A Marinha do Brasil, assim como as demais forças armadas brasileiras, enfrenta um momento delicado, onde tem chegado ao limite os seus atuais meios, bem como o surgimento de novas demandas por equipamentos e meios mais modernos, o que será de grande importância para que a mesma prossiga cumprindo seu dever constitucional de maneira plena e eficaz.
Apesar das necessidades de reequipamento da esquadra brasileira, infelizmente, o processo não é levado a sério pelas autoridades civis do governo brasileiro, onde há um verdadeiro abismo entre o atual orçamento da Marinha do Brasil, e a sua real necessidade orçamentária, o que limita e muito os programas de modernização e reaparelhamento da esquadra, limitando não apenas no andamento dos programas, mas principalmente limitando nas opções de compra, uma vez que determinados meios possuem um elevado custo de aquisição e operação, algo que é levado em consideração e criteriosamente estudado pela comissão responsável pelas aquisições na Marinha do Brasil, afim de evitar a aquisição de meios com os quais, não haveria os recursos necessários à sua operação com a dotação orçamentária destinada as operações.
A lista é muito grande, devido à décadas de descaso e uma visão no mínimo míope por parte do governo, o qual se mostra incapaz de gerir um orçamento voltado aos meios estratégicos de defesa de nossa nação, se valendo do pretexto de possuirmos boa relação com nossos vizinhos e uma postura pacífica, algo que é uma abordagem perigosa e irresponsável por conta de qualquer estado com uma real visão estratégica e conhecimento pleno das ameaças que existem no horizonte vindouro. Pois uma crise pode irromper sem aviso prévio, e as necessidades de se possuir meios de defesa não são possíveis de ser supridas da noite para o dia, logo tem de se ter em mente a filosofia de estar sempre pronto para contrapor qualquer ameaça que atente contra nossa soberania, como diz o velho jargão, "É na paz que nos preparamos para guerra", além do ponto crucial, ninguém ataca um oponente preparado para se defender, o que pode custar muito caro ao atacante.
Bom, resolvemos aqui apontar alguns meios que se mostram de vital importância á nossa esquadra, e com isso visamos abrir a discussão sobre o assunto e as opções que temos no mercado para atender a essas lacunas, ponto a ser abordado em outro artigo.
Nesta primeira matéria, vamos apontar alguns programas em andamento vitais a nossa Marinha do Brasil e outros pontos que devem começar a ser olhados com atenção, além de ser de máxima importância um compromisso sério com relação ao orçamento destinado a defesa, sob o alto custo de perdermos não só recursos de grande importância, como também a perda de expertise e oportunidades de mercado.
Nossa esquadra carece de meios em suas mais variadas escalas e missões, desde escoltas á navios tanque, desde meios de apoio a operações anfíbias á defesa antiaérea. Então, essa matéria vai tentar abordar de maneira mais direta e clara possível os pontos que se deve desenvolver um plano de resposta "imediata" para sanar as lacunas existentes.
O primeiro ponto, o qual há enorme importância na estratégia de negação de mar, é a conclusão do PROSUB, onde a Marinha do Brasil tem espremido os poucos recursos que possui para manter o andamento do programa e cumprir o cronograma estipulado para tal, onde há previsão de construção de quatro novos submarinos convencionais do tipo francês "Scorpene", conhecido no Brasil como S-BR, uma vez que o mesmo irá incorporar diversas modificações e sistemas nacionalizados em acordo com o previsto pelo programa, culminando com a construção do primeiro submarino nuclear brasileiro, o que dará ao Brasil uma enorme vantagem estratégica.
Com relação ao PROSUB, vemos que há grande importância na conclusão deste programa para se ampliar as capacidades de defesa de nossa "Amazônia Azul", mas vamos além do previsto no programa, uma vez que possuímos uma vasta extensão territorial marinha rica em recursos, se faz necessário que o programa não se limite à construção de quatro exemplares de propulsão convencional e um nuclear. Para patrulhar e defender nossos interesses e soberania, esse número deveria ser duplicado no caso dos convencionais e triplicado em relação ao submarino nuclear, com essa posição, teríamos a disposição uma capacidade submarina de patrulhar e defender nossas "águas" de maneira eficaz, mantendo número suficiente de meios operacionais, mesmo nos períodos previsto de manutenção e modernização desses meios. Lembrando que os mesmos podem ter a eles somados os quatro submarinos da classe "Tupi", que apesar da idade, ainda podem sofrer aperfeiçoamentos e se manter operacionais por um período relativamente grande.
Outra enorme lacuna que se alarga a cada ano que passa, diz respeito as escoltas, onde há previsão de que até 2022 nossas fragatas remanescentes "Type 22" venham a ser descomissionadas, processo o qual deverá ser depois seguido pelas vetustas fragatas da classe "Niterói" do projeto Vosper Mk 10, que também chegam ao fim de sua vida operacional. Sendo assim, se faz urgente o desengavetamento do PROSUPER, que visa prover à Marinha do Brasil novos meios de superfície, onde hoje há o foco no programa de construção das corvetas da classe "Tamandaré", programa em fase de definição do projeto, mas que por si só, não será suficiente para suprir as necessidades de nossa marinha, a qual deverá olhar com vista a aquisição de novas fragatas na casa das 6.000 Ton, voltadas para cumprir missões ASW, defesa antiaérea e combate de superfície, sendo plenamente capazes de cumprir o mais variado leque de missões, em especial a defesa da esquadra.
