Observações negativas do presidente eleito contra Aliança Atlântica e União Europeia contrariam tanto os fatos históricos como a situação atual. E, no fim, Trump prejudica também os EUA, opina o jornalista Miodrag Soric.
"A Otan está obsoleta." Essa frase não partiu do presidente russo, Vladimir Putin, nem do ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un: quem a pronunciou foi o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. E assim ele contradiz os seus secretários nomeados de Estado e da Defesa. Em audiências no Senado, apenas na semana passada, ambos afirmaram exatamente o contrário. O que está valendo, então?
Se o argumento de Trump é que os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte deveriam investir mais em defesa, ele deveria expressar isso de forma absolutamente inequívoca. Declarar a Aliança Atlântica como supérflua só serve para desestabilizar os parceiros.
Isso vale não tanto para alemães ou franceses, que são fortes o suficiente para se defenderem sozinhos. Mas os Países Bálticos ou a Polônia estão agora se perguntado, com todo o direito, que valor ainda tem a aliança com os EUA para eles. Até porque o futuro líder americano parece procurar, em primeira linha, a amizade com o presidente da Rússia.
Como reagirá a chanceler federal alemã, Angela Merkel, aos sinais contraditórios que partem de Washington? Ela pode mencionar, confiante, as contribuições de seu país à Otan. A Alemanha, claro, pode e vai empregar mais verbas na defesa. Porém, depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, Berlim enviou soldados ao Afeganistão para apoiar os Estados Unidos. Naquele país se defende a segurança americana, e não a alemã; Osama bin Laden e seu bando terrorista atacaram Nova York, não Berlim.
Um outro exemplo: tanto os EUA como a Alemanha sustentam a soberania da Ucrânia, mas só o contribuinte alemão paga por isso. Quando, recentemente, o presidente ucraniano pediu ajuda financeira em Washington, o Congresso o enviou de volta para casa de mãos abanando. E também o presidente Trump manterá os bolsos bem fechados.
Mais um exemplo? A Alemanha gasta bilhões com os refugiados sírios e iraquianos. No entanto, o país nada teve que ver com a guerra no Iraque, até mesmo advertiu contra ela, mas os americanos foram procurar briga mesmo assim, desestabilizando toda uma região. Hoje eles encobrem a sua responsabilidade nessa aventura.
Presidentes americanos vêm e vão. Contudo, independentemente de quem manda na Casa Branca, ao que tudo indica a realidade política só é percebida de modo seletivo.
Da mesma maneira, a União Europeia não foi, em absoluto, criada para derrotar os Estados Unidos no comércio, como postula Trump. E ela tampouco é de interesse exclusivo alemão: todos os Estados-membros lucram com a comunidade europeia, no fim das contas até mesmo os EUA. Ou será que o presidente eleito acredita seriamente que seu país poderá se manter como potência global, no longo prazo, sem ter a UE a seu lado?
Por isso, enfraquecer a União Europeia vai totalmente contra os interesses americanos. O Brexit só deixa perdedores: no fim das contas, os britânicos prejudicaram a si mesmos, a libra esterlina se desvalorizou drasticamente, os investidores estão se retirando do Reino Unido – também os investidores americanos.
Fonte: Deutsche Welle
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