O
GBN News apresenta a segunda parte de nossa matéria: "Porque
o "Super Tucano" é a aeronave certa para USAF? 1ª Parte". Onde na primeira parte, abordamos a história de
nosso A-29, desde o embrião do bem sucedido projeto brasileiro e os desafios
que o mesmo superou até se tornar uma aeronave de fato bem sucedida.
Como
visto na primeira parte desta matéria, A Força Aérea Brasileira foi a principal
impulsora do projeto da Embraer que resultou no EMB-314 “Super Tucano”, tendo
elaborado rigorosos requisitos os quais levaram ao A-29.
As
características adversas encontradas no teatro operacional da região Amazônica,
representaram um desafio á equipe de engenheiros da Embraer, haja vista que a extensa
área de floresta fechada que apresenta uma alta incidência de chuvas, com clima
extremamente úmido e altas temperaturas, uma deficiente infraestrutura
aeroportuária, onde grande parte das operações se dá em regiões remotas e com
pouco ou quase nenhum apoio técnico, a nova aeronave que a FAB queria deveria atuar
neste cenário rústico, onde se optou por desenvolver um turboélice de ataque que
se apresenta grande autonomia e raio de ação, capaz de operar a qualquer hora e
sob qualquer meteorológica, a partir de pistas curtas ou mesmo improvisadas.
O “Super
Tucano” iniciou seus voos em 2 de junho de 1999, com a primeira aeronave
monoposto designada A-29A já na configuração final de produção, o YA-29, sob matrícula FAB 5700, o qual se destinava a executar ataque e reconhecimento armado, interdição, apoio
aéreo aproximado e a interceptação e abate de aeronaves ilegais de baixo
desempenho que adentrassem irregularmente o espaço aéreo brasileiro e
descumprisse as orientações dadas pelos controladores de trafego do SIVAM.
A
versão biposto designada A-29B, voou pela
primeira vez em 22 de outubro de 1999,
possuindo as mesmas capacidades inerentes a versão monoposto, a versão A-29B, YAT-29,
sob a matrícula FAB 5900, somava a capacidade de treinamento e controle aéreo
avançado, executando a tarefa de aeronave de ligação e observação.
O primeiro
contrato firmado com a Embraer resultou na entrega de 76 aeronaves A-29 “Super
Tucano” no âmbito do programa “ALX Super Tucano”, os quais foram entregues a
partir de agosto de 2004, quando as primeiras aeronaves A-29B pousaram em
Natal, onde passaram a gradativamente substituir os “Xavantes” do 2º/5º GAv na
formação dos pilotos de caça brasileiros. O desempenho da nova aeronave superou
as expectativas da FAB e resultou na aquisição de um novo lote, o qual somou
outras 23 aeronaves á compra inicial, dotando a Força Aérea Brasileira de 99
aeronaves EMB-314 “Super Tucano”, com 49 aeronaves A-29A monoposto e 50 aeronaves
A-29B bipostos, sendo o Brasil até o momento o maior operador de “Super Tucano”
no mundo.
Os “Super
Tucano” ganharam aos poucos as linhas de voo que outrora pertenceram aos AT-26 “Xavantes”
e aos AT-27 “Tucano”, sendo distribuídos para operar no patrulhamento de
fronteiras nas regiões Amazônica e Centro-Oeste integrando o sistema
SIPAM/SIVAM, sendo alocados no 1º/3º GAv, com sede na Base Aérea de Boa Vista, 2º/3º GAv,
na Base Aérea de Porto Velho e no 3º/3º
GAv, na Base Aérea de Campo Grande.
