O 19º Congresso do Partido Comunista da China encerrou-se com Xi Jinping sendo alçado a um status semelhante ao de líderes históricos do país, como Mao Tsé-tung e Deng Xiaoping, e se consagrando como o presidente chinês de maior poder nas últimas décadas.
O partido, que governa a China desde 1949, aprovou no Congresso a inclusão das "doutrinas" de Xi na Constituição da agremiação, como um novo referente teórico que, a partir de agora, será estudado nas escolas: o "Pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era".
Por trás da retórica, isso se traduz em uma grande concentração de poder para o presidente e seu partido sobre a economia e a sociedade chinesas.
Em suas três horas e meia de discurso no Congresso, Xi explicou sua visão não apenas para os próximos cinco anos do país, mas para as próximas três décadas, detalhando um modelo socialista que, segundo ele, seria "uma nova opção para outros países e nações que queiram acelerar seu desenvolvimento enquanto preservam sua independência".
O presidente afirmou que a China entrou em uma "nova era" em que deveria "ocupar os holofotes do mundo". Descreveu seus planos para uma "modernização socialista" da China até 2050 e a busca por uma nação "mais próspera e bonita", por intermédio de reformas ambientais e econômicas.
Xi criticou o separatismo e, ao mesmo tempo, afirmou que seu país "não fecharia as portas para o mundo", prometendo menos barreiras a investidores internacionais.
Também tiveram menções no discurso as medidas para reforçar a disciplina dentro do partido e para combater a corrupção ─ bandeira da administração de Xi, cuja ofensiva anticorrupção já puniu mais de 1 milhão de chineses.
Os princípios citados por Xi enfatizam o papel do Partido Comunista em governar todos os aspectos da vida chinesa. Entre eles, estão:
- Um chamado para uma reforma "completa e profunda", com "novas ideias em desenvolvimento"
- Uma promessa de "convivência harmoniosa entre homem e natureza", em referência à preocupação com o meio ambiente e o suprimento das necessidades energéticas chinesas
- Uma ênfase na "autoridade absoluta do partido sobre o Exército"
- A importância do modelo "um país, dois sistemas", sob o qual se governa Hong Kong, e a "reunificação nacional", em referência a Taiwan, considerada - por Pequim - uma ilha rebelde .
Autoridade reconhecida
Como não são divulgados grandes detalhes e não há coletivas de imprensa do partido, muito do entendimento sobre o Congresso depende da análise de especialistas.
"O que isso quer dizer é que basicamente Mao Tsé-tung (que governou entre 1949 e 1976) tornou a China independente e permitiu que o país se erguesse, Deng Xiaoping (1978-92, que implementou reformas que trouxeram instituições de mercado ao socialismo chinês) tornou o país rico e Xi o tornará forte", explica Christopher K. Johnson, assessor-sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), em entrevista à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Em sua avaliação, Xi quer projetar força nos planos econômico, político e militar.
Mas o que significa, para um líder, ser eternizado na Constituição partidária?
A China tem uma Carta Magna, que governa o país, mas o Partido Comunista tem uma Constituição própria para seus 89 milhões de membros.
"Significa que sua autoridade foi reconhecida por todo o partido", diz à Reuters o acadêmico chinês Hu Xingdou.
Os 14 princípios políticos do "pensamento de Xi"
- Garantir a liderança do partido sobre todo o trabalho
- Comprometer-se com um enfoque centrado na sociedade
- Continuar com uma reforma integral e profunda
- Adotar uma nova visão de desenvolvimento
- Ver que a sociedade é que governa o país
- Garantir que qualquer área de governo esteja baseada no direito
- Defesa dos valores socialistas
- Garantir e melhorar as condições de vida da sociedade por meio do desenvolvimento
- Garantir a harmonia entre o homem e a natureza
- Buscar um enfoque global para a segurança nacional
- Defender a absoluta autoridade do Partido Comunista sobre o Exército popular
- Defender o princípio de "um país, dois sistemas" e promover a reunificação nacional
- Promover a construção de uma sociedade de futuro compartilhado com toda a humanidade
- Exercer um controle total e rigoroso do partido
Desde sua chegada ao poder, em 2012, Xi tem impulsionado um culto à personalidade e uma concentração de poder que supera inclusive o da era Deng, artífice da abertura econômica chinesa. Sua consagração no Congresso na última semana deverá reforçar essa tendência.
E, eternizado na Constituição partidária, Xi agora terá "ainda mais autoridade para levar o país na direção que deseja", diz à BBC Mundo Joseph Fewsmith, professor de relações internacionais da Universidade de Boston e especialista em elite política chinesa.
Observadores estão atentos também ao novo Comitê Permanente do Partido Comunista, ou seja, na nova geração de mandatários do país.
No entanto, não há no momento nenhum líder que desponte claramente como sucessor de Xi, o que pode significar que ele permaneça no poder além dos tradicionais dez anos de mandato.
Analistas destacam que é cedo para equiparar Xi a Mao, mas não se descarta que ele possa alcançar tal status.
Vale destacar, também, que se anteveem mais atritos entre a China de Xi e os Estados Unidos de Donald Trump.
"A China levará a cabo uma política externa mais agressiva para desafiar a supremacia americana, sobretudo na região da Ásia-Pacífico", afirma Willy Lam, veterano analista de política chinesa e professor da Universidade Chinesa de Hong Kong.
Fonte: BBC Brasil
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