O Ministério da Defesa do Reino Unido foi acusado de minimizar os perigos reais decorrentes da dissuasão nuclear do país depois que o relatório de um órgão de segurança colocou o número de acidentes envolvendo armas nucleares britânicas em 110, quatro vezes mais alto que a contagem oficial.
Revelado nesta quarta-feira (22) pelo Serviço de Informação Nuclear (NIS), um organismo independente de controle nuclear, o relatório lança luz sobre dezenas de acidentes envolvendo armas nucleares britânicas, com acidentes anteriormente não relatados com conseqüências potencialmente desastrosas. O estudo aprofundado, que remonta todos os 65 anos do programa nuclear britânico, organiza acidentes em sete seções de acordo com seu local de origem.
O relatório baseia-se nos resultados oficiais, incluindo o relatório sobre a segurança das armas nucleares escrito pelo professor Sir Ronald Oxburgh, as informações reveladas durante as perguntas de parlamentares, obtidas nos termos da "Freedom of Information Act", bem como através de denuncias, testemunhas e outros investigadores.
O maior número dos acidentes listados teve lugar em submarinos com capacidade nuclear, navios e aeronaves. As causas de um total de 45 acidentes, incluindo 24 que ocorreram com submarinos portando armas nucleares, variam de colisão e incêndios aos efeitos de raios.
Em um dos acidentes mais notáveis desse tipo, o submarino da Marinha Real, o "HMS Vanguard", que é capaz de transportar até 48 ogivas nucleares Trident, colidiu com o submarino francês "Le Triomphant", que poderia estar armado com a mesma quantidade de ogivas nucleares TN75. As circunstâncias do acidente, que aconteceu no início de Fevereiro de 2009 no Oceano Atlântico, foram silenciadas e ainda não são conhecidas por completo.
Embora o relatório oficial da investigação sobre a colisão chegou à conclusão tranquilizadora de que "em nenhum momento a segurança nuclear foi comprometida e o Sistema de Armas Estratégicas permaneceu dentro de limites toleráveis em todos os momentos" , as denuncias são muito mais assustadoras. Um oficial que estava a bordo do submarino do Reino Unido teria dito " Pensávamos que nós íamos morrer" , lembrando o incidente na conversa com o denunciante da Royal Navy, William McNeilly.
Outros estudos de caso incluem um transporte de ogiva nuclear que deslizou fora do suporte em 10 de janeiro de 1987 em Wiltshire. O infortúnio é descrito pelos autores como "mais visível" e "embaraçoso" incidente até à data. No total, 22 incidentes no transporte rodoviário, entre eles a derrubada de veículos transportando armas nucleares, foram citados no relatório.
Enquanto que apenas 14 acidentes, ligados às falhas na fabricação e processo de produção, estão listados no relatório, o acidente nuclear mais grave na história do Reino Unido também se enquadra nesta categoria. O incêndio na fábrica de Windscale em 1957 levou à liberação maciça de radiação de grafite do reator que provocou "cerca de 100 casos de cancro fatais e cerca de 90 cancro não fatais".
O relatório também lista 21 incidentes " relacionados à segurança " e oito incidentes culposos sobre o armazenamento inadequado e manipulação das armas nucleares.
O estudo abrangente, que abrange mais de 100 páginas sob um título inspirador "Playing with Fire" (brincando com fogo), culpa o Ministério da Defesa por tentar varrer a questão da segurança nuclear sob o tapete, ocultando detalhes essenciais dos incidentes e minimizando seu impacto.
O relatório argumenta que os dados oficiais divulgados pelo Ministério da Defesa britânico em 2003, que colocou o número de incidentes em 27, está "longe de ser uma lista completa de todos os acidentes".
Não é a primeira vez que os militares britânicos têm sido acusados de encobrir questões importantes sobre sua dissuasão nuclear. Notícias sobre um teste de mísseis falho com um Trident, realizado na costa da Flórida em junho de 2016, provocou uma nova rodada de debates acalorados sobre o programa nuclear britânico. O teste de rotina realizado pelo "HMS Vengeance" em junho de 2016 em Porto Canaveral foi horrivelmente errado com o míssil voltando para o continente americano. No entanto, as autoridades do Reino Unido não emitiram qualquer declaração sobre o teste que falhou, segundo notícias, aconselhado a abster-se de compartilhar dados desfavoráveis para colegas dos EUA.
O mal-funcionamento dos mísseis Trident ocorreu poucas semanas antes do parlamento britânico votar a favor da renovação da dissuasão do controverso Trident da Grã-Bretanha, estimada em cerca de 40 bilhões de libras esterlinas.
Em janeiro, McNeilly, que foi o primeiro a relatar os detalhes sobre as questões das falhas grave do Trident, que chegou a ter 3 falhas em 3 lançamentos.
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com agências
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