O
agora denominado A-29 “Super Tucano”, possui uma moderna suíte aviônica digital,
tendo recebido um painel equipado com duas telas CMFD, HUD, além da
tecnologia HOTAS (Hands On Throttle And Stick), que permite ao
piloto executar todas as fases de voo sem retirar as mãos dos comandos da
aeronave. Todo interior foi pensado de acordo com emprego de tecnologias
modernas, tidas á época como avançadas para os padrões da aviação de combate
brasileira até aquele momento, seu cockpit permitia o emprego do sistema NVG (Night
Vision Goggles), tendo recebido iluminação especial para operar com este
sistema, a nova aeronave contava com FLIR, sistema de navegação integrado
INS/GPS, sistema de comunicações de rádio com criptografia de dados via datalink,
que possibilitava o envio e o recebimento de dados entre aeronaves e estações
em terra de modo seguro e com alta velocidade.
A aeronave
ainda recebeu proteção para o piloto com blindagem capaz de resistir a projétil
de até 12,7 mm.
Com
relação ao armamento disponibilizado ao “Super Tucano”, este deixou o “pássaro”
muito longe de ser uma ave inofensiva, o mesmo recebeu duas metralhadoras de
12,7 mm instaladas internamente nas asas, cinco pontos duros com
capacidade máxima de 1 550 kg, tendo sido integrado ao computador de
missão a capacidade de reconhecer o tipo de armamento colocado em cada estação.
Dentre
o arsenal disponível ao A-29, o mesmo possuí um vasto leque de opções, podendo
receber uma variada carga de armamentos alojados em pods, como bombas
convencionais e inteligentes, mísseis ar-superfície e ar-ar de curto alcance,
podendo este ser direcionado através do HMD (Helmet Mounted Display).
Os requisitos
operacionais e logísticos exigidos pela Força Aérea Brasileira, com vistas à sua
operação possuem os seguintes dados de confiabilidade considerados durante a
fase de desenvolvimento do A-29 “Super Tucano”:
·
Probabilidade de
executar a missão: 98,5 % (mínimo);
·
Falhas por cada
1 000 horas de voo: 150 (máximo);
·
Remoções do motor: 1 a
cada 4 000 horas de voo (máximo); e
·
Paradas do motor: 1 a
cada 40 000 horas de voo (máximo).
·
O conceito norteador
logístico foi de possibilitar a operação na Amazônia brasileira com o mínimo de
infraestrutura, sendo que várias melhorias com relação ao projeto inicial foram
adotadas pela Embraer, entre elas:
·
Abastecimento de
combustível por pressão;
·
Capota do motor com
painéis de acesso;
·
OBOGS (sistema gerador
de oxigênio de bordo);
·
HSI (indicador de
situação horizontal) executado na aeronave;
·
Extensão do overhaul (revisão
geral e reparos) do motor;
·
Extensão da vida útil da
aeronave;
·
Conceito built
in test (auto teste) para os equipamentos aviônicos;
·
Registro automático dos
dados de voo;
·
Ar condicionado com
ciclo de ar;
·
Acessibilidade
garantida.
Os
seguintes parâmetros de carga de trabalho da manutenção foram assumidos para a
aeronave:
· Taxa homem hora / hora
de voo: 1,5 h (máximo);
· Tempo de pré-voo: 10
minutos (máximo);
· Tempo necessário entre
voos: 10 minutos (máximo);
· Tempo necessário para o
pós-voo (final da jornada diária): inferior a 30 minutos
O “Super
Tucano” não demorou muito e viu grande procura no mercado externo, vindo a ser
operado em vários países ao redor do mundo, nos quais já receberam o seu
batismo de fogo. Tendo entrado em combate pela primeira vez com a Colômbia em 18 de janeiro de 2007,
quando lançou um ataque contra posições da FARC, atingindo uma impressionante
precisão no lançamento de sua carga de bombas MK-82. Sucesso que foi repetido
em 1º de março de 2008, quando os “Super Tucanos” colombianos viram a ação mais
uma vez, desta em território equatoriano, quando invadiram o espaço aéreo
vizinho e lançaram sua carga de bombas MK-82 sobre um acampamento das FARC,
sendo componente importante da “Operação Fênix”, orquestrada pelas forças
colombianas sob assessoria da CIA.
