Se ouvir falar em UDMH, saiba: não é nenhuma nova droga sintética do momento, mas sim o potente e perigoso combustível que faz com que os mísseis da Coreia do Norte tenham um alcance cada vez maior.
A sigla em inglês se refere à substância química dimetil-hidrazina assimétrica.
"Temos certeza que a Coreia do Norte está usando o UDMH em seus mísseis", disse à BBC David Wright, codiretor do programa de Segurança Global da União de Cientistas Preocupados, organização sem fins lucrativos criada em 1969 por cientistas do MIT (o instituto de Tecnologia de Massachussets).
Segundo Wright, outros combustíveis eram usados no programa balístico norte-coreano, mas no último ano ficou evidente o uso do UDMH.
"Pelas imagens dos lançamentos dos mísseis é possível ver pela cor das chamas qual combustível está sendo usado."
A ONU já incluiu o UDMH na lista de produtos com exportação proibida para a Coreia do Norte. Mesmo assim, especialistas afirmam que essa medida não surte efeito algum e avaliam que os EUA deveriam concentrar esforços em deter o fluxo dessa substância.
"Todos os produtos com proibição de exportação para a Coreia do Norte acabam entrando no país", disse ao jornal New York Times Vann H. Van Diepen, ex-funcionário do Departamento de Estado americano e especialista em controle de armas de destruição em massa.
O senador Edward J. Markey, do Partido Democrata americano, é um dos que defendem o controle de UDMH para a Coreia do Norte.
"Se Pyongyang não tiver UDMH, não poderá ameaçar os Estados Unidos, simples assim. Esses são os temas que o departamento de inteligência deve responder: de quais países a Coreia do Norte está recebendo esse combustível, se ela tem reservas dele e de que tamanho são", declarou o senador, também ao New York Times.
Poder de alcance
O UDMH é um combustível que gera muita energia e é conveniente para o uso dos mísseis de longo alcance que a Coreia do Norte está desenvolvendo com objetivo de atingir o território norte-americano.
De acordo com Wright, o UDMH consegue uma grande propulsão em relação ao peso de combustível que os mísseis precisam levar.
"Por isso funciona muito bem nos mísseis de longo alcance", disse.
"Se eles não estão produzindo esse combustível e não podem importá-lo, isso definitivamente terá impacto no programa de desenvolvimento de mísseis porque os novos modelos dependem do UDHM", acrescenta.
Produção própria
Mesmo que os especialistas não tenham dúvidas de que a Coreia do Norte está usando UDMH, não se sabe se o país tem capacidade para produzi-lo. "Se a Coreia do Norte dependesse da importação do UDMH e não conseguisse mais obtê-lo, sua resposta seria produzi-lo internamente. Isso seria mais fácil e tomaria menos tempo do que desenvolver mísseis de combustíveis sólidos. A diferença pode ser entre demorar de alguns anos a uma década", disse Wright.
Entre os países que já utilizaram o UDMH como combustível estão Estados Unidos, Rússia e China. Os americanos trocaram o UDMH por combustível sólido. Já a Rússia abandonou o UDMH por alguns anos, mas acredita-se que tenha voltado a produzi-lo recentemente. A China ainda o utiliza para colocar em órbita seus satélites.
Veneno do diabo
Na Rússia, o UDMH ganhou o apelido de "veneno do diabo". O combustível foi o responsável pela maior tragédia da área espacial soviética, a catástrofe de Nedelin. Em outubro de 1960, ao menos 74 pessoas morreram na explosão do protótipo de um míssil balístico intercontinental que se encontrava na plataforma de lançamento.
Entre as vítimas estava o general Mitrofán Ivánovich Nedelin, principal responsável pelo programa de desenvolvimento de mísseis da União Soviética.
Os riscos do UDMH, entretanto, vão além de seu potencial explosivo, e ajudam a explicar o apelido.
Segundo o Centro Nacional de Biotecnologia dos Estados Unidos, a simples inalação da substância por um curto período de tempo pode provocar irritação na garganta, no nariz e nos olhos e náusea e vômito. Já o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (EUA) alerta que o UDMH afeta os sistemas nervoso central e respiratório, além de atacar fígado, trato gastrointestinal, sangue, olhos e pele.
Em testes com animais, o produto mostrou-se cancerígeno.
Fonte: BBC Brasil
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