Em seus mais de 70 anos de debates gerais, Nações Unidas têm histórias curiosas para contar, tendo também o Brasil como protagonista: de discursos intermináveis a eventos de marketing inesperados e sapatadas lendárias.
1) Brasil em primeiro lugar
Desde 1955, o Brasil tem sido (quase) sempre a primeira nação a se pronunciar nos debates gerais da Organização das Nações Unidas. Nos primórdios da ONU, o Brasil abriu as duas primeiras assembleias, e, com o passar do tempo, essa se tornou uma tradição.
Fora isso, não há uma ordem fixa, com uma exceção: os Estados Unidos, como país anfitrião, são o segundo a falar. Quer dizer, quase sempre: em 2016, o presidente do Chade, Idriss Déby, passou à frente, porque seu homólogo americano, Barack Obama, estava atrasado.
2) Igualdade de gêneros – mas nem tanto
Antes de os países ocuparem a tribuna no debate geral, o presidente da Assembleia Geral faz um pronunciamento. Em 1953, a indiana Vijaya Lakshmi Pandit foi a primeira mulher eleita para essa posição – sete anos antes de Sirimavo Bandaranaike, do Sri Lanka, ser nomeada a primeira chefe de governo do mundo. Nada mau para a ONU em termos de equiparação de gêneros. Dito isso, no entanto, desde então a organização só teve duas outras presidentes – contra mais de 70 do sexo masculino.
Kadafi pode ter levado alguns ao desespero, ao extrapolar de longe o limite de tempo para os pronunciamentos
3) Paciência na plateia, muita paciência
As nações concordaram unanimemente que os discursos não devem durar mais do que 15 minutos. Há até mesmo semáforos na tribuna, para avisar aos oradores quando seu tempo está se esgotando.
Contudo muitos consideram esse limite antes uma diretiva facultativa do que uma regra rigorosa. O ex-líder líbio Muammar Kadafi falou por 96 minutos em sua primeira participação na Assembleia Geral, em 2009. O discurso mais longo registrado, porém, foi o do então primeiro-ministro de Cuba, Fidel Castro, em 1960: quatro horas e 29 minutos.
4) Agora chega, vamos embora
Discordâncias são inevitáveis, se 193 países obtêm a chance de expressar suas opiniões diante de diplomatas de todo o mundo. Quando, em 2011, o então presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, lançou uma estocada contra o Ocidente, os representantes dos EUA e de alguns países da União Europeia simplesmente se levantaram e foram embora.
Esse procedimento é uma forma comum de demonstrar desaprovação no debate geral. Em 2016, diversos delegados da América do Sul se levantaram durante o discurso do presidente do Brasil, Michel Temer, o qual, segundo eles, chegara ao poder por meio de um golpe de Estado.
5) Sapatadas lendárias
Deixar a sala de reuniões é uma coisa, bater repetidamente com o sapato de couro na mesa, de raiva, é outra. Mas isso é o que, segundo consta, o então premiê soviético, Nikita Khrushchev, fez em 1960, em protesto contra o discurso antissoviético do delegado das Filipinas.
Esse rompante costuma ser citado como metáfora perfeita para a Guerra Fria. Mas será que aconteceu, mesmo? Testemunhas oculares contam versões conflitantes, algumas afirmam que Khrushchev só brandiu o sapato. Os registros filmados do evento aparentemente desapareceram. Segundo relato da neta do líder soviético, em 2000, a família acreditava que ele tenha, de fato, martelado a mesa com seu sapato.
6) Assista ao discurso, leia o livro
No debate de 2006, o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, transformou o palco político da ONU num evento de marketing. Durante um discurso em que também tachou o ex-chefe de Estado dos EUA George W. Bush de "o diabo", o revolucionário bolivariano empunhou um livro do autor americano de esquerda Noam Chomsky, instando os presentes a lê-lo: O império americano –Hegemonia ou sobrevivência. Em seguida, a publicação lançada três anos antes disparou na lista de best-sellers.
7) Primórdios modestos
Antes de se estabelecer em Nova York, em 1952, a Assembleia Geral da ONU se realizava cada ano numa cidade diferente. Sua primeira reunião foi em 1946, no Westminster Central Hall, uma igreja metodista situada diante da Catedral de Westminster, em Londres.
O emblema da ONU, um mapa-múndi flanqueado por ramos de oliveira, adornava a sala – pendurado ao contrário. Ao fim, os delegados das 51 nações reunidas ficaram tão gratos por ter podido usar as dependências que decidiram patrocinar a pintura das paredes.
Fonte: Deutsche Welle
0 comentários:
Postar um comentário