Mas foi apenas em 2009 que o “Super Tucano” finalmente
estreou no Brasil, Em 3 de junho de 2009, dois “Super Tucanos” vetorados
por uma aeronave E-99, fizeram o primeiro emprego real de suas metralhadoras de
12,7 mm contra um Cessna U206G de narcotraficantes procedente da fronteira
entre a Bolívia e o Brasil, após esgotados todos os trâmites legais
antes da ação, uma rajada de munição traçante foi disparada em paralelo a
trajetória do Cessna como Tiro de Aviso, forçando essa aeronave a seguir as
orientações até o pouso. Essa foi a primeira vez, desde que entrou em vigor a
Lei do Abate em 17 de outubro de 2004 que se utilizou esse recurso contra
aeronaves ilícitas.
O Super Tucano opera hoje em mais de 16 países, ainda
sendo estudado por diversas forças aéreas ao redor do mundo, dentre as quais a
poderosa Força Aérea dos Estados Unidos da América, a famosa USAF, que anda
avaliando a possibilidade de adquirir nada mais nada menos que um número entre
200 e 300 exemplares da aeronave brasileira, que caso seja confirmado, se
tornará o maior operador da aeronave brasileira no mundo.
Um fato muito curioso, é que em outro momento, a
Embraer perdeu dois grandes contratos para a aeronave T-6 Texan II da Raytheon, mas nos últimos anos o jogo virou, e após assimilar
as lições aprendidas e ao chegar ao projeto final de sua nova aeronave COIN, a
Embraer vem conquistando cada vez mais espaço neste nicho do mercado, onde hoje
é apontada como a melhor opção deste segmento, superando todos os seus
concorrentes em todos os quesitos nos quais tem sua nova aeronave avaliada.
Há
poucos anos venceu a Raytheon na disputa pelo LAS lançado pelos EUA
afim de fornecer um meio aéreo moderno e de baixo custo aos seus aliados para
combater o terrorismo e grupos insurgentes no Oriente Médio, tendo hoje 20
aeronaves atuando no Afeganistão combatendo a ameaça do Taliban, número que
será aumentado em seis novas aeronaves através de um contrato adicional
assinado este ano de 2017. Ainda sob o LAS, o A-29 recebeu a encomenda de 6
aeronaves destinadas ao Líbano.
Recentemente
a USAF realizou um intenso estudo de viabilidade afim de buscar uma solução as
suas necessidades operacionais diante do moderno cenário de conflito
assimétrico, como tem sido recorrente no Oriente Médio, com tais necessidades
visíveis nos custos militares relativos ao apoio aéreo aproximado em diversos
teatros operacionais similares, como tem sido no Iraque, Afeganistão e Síria,
além de outros hipotéticos conflitos nos quais poderá em futuro próximo engajar
seus meios aéreos para atuar no apoio aproximado as tropas no solo, um enorme
desafio tendo em vista o orçamento de defesa cada vez mais enxuto, e principalmente
pela chegada ao fim do ciclo de vida de sua aeronave mais atuante neste perfil
de operação, os vetustos A-10, os quais enfrentam o peso da idade e o alto custo
de operação, tendo a eminente saída do inventário da USAF pelo simples
esgotamento de sua vida útil, sendo repetidas vezes postergada através de
tentativas não longevas de manter o A-10 no ar.
A
USAF estudou a viabilidade inclusive de reativar aeronaves dos seus estoques,
como os velhos OV-10 Bronco, aeronave que inclusive foi tema de intenso debate
em um dos grupos que este jornalista participa no whatsapp, a qual foi avaliada
no Iraque e Afeganistão, porém, a conclusão foi que as mesmas não possuem
capacidade de atender as atuais missões de apoio aéreo aproximado que a USAF
necessita de forma urgente.