A Marinha do Brasil chegou a analisar diversas opções das mais variadas origens, tendo a disposição relatórios técnicos sobre as diversas classes ofertadas ao Brasil, porém, o programa foi colocado em "hibernação" por tempo indefinido devido à falta de recursos orçamentários, algo que irá comprometer seriamente as capacidades de nossa marinha nas próximas décadas, podendo levar a mesma a se valer da compra de oportunidade de embarcações em meia vida e com sistemas tecnologicamente defasados ou próximos disso, o que representará um desperdício de recursos que poderiam ter sido alocados na construção de novos meios que atendam aos nossos requisitas a pleno e apresentem uma longa vida operacional. Esta é uma questão que iremos abordar em breve, através de outra matéria voltada a discutir tal ponto.
Outra importante lacuna a qual vamos apontar, esta relacionada a capacidade de minagem e varredura, onde possuímos meios defasados e no fim de sua vida operacional. Há ótimas opções no mercado, algumas já apresentadas aqui em nosso site, como o sueco MCMV da SAAB, o qual pode desempenhar adequadamente as duas funções e possui um custo atrativo de construção e operação.
No campo logístico, a Marinha do Brasil tem conseguido realizar ótimas compras de oportunidade, como foi o caso do NDM "Bahia" e as atuais avaliações que podem resultar na aquisição do HMS "Ocean" junto à Royal Navy, um porta-helicópteros de apoio a operações anfíbias que permitiria ao Brasil dispor de importantes capacidades neste tipo de operação, embora esses dois meios careçam de proteção por fragatas e corvetas em sua escolta, o que os tornaria uma presa fácil num eventual conflito. Mas no campo logístico, ainda estamos longe de estar supridos, pois nos falta dispor de navios de apoio com casco duplo, os quais poderão suprir nossa esquadra em operação de longa duração, ou mesmo em operações fora de nossas águas, onde temos essa carência, a qual é agravada pela limitação das áreas onde é possível operar com nosso atual G-23 "Gastão Motta", o qual possui casco simples, o que torna proibido o trafego do mesmo em diversos pontos do planeta em acordo com tratados internacionais.
Apesar de se tratar de um assunto controverso e polêmico, o Brasil necessita de um novo Navio Aeródromo (NAe), uma vez que o A-12 "São Paulo" esta em processo de descomissionamento. Há quem defenda que o Brasil não deveria investir neste tipo de navio, mas do ponto de vista estratégico, é de grande valia contar com tal meio, o qual deverá não se limitar a apenas um navio do tipo, mas no mínimo de dois navio do tipo, afim de prover a capacidade de projeção de força e mesmo defesa de nosso território. Para tanto, há pontos importantes que se deve ter em mente, sendo o principal a operação de escoltas modernas afim de defender o mesmo em suas missões. Tal NAe deverá ser projetado de acordo com as necessidades de nossa esquadra, abrindo mão de compras de oportunidade com meios já defasados e no fim de carreira. O NAe ideal deverá ter capacidade de comportar um grupo aéreo composto por cerca de 30 aeronaves de alto desempenho, 3 aeronaves AEW, 2 aeronaves ASW, 2 aeronaves de apoio logístico, 4 helicópteros multi-uso, 4 helicópteros de ataque e esclarecimento, sistemas de defesa de ponto, sistemas de defesa com mísseis de médio e curto alcance e sistemas de monitoramento radar AESA, sonares e outros sensores e sistemas de defesa passiva. O que resultará em um investimento alto.
No campo das asas rotativas, a força aeronaval necessita de aumentar o número de aeronaves, como por exemplo, a aquisição de um maior número de aeronaves H-225M, carece de um vetor de esclarecimento e ataque dedicado, como os AH-1 "Viper" ou KA-52 e outros meios de asas rotativas especializados no combate ASW e missões AEW.
No campo de asa fixa, a Marinha do Brasil necessita de um substituto aos vetustos AF-1 (A-4KU) Skyhawk, os quais apesar da modernização, estão longe de suprir as necessidades do moderno cenário de combate, os mesmos poderão ser substituídos por uma versão naval do F-39 Gripen E/F, aliás, um ponto o qual não compreendi é o fato da FAB não ter coordenado com a Marinha do Brasil a concepção do Gripen NG com capacidade naval inerente a todas as versões, independente de ser destinados a FAB ou futuramente a MB, um verdadeiro desperdício, uma vez que o programa encontra-se em desenvolvimento.
Com relação aos meios, ainda é notória a falta real de capacidade de ataque com mísseis por parte dos meios navais de nossa marinha, a qual deveria contar com misseis de longo alcance e de cruzeiro como os Tomahawk ou Kalibr.
Bem, essa foi uma abordagem superficial, a qual pretendemos suplementar com materiais que abordarão de maneira mais profunda e detalhada cada lacuna aqui apresentada, expandindo o debate e buscando apresentar cenários e soluções plausíveis, tentando de maneira direta expor aos nossos governantes um ponto de vista real e bem direto sobre as necessidades de nossa nação, algo que deveria ser obrigação de nossos deputados e senadores, os quais se mostram mais inclinados a suprir seus "bolsos" através de esquemas sórdidos de corrupção e desvios do dinheiro público, ou programas de encabrestamento de votos como o "Bolsa família", que ao ver de qualquer pessoa com o mínimo de visão política, não trás soluções aos problemas sociais de nosso país, pelo contrário, os acentuam.
Esperamos a participação de todos com seus comentários e pontos de vista, afinal é com a participação de toda sociedade que podemos promover uma real mudança nos caminhos de nossa nação.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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