Onze meses antes da votação, a disputa pela sucessão do presidente Barack Obama já domina o noticiário nos Estados Unidos.
Em fevereiro, eleitores dos partidos Democrata e Republicano começam a votar em cada Estado para decidir quais pré-candidatos devem representar as siglas na eleição. As primárias se encerram em junho, quando os dois candidatos escolhidos passam a concorrer entre si.
A BBC Brasil entrevistou especialistas nas relações entre Brasil e Estados Unidos para saber de que forma a disputa eleitoral americana pode afetar o Brasil e os brasileiros - por exemplo, no que diz respeito à imigração e às relações comerciais.
Diretor de América Latina da Brookings Institution, um dos principais centros de debate e pesquisa em Washington, Harold Trinkunas diz que políticos democratas tendem a ser mais abertos ao multilateralismo, o que em tese favorece as aspirações do Brasil por mais espaço em organismos e negociações internacionais.
"Essa seria uma diferença importante para o Brasil entre termos de um presidente democrata ou republicano", afirma.
Já o professor de relações internacionais da American University Matthew Taylor diz que o partido do presidente americano não tem feito muita diferença nas relações bilaterais.
Ele diz que o republicano George W. Bush se entendia muito bem com Luiz Inácio Lula da Silva, assim como o democrata Bill Clinton mantinha uma boa relação com Fernando Henrique Cardoso.
Segundo Taylor, os laços entre Brasil e Estados Unidos tampouco deverão ser influenciados pelo debate durante a campanhas eleitoral, já que os dois governos geralmente interagem dentro das estruturas burocráticas.
Segundo ele, o avanço dos principais temas discutidos entre Obama e Dilma Rousseff na última viagem da presidente a Washington – como a cooperação em defesa, a facilitação dos vistos e o incremento do comércio – independem do clima político na capital americana.
Trump X Hillary
Para Taylor, "lamentavelmente, as campanhas americanas têm historicamente se preocupado muito pouco com o Brasil, e ainda menos com a América Latina".
Por enquanto, o empresário Donald Trump lidera as pesquisas entre os pré-candidatos republicanos, e a ex-senadora Hillary Clinton domina a disputa dos democratas.
Hillary se referiu indiretamente ao Brasil na campanha ao afirmar que "há muito que podemos aprender do sucesso da América Latina em eleger mulheres presidentes". Além do Brasil, na América Latina têm ou já tiveram chefes de Estado mulheres Argentina, Chile, Panamá e Costa Rica.
Em visita ao Brasil em 2010, quando era secretária de Estado do governo Obama, ela criticou a Venezuela e disse que Caracas deveria olhar para o Brasil como exemplo de um país bem-sucedido.
Trump, por sua vez, citou o Brasil na campanha ao listar países que, segundo ele, tiram vantagem dos Estados Unidos.
Mas talvez as propostas dele que mais afetem brasileiros sejam as relacionadas à imigração. Trump defende deportar todos os imigrantes sem documentos. Segundo o governo brasileiro, cerca de 730 mil brasileiros estão nos EUA em situação migratória irregular.
A proposta e a ressonância dela entre apoiadores devem tornar ainda mais improvável a discussão em 2016 pelo Congresso de uma reforma migratória que beneficie os brasileiros irregulares.
Normalmente, diz Harold Trinkunas, anos de eleição presidencial já tendem a afastar ainda mais grupos políticos adversários, dificultando entendimentos entre congressistas sobre temas polêmicos como imigração.
Isolamento comercial
A polarização política pode ainda adiar para 2017 a votação no Congresso americano da Parceria Transpacífica, acordo comercial entre os Estados Unidos e outros 11 países no Pacífico.
Analistas afirmam que a aprovação do acordo pode deixar o Brasil ainda mais isolado no comércio internacional. Tanto Hillary quanto Trump se disseram contra a parceria.
Para os analistas entrevistados, porém, o Brasil deverá ficar à margem da campanha presidencial principalmente por causa das crise política e econômica que atravessa.
"O Brasil hoje está totalmente ausente dos debates em Washington", diz Taylor.
Trinkunas afirma que, por causa da crise, o Brasil deixou de ter uma posição de destaque no cenário internacional, tornando menos prováveis embates entre o país e os Estados Unidos.
"É possível que durante a Olimpíada os candidatos façam comentários sobre o Brasil, mas se tudo correr bem nos Jogos dificilmente haverá algum ponto de atrito envolvendo o país."
Fonte: BBC Brasil
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