Como
o cenário de conflito atual não apresenta qualquer ameaça aérea, sendo o espaço
aéreo livre da ameaça inimiga, a proposta de uma aeronave Turboélice, com
capacidade de ataque ao solo com baixo custo hora/voo, somada as capacidades de
combate e simplicidade de operação, levam os olhares para o A-29 “Super Tucano”,
algo que em outro momento da história seria algo impensado de se ver, a
poderosa USAF adotar uma aeronave de projeto “BRASILEIRO”, o que tem todos os ingredientes
para se tornar em breve uma realidade e passar a ser motivo de orgulho aos
filhos desta pátria mãe gentil.
O
“Super Tucano” hoje impera em sua categoria, de longe a mais capaz e efetiva
aeronave de apoio aéreo aproximado, interdição, ataque, treinamento e
observação. A Embraer conquistou um grande espaço ao fechar a parceria com a
Sierra Nevada para produção em solo norte americano da aeronave brasileira,
jogada inteligente que possibilita a mesma superar a barreira do mercado norte
americano aos produtos de defesa estrangeiros, uma vez que a mesma passa a ser
construída em parceria no território americano, representando empregos e
investimento em solo americano.
Como
ocorrido no programa LAS, o “Super Tucano” supera e muito o seu concorrente
mais próximo, o outrora algoz T-6 Texan II, agora passa a condição de
inferioridade á aeronave brasileira.
A USAF
tem todos os motivos para optar pelo “Super Tucano”, sendo uma escolha sensata,
com custo adequado a nova realidade orçamentária da USAF, provendo capacidade
ímpar de ataque e apoio aproximado, aliado a confiabilidade, experiência, baixo
custo e altíssima qualidade que entrega o A-29 “Super Tucano”.
Abaixo
segue algumas informações técnicas do “Super Tucano”
Comprimento:
11,30 m
Altura:
3,97 m
Vazio:
3 200 kg
Máximo
de decolagem: 5 400 kg
Carga
de combate máxima: 1 550 kg
Velocidade
máxima nivelada: 590 km/h
Velocidade
de cruzeiro: 520 km/h
Velocidade
de estol: 148 km/h
Alcance
de traslado: 1 445 km (combustível interno) e 2 855 km (com
tanques externos)
Teto
de serviço: 10 665 m
Autonomia:
3,4 h (combustível interno) e 8,4 h (com tanques externos)
Raio
de combate: 550 km (Hi-Lo-Hi)
Distância
de decolagem/pouso: 900m / 860 m
Fatores
de carga: +7 G / −3,5 G
Vida
de fadiga: 12 000 h (combate típico) e 18 000 h
(treinamento típico)
Parabrisa:
Resistente ao impacto de pássaros de 1,8 kg a 555 km/h
Metralhadoras:
2× FN Herstal M3P de 12,7 mm (.50) 250 munições
Estações
de armas: 5 pontos (dois em cada asa e um sob a fuselagem)
Motor:
1 turboélice Pratt & Whitney Canada PT6A-68C de 1 600 shp de
potência, que incorpora FADEC (controle digital de motor com autoridade total)
e EICAS (sistema de indicação de motor e alerta da tripulação)
Hélice:
1 Hartzell pentapá de 2,38 m de diâmetro
CMFD/HUD/UFCP/HOTAS
OBOGS
(sistema gerador de oxigênio de bordo)
Rádio
V/UHF M3AR Série 6000 FLIR Star SAFIRE III ou BRITE Star DP NVG ANVIS-9
CCIP/CCRP/CCIL/DTOS
(modos de ataque computadorizados)
HMD
(sistema de apresentação instalado no capacete)
Laser
Range Finder (telêmetro laser)
MAWS
(sistema de alerta de aproximação de míssil)
RWR
(receptor de alerta de radar)
Chaff
& flare
Sistema
de treinamento virtual de armamentos e sensores
TOSS
(sistema de treinamento e suporte operacional)
Câmara e gravador de vídeo digital
Stormscope
WX-1000E (sistema de mapeamento meteorológico)
INS/GPS
(sistema integrado de navegação)
Piloto
automático
Assento
ejetável Martin-Baker Mk 10LCX zero/zero
Freio
de mergulho
Ar
condicionado
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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