O presidente iraniano, Hassan Rohani, aconselhou nesta quarta-feira a Arábia Saudita a ter cuidado com o poder de seu país, em um novo episódio de troca de ameaças e críticas entre as duas nações nos últimos dias a respeito da guerra no Iêmen.
"Vocês conhecem o poder e o lugar da República Islâmica na região. Pessoas mais poderosas que vocês não conseguiram fazer nada contra o povo iraniano", disse Rohani durante um discurso no conselho de ministros dirigido aos sauditas.
"Os Estados Unidos e seus aliados mobilizaram todas as suas capacidades contra nós e não conseguiram nada", completou, em referência à devastadora guerra iniciada em 1980 pelo Iraque contra a jovem República Islâmica, com o apoio dos ocidentais, que terminou oito anos depois com o retorno ao statu quo anterior.
O Irã é o principal rival regional da Arábia Saudita, aliada dos Estados Unidos. Os dois países respaldam lados opostos nos principais conflitos do Oriente Médio.
Os dois países romperam relações diplomáticas em janeiro de 2016 após o saque da embaixada saudita em Teerã durante uma manifestação contra a execução de um líder religioso xiita na Arábia Saudita.
"Queremos o bem e o desenvolvimento do Iêmen, do Iraque, da Síria e inclusive da Arábia Saudita. Não há mais vias que as da amizade, fraternidade e da ajuda mútua", declarou Rohani.
"Se pensa que o Irã não é seu amigo e que Estados Unidos e o regime sionista são seus amigos, comete um erro de estratégia e de cálculo", afirmou o presidente iraniano, ecoando as recentes declarações do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, segundo quem a "ameaça" iraniana contribui a uma aproximação inédita entre o Estado hebreu e seus vizinhos árabes.
A tensão entre Irã e Arábia Saudita aumentou após a interceptação, no sábado à noite sobre Riad, de um míssil balístico disparado pelos rebeldes iemenitas huthis apoiados pelo Irã.
Em uma declaração de rara violência dirigida ao Irã, o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman vislumbrou na terça-feira "uma agressão militar direta pelo regime iraniano que poderia ser considerada como um ato de guerra contra o reino".
O Irã, rejeitou essas acusações como "contrárias à realidade", mas os Estados Unidos tomaram as dores de Riad. A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, pediu calma para todas as partes.
- 'Problemas internos sauditas' -
Aos seus ministros, Rohani exortou a Arábia Saudita, que lidera desde 2015 uma coalizão árabe no Iêmen em apoio às forças governamentais, a parar de bombardear as áreas controladas pelos rebeldes huthis e acabar com o bloqueio imposto a este país.
"Você (...) bombardeiam (os iemenitas) incessantemente, mas quando eles respondem uma vez com um único tiro é injusto? O que o povo iemenita pode fazer?", lançou.
Na terça-feira, diante da intensificação dos bombardeios da coalizão árabe, os rebeldes huthis, de um ramo do xiismo, ameaçaram atacar com seus mísseis aeroportos e portos da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos.
O presidente iraniano também relacionou o ressurgimento do ativismo saudita fora das fronteiras do reino à situação interna na Arábia Saudita.
"Se a Arábia Saudita encontra problemas internos, deve procurar resolvê-los sem criar problemas para outros povos da região", disse, referindo-se aos expurgos sem precedentes realizados na semana passada em Riad contra príncipes, ministros, ex-funcionários e empresários acusados de corrupção.
Rohani também acusou implicitamente os líderes sauditas de forçar o primeiro-ministro libanês Saad Hariri a demitir-se.
Dizendo temer por sua vida e denunciando a "apreensão" e a "interferência" do Irã no Líbano através do movimento libanês xiita Hezbollah, Hariri anunciou sua renúncia no sábado.
Fonte: AFP
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