Em nova declaração polêmica, Alexander Gauland afirma que alemães deveriam se orgulhar da atuação de seus soldados nas duas guerras mundiais. Comentário gera indignação entre políticos do país.
O principal candidato do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), Alexander Gauland, afirmou que os alemães deveriam sentir orgulho do desempenho de seus soldados nas duas guerras mundiais, em discurso feito no início de setembro e divulgado pela imprensa alemã nesta quinta-feira (14).
"Sim, nós nos ocupamos dos crimes de 12 anos do regime nazista. E, caros amigos, quando olho para a Europa, vejo que nenhum outro povo reconheceu tão claramente os erros de seu passado como a Alemanha", disse Gauland em reunião no estado alemão da Turíngia em 2 de setembro passado.
"Não é mais necessário nos repreender por esses 12 anos. Hoje eles não dizem mais respeito à nossa identidade, e externamos isso. Por isso também temos o direito de recuperar não somente o nosso país, mas também o nosso passado", afirmou o líder da AfD. Ele se referiu ao período desde a chegada de Adolf Hitler ao poder, em 1933, ao fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
"Se os franceses, e com razão, têm orgulho de seus imperadores, e os britânicos, de Nelson e Churchill, então nós temos o direito de ter orgulho do desempenho de nossos soldados nas duas guerras mundiais", acrescentou Gauland, de 76 anos, que é ex-membro da ala mais à direita do partido União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal alemã, Angela Merkel, e um dos dois principais candidatos da AfD na eleição de 24 de setembro, ao lado da economista Alice Weidel, de 38 anos.
"Novo lar político para os neonazistas"
As declarações de Gauland geraram reações indignadas de políticos alemães. Para o ministro da Justiça, Heiko Maas, a AfD deseja, aparentemente, se tornar um "novo lar político para os neonazistas". "Qualquer pessoa que diga que deveríamos ter orgulho dos crimes cometidos por soldados alemães na Segunda Guerra Mundial pede para ser chamada de extremista de direita", afirmou Maas, que é membro do Partido Social-Democrata (SPD).
O candidato do SPD ao cargo de chanceler federal, Martin Schulz, chamou de racista a liderança da AfD. Em entrevista à revista alemã Der Spiegel, o político declarou que o partido de Gauland está "cada vez mais disposto a mostrar sua face radical de direita".
"A retórica nacionalista que está sendo usada pelos políticos da AfD mostra que é preciso partir do princípio que uma atitude incompatível com a Lei Fundamental [Constituição] da Alemanha está presente não só na base do partido, mas também entre seus líderes", acrescentou Schulz.
O candidato do SPD pediu ainda que o partido de Gauland seja submetido à vigilância do Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV, na sigla em alemão), serviço de inteligência interno do país.
O deputado Cem Özdemir, um dos dois políticos que encabeçam a chapa do Partido Verde, também se pronunciou. "Este partido [AfD] não é um partido democrático se sua liderança segue uma ideologia de extrema direita", afirmou o político.
O deputado Volker Beck, também dos verdes, disse que as declarações de Gauland estão cada vez mais "repulsivas". Para o político, os soldados alemães na Segunda Guerra se tornaram testemunhas do massacre de judeus durante o regime nazista. "Não há nada para se orgulhar", destacou.
"O sistema é culpado, e não os soldados"
Nesta sexta-feira, Gauland reiterou suas declarações. "Não contesto de forma alguma que a Wehrmacht esteve envolvida em crimes na Segunda Guerra Mundial. Mas eu mencionei nomes, Rommel e Stauffenberg, e eu disse claramente que milhões de soldados alemães foram valentes e não estiveram envolvidos em crimes. E deve ser permitido elogiá-los."
"E eu também sei que seis milhões de judeus foram assassinados. Mas milhões de soldados alemães cumpriram seu dever para um sistema criminoso. Mas aí o sistema é culpado, e não os soldados, que foram valentes." Gauland argumentou ter apenas repetido um elogio do ex-presidente francês François Mitterand num discurso em 8 de maio de 1995. "Ele elogiou a valentia dos soldados alemães como também a dos outros soldados, e opôs essa valentia ao regime criminoso, disse Gauland. E pode-se sentir orgulho dessa valentia pessoal."
Denúncia por incitação ao ódio
Não é a primeira vez que Gauland causa polêmica por seus comentários controversos. Em agosto, o líder populista de direita foi denunciado por incitação ao ódio racial por causa de declarações sobre a comissária de integração do governo federal, Aydan Özoguz.
Durante um evento de campanha em Eichsfeld, também na Turíngia, Gauland disse que Özoguz, que tem raízes turcas, poderia ser "descartada na Anatólia". O comentário foi uma resposta à comissária, que tinha dito que "uma cultura especificamente alemã, além do idioma, simplesmente não é identificável".
O populista pediu aos presentes no evento para convidarem Özoguz a visitar Eichsfeld e mostrá-la o que é específico da cultura alemã. "Depois ela nunca mais virá aqui e nós poderemos então descartá-la na Anatólia, graças a Deus", afirmou ele na época.
Fonte: Deutsche Welle
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