Continuando a falar um pouco da base industrial de defesa brasileira, não podemos deixar de fora uma das grandes industrias de nosso país, que já nos brindou com projetos de grande sucesso. Nesta matéria contaremos um pouco sobre a Avibrás, hoje a maior fabricante brasileira de materiais de defesa, sendo umas das poucas remanescentes do período dourado da industria de defesa brasileira.
A Avibrás foi fundada em São José dos Campos no ano de 1961, localizada no estratégico polo aerospacial brasileiro, onde também se localizam o ITA e o CTA, centros de excelência na formação de engenheiros e de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia aeronáutica. Os primeiros produtos da empresa foram a aeronave de treinamento básico Falcão e Alvorada, sendo as primeiras aeronaves fabricadas em São José dos Campos, já adotando em seu projeto material composto, considerado um avanço tecnológico mundial nesta época, ainda na década de 60 foi pioneira no desenvolvimento do primeiro propelente sólido sintético nacional para uso espacial, com o propelente sólido composto percloratado, marcando a sua posição como indústria química de propelentes e explosivos. Ainda na década de 60 desenvolveu para o Ministério da Aeronáutica em conjunto com o CTA os foguetes Sonda I, Sonda IIB e Sonda IIC, e o tratamento térmico do envelope metálico do Sonda II, além de plataformas de lançamento, com a Avibrás se voltando para o setor de mísseis em 1965, quando neste ano o CTA repassou à empresa a produção da linha de foguetes Sonda, que era destinado a pesquisas científicas e foram desenvolvidos em conjunto. A Avibrás passou a desenvolver no final desta década foguetes para emprego superfície-superfície e mísseis para o Exército Brasileiro, além de sistemas de foguetes ar-terra e armamentos para helicópteros da Força Aérea Brasileira e da Aviação Naval da Marinha do Brasil.
No ano de 1976 a Avibrás passou atuar no campo da tecnologia de telecomunicações, passando a produzir antenas parabólicas para comunicação via satélite.
A Avibras também desenvolveu e produziu sistemas e equipamentos para transporte e movimentação de cargas e materiais, com veículos para tração em estrada e ferrovias, sistemas de tração elétrica para trólebus e outros veículos para finalidades especiais.
Da mesma forma como aconteceu com todas indústrias de defesa no Brasil, o grande crescimento da Avibrás veio a partir de 1977, com o fim do Acordo de Assistência Militar com os Estados Unidos, vigente há 25 anos. A indústria brasileira já vinha realizando importantes avanços na pesquisa e desenvolvimento de novas soluções no campo de defesa, atuando em estreita cooperação com as instituições de pesquisa das Forças Armadas, com isso assistimos um grande número de projetos que resultavam em novos armamentos, aeronaves e veículos de emprego militar em diversas categorias no estado da arte. A fim do Acordo com os EUA fortaleceu esse vínculo e assegurou uma inédita independência do país no setor, com reflexos quase imediatos no mercado externo. Assim, contando com uma conjuntura internacional favorável e contando com o apoio do Itamaraty na divulgação de nossa industria e seus produtos, o Brasil se tornou um dos maiores fornecedores mundiais de material de defesa.
Neste período a Avibrás expandiu seu leque de produtos, oferecendo ao mercado uma vasta opção de sistemas de defesa. No ano de 1977 foi dado inicio a produção dos foguetes SBAT, ar-ar e ar-terra, desenvolvidos em parceria com o CTA e foram construídos os primeiros protótipos dos motores para foguetes X-20 e X-40, projetos realizados em parceria com o CTA e IME, proporcionando o alcance de até 60 km aos foguetes equipados com esse propulsor, ainda desenvolveu o sistema Transit de recepção de navegação por satélite, para atender a Marinha do Brasil. Nos anos 80 a Avibrás trabalhava no desenvolvimento de mísseis multifásicos para lançamento de satélites artificiais e de mísseis teleguiados para uso militar com alcance de até 300 km.
Em 1983 a Avibrás lançou um de seus maiores sucessos na exportação, o sistema de saturação Astros II, apresentado em cinco variantes, compondo um sistema integrado de defesa de alta mobilidade e precisão que viria a ser um sucesso de exportação. A viatura principal é um lançador de mísseis terra-terra equipado com rampa móvel dupla, sendo o único da sua categoria no mundo capaz de ser facilmente convertido para lançamento de três calibres diferentes de foguetes. Cada módulo pode comportar variados tipos de armamento, podendo ser configurado para 32 foguetes calibre 127 mm, 16 foguetes 180mm, um foguete de 300mm ou um míssil tático TM com alcance de até 300 km. Ainda há outras quatro variantes, sendo um sistema diretor de tiro que é equipado com sistema de radar e computador para controle dos disparos, uma viatura remuniciadora que possui uma grua hidráulica para facilitar a operação de remuniciamento, uma variante para comando e controle e um variante de apoio que pode ser usada como oficina e transporte de tropas.
