A Embraer descarta interromper contratos com o governo brasileiro por causa da crise fiscal no país e do impasse político, mas admite que a incerteza da administração pública afeta os cenários do segmento de Defesa e Segurança.
“Não vemos interrupção de contratos. Obviamente tivemos ajustes, que vão impactar mais no primeiro trimestre, mas não vemos interrupção de programas”, disse o diretor-presidente da Embraer, Frederico Curado, durante teleconferência de resultados nesta sexta-feira com analistas.
O executivo disse esperar que o impasse provocado pela discussão do impedimento ou não da presidente seja resolvido para que a economia possa voltar a ser estimulada pelos investimentos privados, não apenas na aviação mas em todo ramo de atividades produtivas.
No primeiro trimestre, a receita da Embraer em Defesa e Segurança cresceu 20,3% ante igual período de 2015, para R$ 739,4 milhões. As outras áreas de negócios, aviação comercial e aviação executiva, cresceram mais: respectivamente, 42,7% e 214%.
Entre os programas com o governo brasileiro, a Embraer tem o Programa do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação (SGDC), cuja integração está sob responsabilidade da Visiona Tecnologia Espacial, continua com o seu cronograma, bem como todas as entregas contratuais, aderente ao planejado.
A plataforma do satélite encontra-se na câmara termo vácuo para teste ambiental, as duas antenas de 13 metros foram instaladas em Brasília e Rio de Janeiro e o sistema de solo está em fase final de instalação e validação em Brasília.
A unidade Visiona lançou o serviço de fornecimento e análise de imagens de satélites, por meio de uma constelação de 22 satélites, com o objetivo de desenvolver grandes projetos de sensoriamento remoto no Brasil e países vizinhos. Em 2016, a unidade já celebrou seis contratos.
No programa KC-390, a segunda aeronave protótipo saiu da linha de montagem e iniciou a campanha de ensaios em solo, com o primeiro voo programado para o segundo trimestre de 2016.
Delta
Curado considerou “atípica” a disputa, vencida pela canadense Bombardier, por uma encomenda feita pela Delta Air Lines para substituir a frota de velhos aviões McDonnell Douglas MD-90 e MD-88, que atendem rotas regionais.
A Delta é a segunda maior companhia aérea dos Estados Unidos.
“Não quero de forma alguma diminuir essa campanha. Mas quero dizer que fomos bastante agressivos. Foi uma campanha atípica. Algo influenciou a decisão”, disse o executivo da Embraer
A Bombardier anunciou ontem a maior venda já feita para a Delta, de 75 jatos CSeries 100, com opção de entregar mais 50 — dos quais os pedidos podem ser trocados para CSeries 300. O negócio pode chegar a US$ 5,6 bilhões.
“Mas quero dizer que continuamos bastante competitivos nesse mercado com a família E-Jets E2”, afirmou Curado.
Capacidade de produção
A Embraer considera que a capacidade instalada da empresa e a estrutura de fornecedores estão equipadas para atender um eventual aumento de encomendas no segmento de jatos comerciais.
Quando questionado por um analista sobre o fato de a empresa ter apontado ano passado que estaria trabalhando com cerca de 80% da capacidade instalada, Curado disse que a cadeia de suprimentos não é um gargalo.
O executivo afirmou que a empresa também tem capacidade para adicionar "slots" na produção de fábrica e atender aumento de demanda também em 2017.
Considerando-se todas as entregas, bem como os pedidos firmes obtidos durante o período, a carteira de pedidos firmes a entregar (“backlog”) da Embraer registrou US$ 21,9 bilhões ao fim de março, comparada aos US$ 22,5 bilhões alcançados em dezembro de 2015, bem como aos US$ 20,4 bilhões alcançados no primeiro trimestre de 2015.
A carteira de pedidos da Embraer soma 1.704 pedidos firmes em carteira de jatos comerciais, mais 653 opções. Desse total, 1.212 já foram entregues, restando 492 pedidos firmes em carteira
O executivo disse que os modelos seguem competitivos, destacando os mercados asiático e africano.
“Não vejo mudanças na dinâmica de mercado”, disse o executivo, quando perguntado sobre a conjuntura em que as fabricantes de aviões no mundo estão com longas listas de pedidos.
Projeções
A fabricante conta com um aumento de entregas de aeronaves de maior valor nos próximos trimestres para cumprir a meta de fechar o ano com uma margem de lucro antes de juros e impostos (margem Ebit) entre 8% e 8,5%, apontou Curado.
Entre janeiro e março, a Embraer apurou margem Ebit de 6,4%, ante 7,5% um ano antes e 3,1% no último trimestre de 2015.
Segundo a companhia, o mix de modelos de aeronaves em 2016 será semelhante para os E-Jets E175 no segmento de aviação comercial, em comparação a 2015, porém com um número maior de entregas.
No segmento de aviação executiva, a Embraer estima que em 2016 ocorra um número maior de entregas, com um mix mais favorável de jatos grandes, levando a uma melhoria da rentabilidade nesse segmento.
E na Defesa e Segurança, a empresa projeta que uma potencial menor volatilidade na taxa de câmbio do real frente ao dólar, neste ano, deve reduzir as revisões de base de custos, contribuindo para aumentar a rentabilidade.
Como resultado, em 2016 a empresa espera confirmar a margem Ebit consolidada de 8% a 8,5% (de US$ 480 milhões a US$ 545 milhões) e margem Ebitda de 13,3% a 13,7% (de US$ 800 milhões a US$ 870 milhões).
A Embraer reafirmou a previsão de entregar, neste ano, de 105 a 110 jatos comerciais, de 75 a 85 jatos executivos leves e de 40 a 50 jatos executivos grandes — incluindo, no último caso, o Legacy 500 e o Legacy 450.
A fabricante brasileira de aviões entregou 21 aeronaves comerciais e 23 jatos executivos no primeiro trimestre deste ano, 5% e 92% a mais frente a 12 meses antes, respectivamente.
O executivo da Embraer disse que vê com confiança a capacidade de a empresa cumprir as previsões de entregas e de margens em 2016.
Ainda segundo as projeções divulgadas pela Embraer — no começo de março e reafirmadas hoje — as receitas totais neste ano devem somar entre US$ 6 bilhões e US$ 6,4 bilhões.
No segmento de aviação comercial, as receitas devem totalizar de US$ 3,45 bilhões a US$ 3,65 bilhões no ano, enquanto no ramo executivo o montante deve ficar entre US$ 1,75 bilhão e US$ 1,90 bilhão.
Na área de defesa e segurança, as projeções vão de US$ 700 milhões a US$ 750 milhões, enquanto outros segmentos devem entregar receita de US$ 100 milhões.
Fonte: Valor Econômico