Presidente da Turquia reage irritado às críticas americanas e sugere que Washington articulou a tentativa fracassada de golpe de Estado. Ancara rejeita rumores de que Exército turco está enfraquecido para combater o EI.
"Em vez de agradecer a esta nação que anulou o golpe em nome da democracia [...] você está se colocando do lado dos golpistas", bradou o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, nesta sexta-feira (29/07), em discurso irritado num quartel do esquadrão das forças especiais, em Ancara.
O presidente turco estava se referindo aos comentários feitos pelo diretor da Inteligência Nacional dos EUA, James Clapper, e pelo general Jospeh Votel, chefe do Comando Central dos EUA, que alertaram que muitos dos principais aliados de Washington dentro do governo turco foram destituídos ou presos.
"Nós certamente tínhamos relações com diversos líderes turcos, líderes militares, em particular. E por isso estou preocupado com qual será o impacto sobre essas relações, enquanto prosseguimos", disse Votel, na quinta-feira.
A Turquia prendeu quase a metade de seus 358 generais por cumplicidade na tentativa falhada de golpe de Estado de 15 de julho, forçando uma remodelação súbita no topo das organizações militares.
Votel e Clapper advertiram que esta remodelação de generais pode afetar a atual guerra contra o grupo extremista "Estado Islâmico" (EI). É da base aérea de Incirlik, no sul da Turquia, que a coalizão liderada pelos Estados Unidos lança seus ataques aéreos contra a organização jihadista.
Reação irritada de Erdogan
Em resposta aos comentários de Votel, Erdogan reagiu com irritação: "Não cabe a você tomar esta decisão. Que é você? Conheça o seu lugar," disse o presidente turco, sugerindo ainda que os Estados Unidos poderiam estar por trás do golpe fracassado. "Meu povo sabe quem está por trás deste esquema. Eles sabem qual inteligência superior está por trás disso. E com declarações como estas vocês estão se revelando."
"O golpista já está em seu país, você já está alimentando-o", alfinetou Erdogan, em referência ao clérigo muçulmano Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos e a quem a Turquia acusa de ser o mentor da tentativa do golpe de Estado de 15 de julho. Ancara pediu a extradição imediata de Gülen, enquanto Washington respondeu que devem ser respeitados os procedimentos legais.
Votel rejeita as recentes alegações
Também nesta sexta-feira, Votel rejeitou as acusações de autoridades turcas de que ele esteve pessoalmente envolvido na tentativa de golpe. "Qualquer relato de que eu tive alguma coisa a ver com a recente tentativa mal sucedida de golpe na Turquia é lamentável e completamente impreciso", disse.
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, rejeitou rumores de que as conseqüências do golpe poderiam minar a luta contra o EI, garantindo à imprensa turca que as alegações eram "ridículas" e "infelizes". Cavusoglu disse que os militares presos "não são os únicos com capacidade de combater" o EI, acrescentando que as forças militares se tornarão mais eficientes com a remodelação.
Em decorrência à tentativa fracassada de golpe de Estado, a Turquia declarou estado de emergência. Mais de 18 mil pessoas foram detidas, quase 50 mil pessoas tiveram seus passaportes revogados e cerca de 66 mil pessoas foram suspensas de seus empregos no serviço civil.
Fonte: Deutsche Welle
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