Todas as versões tinham a mesma base, sendo montados sobre um caminhão 6×6 semi-blindado de 10 t equipados com motor Mercedes-Benz de 284 cv, fabricados pela Tectran, empresa criada em 1982 pela própria Avibrás para produzir veículos para transporte e uso civil. A plataforma possuía um chassi com longarinas de perfil U, com suspensão traseira de feixe de molas semi-elípticas invertida, caixa com cinco marchas com reduzida e bloqueio nos três diferenciais, direção hidráulica e controle interno da pressão dos pneus, contando com uma cabine blindada.
O sistema Astros II é reconhecido internacionalmente como um dos sistemas mais versáteis, eficazes e mais precisos da categoria, e ainda esta em produção. Hoje o Astros 2020 é montado sobre o moderno chassi tubular de longarina central Tatra, de origem tcheca, equipado com motor V8 refrigerado a ar, tração integral e suspensão pneumática independente. À família foi agregada uma nova variante equipada com uma estação meteorológica, com apenas dois eixos, configuração também assumida pela variante de comando e controle.
Sistema FILA |
Em 1984 a Avibrás passou a fabricar mais dois mísseis: o Barracuda, primeiro antinavio brasileiro, e o Piranha, ar-ar com sensor infra-vermelho. Em 1985 lançou o Fila (Fighting Intruders at Low Altitude), sistema de contra-ataque aéreo de baixa altitude, também pela primeira vez fabricado no país. Estes equipamentos se juntaram aos demais produtos da Avibrás, na época já com grande penetração no mercado mundial, em especial os países do Oriente Médio, que eram os maiores consumidores dos armamentos brasileiros, não apenas pela qualidade e tecnologia, mas também pela simplicidade e robustez aliada a um baixo custo de aquisição e operação. O mercado brasileiro estava cada vez mais restrito pelas limitações orçamentárias pelas quais passavam as forças armadas, com isso a indústria nacional crescia com foco e principalmente para atender ao mercado de exportações que correspondia a mais de 80% de seu faturamento. No caso da Avibrás, estas correspondiam a uma carteira de mais de um bilhão de dólares, respondendo por cerca de 90% do seu faturamento. Situação que mudaria drasticamente no princípio da década de 90, quando o setor enfrentou uma queda vertiginosa nas exportações e diante da perda de mercados importantes, como ocorreu após o Iraque sofrer os reveses de sua invasão no Kuwait.
Muitos os fatores contribuíram para a crise que praticamente fechou a indústria de defesa brasileira, dentre estes podemos elencar os sucessivos cortes de verbas sofridos pelas Forças Armadas, as incertezas econômicas e mudanças geradas pelo governo Collor, o embargo ao Iraque, que era disparado o maior cliente dos produtos de defesa da industria brasileira, a queda da URSS e a mudança brusca da geopolítica com o fim da Guerra Fria, o que alterou de maneira considerável a relação entre os estados árabes, e o aumento da influência dos EUA sobre seus aliados da região, em especial sua aproximação com a Arábia Saudita e Kuwait, grandes clientes do Brasil e que foi severamente atacado comercialmente, como ocorreu na concorrência onde o Osório foi derrotado pelo fator político, além da maior agressividade dos fabricantes de armamentos europeus no mercado do Oriente Médio.
Em decorrência desses fatores e a omissão do governo brasileiro muitas empresas do setor, como a gigante Engesa. A Avibrás enfrentou muitas dificuldades neste período, chegando a entrar em concordata. Como saída á crise, a empresa aumentou o foco no mercado civil, investindo em sua linha de telecomunicações, informatização e autopeças
A diversificação sempre foi uma das políticas do Grupo Avibrás. Em 1987 a Avibrás iniciou um projeto chamado Ônibus Urbano Brasileiro, que consistia no desenvolvimento conjunto com o CTA para criar um chassi com motor bicombustível, alimentado com álcool e gás natural com potência de 240 cv. Tanto o motor como o conjunto mecânico seriam fabricados pelas próprias empresas do Grupo, que pretendia construir uma linha para atender a produção de 10 mil chassis e 20 mil motores ao ano. Porém, o agravamento da crise econômica sepultou tal projeto.
Quanto à área de defesa, a recuperação seria lenta e gradativa, no final da década de 90 a Avibrás um novo sistema, denominado Astros Hawk, que tratava-se de um sistema lançador de foguetes leve, montado sobre um pequeno chassi 4×4 da Tectran e capaz de operar com os novos mísseis Skyfire com alcance de 12 km.
