O alerta, no dia 21 de abril, do governo local e de órgãos da ONU de que em partes do Sudão do Sul há milhares de pessoas pessoas passando fome, e que essa situação pode se estender a quase metade da população do país até julho, mais uma vez joga os holofotes da comunidade internacional sobre a nação mais jovem do mundo.
Independente desde 2011, com uma guerra civil iniciada em 2013, o país de 12,5 milhões de habitantes tem uma das piores situações humanitárias do mundo.
Situação humanitária desastrosa
Segundo a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), mais de 1,5 milhão de pessoas fugiram do país em busca de proteção desde que começou o conflito armado.
O Unicef, por sua vez, calcula que 270 mil crianças sul-sudanesas estão gravemente desnutridas.
Atrocidades
Um informe confidencial da ONU vazado este mês dá conta de que a guerra alcançou "proporções catastróficas para os civis" e que as milícias podem se tornar incontroláveis e alimentar os combates por vários anos.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, escreve nesse informe que os civis fogem das cidades e aldeias "em um número recorde" e que o risco de que se cometam atrocidades em massa "é real".
"Nossas visitas ao Sudão do Sul sugerem que está sendo levado a cabo no país um processo de limpeza étnica em várias regiões por meio do uso da fome, dos estupros coletivos e de incêndios", disse, no fim do ano passado, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da ONU para o país, Yasmin Sooka.
Atrocidades como o assassinato de crianças, castrações, estupros e degolas são alguns exemplos do que ocorre na região.
Em maio de 2015, a Unicef denunciou o assassinato de 26 de crianças - algumas de apenas 7 anos - e o sequestro de dezenas de outras em ataques realizados por grupos armados, formados homens e meninos armados, vestidos de militares ou civis, no estado de Unidade.
A ONU ainda acusou militares do exército sul-sudanês de estuprar e queimar vivas mulheres e meninas que estavam em suas casas no mesmo estado, segundo depoimentos de vítimas e testemunhas.
Independência recente
O Sudão do Sul conquistou sua independência em relação ao Sudão em julho de 2011, depois que um referendo realizado em janeiro daquele ano aprovou a separação com 98,83% dos votos a favor. O referendo estava previsto em um acordo de paz de 2005 que encerrou décadas de guerra civil.
As diferenças étnicas e religiosas do que então era apenas um país foram o principal ponto de conflito entre os dois lados. A população do sul (hoje o Sudão do Sul), formada por diversos grupos étnicos de maioria cristã ou animista, se sentia discriminada pelo governo centralizado em Cartum (no Sudão), de maioria muçulmana, e que tentava impor a lei islâmica na região.
O governo de Cartum foi o primeiro a reconhecer a nova nação, num sinal de secessão tranquila.
Confronto de facções
Mas a aparente tranquilidade não durou. A guerra interna no Sudão do Sul começou em dezembro de 2013, com combates entre duas facções do exército, dividido pela rivalidade entre o presidente Salva Kiir e seu ex-vice Riek Machar. Diferentes milícias se uniram a cada um dos lados, com confrontos marcados por massacres de caráter étnico.
O confronto teve início quando Kiir destituiu Machar, acusando-o de tramar um golpe de Estado. Os dois políticos pertenciam ao mesmo partido -- o Exército de Libertação do Povo Sudanês.
"Algumas horas mais tarde, os militares se dividiram e começamos a escutar tiros em Juba (a capital)", contou à BBC Mundo o brasileiro Raimundo Rocha dos Santos, um padre brasileiro que trabalha como missionário Naquele país.
A disputa política somou-se à tensão étnica. O grupo dos dinka, ao qual pertence Salva Kiir, e que representa cerca de 15% da população do país, se opôs ao grupo dos nuer, do qual faz parte Machar e que equivale a cerca de 10% dos habitantes.
Economia em frangalhos
O fator econômico também é importante para entender o caos no país africano. Há uma inflação anual de 800%. Há um ano, US$ 1 valia cerca de 3 libras sudanesas. Atualmente, a proporção é de 1 para cerca de 120.
A economia no país piorou muito desde 2012, quando o governo decidiu fechar a produção de petróleo -- até então a commodity correspondia a 98% da receita pública do país -- após discordâncias com o Sudão, que tinha toda a infraestrutura para a sua comercialização, como oleodutos, refinarias e portos do Mar Vermelho. A maior parte do país vive em uma economia de subsistência.
Em 2015, as facções fizeram um acordo de paz que previa a volta de Machar ao governo, como vice de Kiir. Três meses depois, contudo, Machar foi novamente expulso do governo e o conflito foi retomado, em julho de 2016.
Fonte: G1 Notícias
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