uma suíte digital permite total controle pelo comandante e melhor visão
situacional, com sistemas de visão em 360° panorâmica que permitem acompanhar
tudo que acontece ao redor do blindado sem a exposição da tripulação ao
inimigo.
A solução da
Leonardo inclui a atualização do conjunto propulsor, aumentando o a potencia do
motor em 20%, conseguindo atingir uma relação peso/potência adequada ao
blindado que passa a contar com maior peso em relação a versão original, o que
se consegue apenas com a atualização do conjunto original sem a substituição do
motor.
A Proteção do
M60 também recebeu atenção especial, tendo sido aumentada com uso placas de
proteção STANAG 4569 Nível 6 adicionadas a sessão frontal e passando a adotar saias
laterais e blindagem em sessões laminadas
em pontos sensíveis da torre e sessão traseira, protegendo contra ataque de RPGs. Ainda
foi adicionado um sistema automático de detecção e supressão de fogo (AFSS) que
melhora a capacidade de sobrevivência e protege o compartimento do motor e habitáculo.
Há hoje há uma
vasta gama de opções que atendem aos requisitos brasileiros e prover uma
solução que apresenta uma relação custo/benefício superior a compra de uma
nova viatura de segunda mão, uma vez que ainda possuímos M60 estocados em
condições relativamente boas. Tal solução deve ser estudada e analisada mais
profundamente, uma vez que enfrentamos a escassez de recursos e um orçamento
muito longe do ideal para uma nação com a envergadura do Brasil
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em
Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio
e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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