Um navio fretado por militantes europeus de extrema-direita para forçar o retorno de embarcações com imigrantes para a África navegava neste domingo para a Tunísia, após acompanhar no sábado a embarcação de uma ONG em missão de socorro.
Pescadores tunisianos se mobilizaram no porto de Zarzis, no sudeste da Tunísia, para dizer não a uma eventual atracagem do navio, o C-Star.
Caso a embarcação se aproxime do porto, "iremos fechar o canal que serve para o abastecimento dos barcos. Isso é o mínimo que podemos fazer após tudo o que está acontecendo no Mediterrâneo, a morte de muçulmanos e africanos" no mar, indicou à AFP o presidente de Associação de Pescadores, Chamseddine Bourassine.
O C-Star, de 40 metros de comprimento alugado pela rede europeia Generation Identitaire (GI), chegou no sábado na costa da Líbia, onde milhares de imigrantes a bordo de embarcações precárias, enviadas ao mar por traficantes, foram socorridas nos últimos anos pelas Guardas Costeiras de vários países, navios comerciais e ONGs.
A operação do grupo de extrema-direita "Defend Europe" (Defendendo a Europa) é financiada por uma campanha de coleta de fundos lançada em meados de maio na Internet. Apesar de uma campanha de oposição que forçou o serviço de pagamento on-line Paypal a congelar sua conta, os ativistas levantaram mais de 87.000 dólares (76.000 euros) com cerca de mil doadores.
O objetivo é "mostrar a verdadeira face das ONGs que se dizem humanitárias, sua colaboração com a máfia dos contrabandistas e as consequências mortais de suas atividades no mar", explica um dos organizadores da operação, Clement Galant, em um vídeo nas redes sociais.
A iniciativa é denunciada pelas organizações humanitárias como um golpe de publicidade potencialmente perigoso.
No sábado, o navio acompanhou, por vezes a poucas centenas de metros de distância, o navio Aquarius, fretado pelas ONGs francesas SOS Mediterrâneo e Médicos Sem Fronteiras (MSF).
As duas embarcações estavam a cerca de mil milhas náuticas da costa líbia, a leste da capital Trípoli.
No vídeo de Clément Galant, ele garante que "durante nossa missão, quando cruzarmos com barcos cheios de imigrantes ilegais, vamos chamar a Guarda Costeira líbia para que eles possam vir resgatá-los".
A expectativa do grupo é que os imigrantes sejam reconduzidos para esse país do norte da África.
Mas forçar uma embarcação cruzando águas internacionais a ir para a Líbia seria ilegal de acordo com o Direito Internacional Marítimo.
Além disso, para a Guarda Costeira italiana, a Líbia não oferece um "porto seguro" no que diz respeito ao Direito Marítimo.
As embarcações fretadas por ONGs ajudaram um terço das cerca de 100.000 pessoas resgatadas apenas este ano ao largo da costa da Líbia, levando-as para a Itália, de acordo com a Guarda Costeira italiana.
Mas alguns acusam essas ONGs de facilitarem o trabalho dos contrabandistas, garantindo uma passagem segura aos imigrantes para a Europa.
Na quinta-feira, a Itália advertiu as ONGs que socorrem os imigrantes no Mediterrâneo que não permitira que elas concluíssem sua missão se não assinarem um "código de conduta" elabora por Roma.
Apenas três organizações humanitárias, de um total de nove, aceitaram aderir ao "código de conduta".
O código estabelece, entre alguns pontos, a proibição de entrar em águas territoriais líbias, a obrigação de deixar ligado o radar de localização, o compromisso de não se comunicar ou enviar sinais luminosos para facilitar as partidas de embarcações, nem contatar traficantes.
Da mesma forma, exige comprovar a preparação técnica dos socorristas, poder receber membros da polícia a bordo e cooperar com as autoridades no lugar de desembarque, além de declarar suas fontes de financiamento.
Fonte: AFP
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