segunda-feira, 23 de maio de 2016

Terror no ar

A França assistiu na última semana, mais uma vez impotente, às imagens que infelizmente estão se tornando rotina naquele país. Enquanto policiais acompanhados de cães pastores aumentavam as buscas por elementos suspeitos no aeroporto Charles de Gaulle, familiares choravam a perda de entes queridos que partiram repentinamente. Diferentemente dos atentados que mataram 130 pessoas em novembro passado, as vítimas agora não ficarão prostradas nas boêmias calçadas de Paris. Dessa vez, 66 corpos caíram nas águas do Mar Mediterrâneo, após uma possível ação com bomba derrubar um avião que ia da França com destino ao Egito. Destroços da aeronave foram achados pelas Forças Armadas egípcias perto do local da queda na manhã de sexta-feira 20. Os militares encontraram também pedaços de corpos, dois assentos e algumas malas. Como as evidências apontam para um ato criminoso, seria o segundo ataque de grandes proporções em menos de um ano a atingir o país, levando medo à população e levantando suspeitas sobre a segurança local. “Pelas características, tem tudo para ser um atentado”, diz o cientista político Christian Lohbauer, membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (USP). “Como outras organizações terroristas estão enfraquecidas, a chance maior é que os responsáveis sejam de novo do Estado Islâmico.”
O Airbus A320 da EgyptAir passou por várias cidades antes da queda, na madrugada da quarta-feira 18. No dia anterior, ele veio de Asmara (Eritreia) ao Cairo. Horas antes do acidente, foi e voltou de Túnis (Tunísia) à capital egípcia antes de decolar rumo a Paris. Um eventual explosivo pode ter sido plantado em qualquer uma dessas paradas. O voo fatídico começou às 23h09 (horário local). Saía da França para o Cairo, onde deveria chegar pouco depois das 3h da manhã. Porém, às 2h30, ainda sobre o mar e logo após entrar no espaço aéreo do Egito, a aeronave começou a fazer movimentos inusuais: uma curva de 90º para a esquerda e depois uma circunferência para a direita, caindo de 37, a 15 e a 9 mil pés, de acordo com o ministro da Defesa da Grécia, Panos Kammenos. Neste momento, desapareceu do radar sem enviar mensagens de socorro, o que é incomum em casos de acidentes. “Essas curvas antes da queda indicam que pode ter havido uma briga na cabine”, afirmou Shailon Ian, presidente da consultoria Vinci Aeronáutica. “Os movimentos são muito estranhos.”

A queda imediatamente acendeu alertas vermelhos nos comandos dos principais países envolvidos, Egito (30 vítimas) e França (15). Os primeiros declararam que a hipótese mais forte no momento é a de atentado. “Se você analisar a situação adequadamente, a possibilidade de ataque terrorista é maior do que a de falha técnica”, afirmou o ministro da Aviação, Sherif Fathi. O presidente francês, François Hollande, por sua vez, disse que nenhuma suspeita estava descartada – incluindo terrorismo. Na terça-feira 10, o chefe da agência de inteligência interna francesa (DGSI), Patrick Calvar, havia alertado: “Claramente a França é o país mais ameaçado e nós sabemos que o Estado Islâmico está planejando novos ataques.” Não só na França, mas também no Egito, houve um grave atentado há menos de um ano. Em outubro, um jato russo desapareceu sobre solo nacional, matando 224 pessoas (leia quadro). Nos dois episódios, o responsável foi o Estado Islâmico. Se a possibilidade de terrorismo for de fato comprovada, será mais um duro golpe para os dois países, que de novo foram incapazes de impedir a atuação do grupo dentro de suas fronteiras.
Para a França, a hipótese de atentado significa que mesmo os milhões gastos desde novembro foram insuficientes para proteger seus cidadãos. A comunidade islâmica radical no país é uma das maiores da Europa e suspeita-se que o aparato possa ter sido plantado justamente no Charles de Gaulle, apesar do forte controle de segurança do aeroporto francês. A situação do Egito é ainda pior, pois o turismo, uma de suas principais fontes de renda, será um dos principais afetados. O setor emprega um em cada dez egípcios, e anda em baixa devido aos recentes problemas de segurança locais. Lucros despencaram de US$ 1,5 bilhão para 500 milhões nos primeiros meses do ano, e visitantes caíram pela metade no mesmo período. Com a explosão do avião russo, até rotas aéreas foram fechadas.

Fonte: Isto É
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