Sistema de foguetes ar-terra Skyfire |
Mísseis No ano de 1999, foi apresentado um protótipo do projeto que deveria dar origem ao sistema Astros III, montado em uma plataforma com tração 8×8.
O Sistema Astros é hoje composto por veículos de dois e três eixos com sete diferentes funções especializadas.
Em 2001, respondendo ao contrato assinado com a Malásia, a Avibrás lançou uma nova linha de viaturas blindadas leve AV-VBL, montado sobre o chassi Unimog U 2150L com tração 4x4, equipado com motores diesel de quatro cilindros de 150cv ou seis cilindros de 280cv, caixa de oito marchas com bloqueio de diferencial, caixa de transferência e tração 4×2 opcional. O veículo proporcionaria apoio para o Sistema Astros, podendo ser configurado para atender diversas missões. Sendo oferecido em 3 versões, com acomodação de três a doze tripulantes, já foram produzidas versões de comando e controle e viatura meteorológica. Há possibilidade de equipar o AV-VBL com radar de vigilância e posto de observação avançado, ambulância, transporte de pessoal ou reconhecimento.
Em 2003 foi lançado mais um veículo blindado leve, o AV-VB Guará, montado sobre um chassi Unimog 4000, com motor diesel de 177 cv. Possuindo 7,6 t e menor do que o AV-VBL, o Guará exibe um desempenho excelente off-road e bom desempenho no asfalto, com uma autonomia de 600 km. É um veículo extremamente moderno, com freios a disco nas quatro rodas, sistema de freios ABS e suspensão por molas helicoidais.
Com o Guará, a Avibrás tinha por objetivo fornecer ao Exército Brasileiro uma viatura que atendesse sua demanda por uma nova viatura blindada sobre rodas. Porém, mais uma vez os cortes orçamentários do EB e a baixa demanda no mercado externo, atingiram severamente a empresa, levando a mesma em julho de 2008 a passar por recuperação judicial. Com uma história de autos e baixos, a empresa voltou a se recuperar após uma bem sucedida negociação que resultou em um contrato para fornecer o sistema Astros a Malásia e uma grande encomenda das forças armadas brasileiras para aquisição de novos sistemas Astros, permitiram à empresa se manter ativa e firme no mercado.
Tupi |
Em 2014, uma nova viatura 4×4 o "Tupi", foi apresentado às autoridades brasileiras. Com um protótipo desenvolvido em apenas quatro meses com a parceria da Renault Trucks Defense, tratando-se de uma versão "brasilizada" do Sherpa francês, que visava a concorrência aberta pelo Exército Brasileiro destinada à aquisição de uma viatura blindada leve.
Guará 4WS |
Com base no know how conquistado através do desenvolvimento conjunto do "Tupi" a Avibrás reaginou seu blindado Guará, que sofreu grandes mudanças, tanto no desenho como no conjunto mecânico. Denominado agora de Guará 4WS, foi apresentado na LAAD Security 2016 evento o qual o GBN News esteve presente. A nova versão do veículo se mostra capaz de executar operações militares e policiais em zona urbana, possuindo grande mobilidade e raio de manobra.
A Avibrás está trabalhando no desenvolvimento de uma nova série de equipamento para atender ao programa Astros 2020, que deverá apresentar capacidade de lançar mísseis com alcance de 300 km e uma linha de viaturas de apoio. O primeiro lote deste sistema foi entregue ao EB no primeiro semestre de 2014, contando com seis veículos lançadores múltiplos AV-LMU, uma unidade remuniciadora e duas unidades para atuar como posto de comando e estação meteorológica. O segundo lote foi entregue em 14 de dezembro de 2016, entregando seis Viaturas Lançadoras e três Remuniciadoras AV-LMU- MK-3M, o contrato prevê 50 viaturas, que deverão ser produzidas até 2018,porém, acreditamos que deva ocorrer algum atraso no prazo de entrega devido aos cortes no orçamento do EB. A base para todas as viaturas deste sistemas deverá ser o Astros II com chassi Tatra, em sua versão Mk6.
A Avibrás ainda desenvolve o projeto "Falcão", que trata-se de um UAV Com tecnologia nacional para aplicações civis e militares, destinado a missões de reconhecimento, aquisição de alvos, apoio à direção de tiro, avaliação de danos e de vigilância terrestre e marítima.
A Avibrás é uma das mais importantes industrias de defesa atualmente em operação no Brasil, e traz com sigo uma vasta experiência e uma história de muita luta e superação para se manter no concorrido mercado de defesa, desenvolvendo produtos inovadores de grande qualidade e reconhecimento.
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