Será realizado no Rio de Janeiro nestas quarta e quinta-feiras, 19 e 20, o ENAEX – Encontro Nacional de Comércio Exterior, de iniciativa da AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil. O presidente da AEB, José Augusto de Castro, fala com exclusividade para a Sputnik Brasil sobre o evento.
O ENAEX terá presença maciça de empresários e também de ministros de Estado – entre os quais, os da Fazenda, Joaquim Levy, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro. O Encontro terá lugar no Centro de Convenções Sul América, no Rio de Janeiro, e esta será a 34.ª edição do ENAEX, nos 45 anos de existência da AEB.
Em entrevista exclusiva concedida à Sputnik Brasil, o presidente da entidade, José Augusto de Castro, revela que o tema deste ano do evento é a competitividade.
A seguir, a íntegra da entrevista.
Sputnik: Como o senhor define o ENAEX, e qual a importância deste evento para os exportadores do Brasil e para o Governo, já que figuras muito representativas do Executivo estarão presentes?
José Augusto de Castro: O ENAEX é um fórum de debates entre o setor privado e o Governo, tanto é que existe a participação majoritária do setor privado mas existe a participação também do Governo. Neste ENAEX, nós vamos ter a presença do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro; do ministro da Fazenda, Joaquim Levy; do ministro da Secretaria de Portos, Edinho Araújo, todos ligados diretamente ao comércio exterior. E teremos o setor privado, que vai apresentar propostas e sugestões de forma a melhorar o comércio exterior brasileiro.
S: Quais serão os temas da pauta do 34.º ENAEX?
JAC: O tema basicamente será “competitividade”. Porque na realidade o mundo todo hoje está se voltando em torno da competitividade, e o Brasil não pode ficar atrás. Vamos discutir fundamentalmente competitividade. E, aproveitando que em 2015 o ENAEX completa 34 anos de realização e Associação Brasileira de Comércio Exterior, 45 anos de existência, o tema, mais uma vez, é: o ENAEX é um fator de competitividade em prol do comércio exterior brasileiro.
S: Nestes 45 anos de existência da Associação de Comércio Exterior do Brasil, como o senhor analisa a evolução do ENAEX nestes 34 anos de realização?
JAC: Melhorou muito. Durante muitos anos nós discutimos apenas exportação, e hoje já discutimos comércio exterior, porque exportação e importação caminham juntas, é uma via de mão dupla, então não podemos esquecer a importação, embora a prioridade seja exportação.
S: O Ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, falará na sessão de instalação na quarta-feira, 19, e o seu tema será “Plano Nacional de Exportações”. O senhor pode adiantar algo do que o ministro deverá abordar em seu pronunciamento?
JAC: Certamente, ele irá avaliar o plano anunciado em junho passado, e que cria bases para o futuro das exportações brasileiras. Sabidamente nós temos uma grande participação das commodities em nossa exportação, e o objetivo é que haja equilíbrio entre commodities e produtos manufaturados. A recente desvalorização cambial está fazendo com que os produtos manufaturados voltem a ter competitividade no mercado internacional, mas nós não podemos depender de competitividade apenas em função da taxa de câmbio. Nós temos que ter competitividade sobre o aspecto “custos” e esse é um dos pontos que o ministro deve abordar de forma mais enfática, que é criar condições internas, de custos, para que possamos competir no mercado internacional sem depender da taxa de câmbio, que é importante mas não pode ser o principal fator numa operação de exportação.
S: Como o senhor vê o atual momento do Brasil, em função do câmbio?
JAC: No momento a taxa de câmbio é amigável para o comércio exterior, é favorável à exportação, mas o câmbio é flutuante. Assim como hoje o cenário faz com que se tenha um câmbio favorável, ele pode mudar completamente amanhã e deixar de ser favorável e ter um custo para as empresas exportadoras. Não podemos esquecer que até recentemente, no final do ano passado, o câmbio não estimulava a exportação, ao contrário, estimulava as importações, e neste momento o cenário se inverteu, principalmente em função do fator econômico e do fator político, e temos uma taxa de câmbio favorável à exportação. Mas isso não significa que em 2016, 2017, esta taxa vá prevalecer. E não podemos esquecer que em relação a produtos manufaturados, as decisões são tomadas em médio e longo prazos. Por isso, precisamos de previsibilidade para ter uma visão de pelo menos dois anos à frente, e neste momento nós não temos.
S: Que apoio os empresários brasileiros têm recebido do Governo e do Ministério das Relações Exteriores para o seu comércio com os outros países?
JAC: O Itamaraty tem atuado junto conosco. Na realidade o apoio que nós precisamos é recíproco para o Ministério das Relações Exteriores, porque não adianta termos exportadores que irão vender nossos produtos se o Itamaraty não estiver presente. E hoje o Ministério das Relações Exteriores tem nos oferecido total apoio, seja no sentido de prospectar oportunidades no mercado internacional, seja em estar presente quando existe uma missão comercial no exterior ou quando existe uma empresa no exterior que necessite de apoio in loco para desenvolver alguma ação voltada para o aumento da exportação. O apoio do Itamaraty é total neste momento.
S: Quais são as prioridades de nossa pauta de exportações?
JAC: Infelizmente hoje nós temos 60% da pauta de exportação em commodities e 40% em produtos manufaturados. Nós precisamos equilibrar esta pauta, porque as commodities flutuam ao sabor dos mercados internacionais. Neste momento nós estamos acompanhando uma queda nas cotações das commodities, não das quantidades, mas queda das cotações. Em contrapartida, os produtos manufaturados, apesar de neste momento haver uma taxa de câmbio favorável, ainda representam uma pequena parcela. E, além disso, no mundo como um todo, dos 15 maiores exportadores mundiais, 13 são exportadores de produtos manufaturados. Apenas dois, Rússia e Arábia Saudita, fogem à regra e têm empresas majoritárias nas exportações de produtos de commodities.
S: E o que estamos importando em maior quantidade?
JAC: 85% do que o Brasil importa hoje são produtos manufaturados. A participação dos produtos básicos, as chamadas commodities, na importação é de apenas 10%. Esta é a pauta que nós gostaríamos que houvesse na exportação, porque na exportação é o inverso, como mencionei: 60% são commodities e apenas 40% são produtos manufaturados.
S: Na programação do ENAEX constam, como o senhor citou, uma agenda para a competitividade no mercado exterior e outro tema importante, o agronegócio – oportunidades no mercado internacional. Como o senhor destaca o papel da competitividade?
JAC: Infelizmente a palavra competitividade, para o Brasil, não tem um peso importante, porque se avaliarmos o relatório do ranking mundial de competitividade em relação a 2014, em 60 países pesquisados o Brasil ocupa apenas a quinquagésima quarta posição. A palavra competitividade no Brasil é muito utilizada mas pouco praticada. Nós temos que nos ater mais ao aspecto de competitividade, que é a mola mestra do mundo, e nós não podemos ficar fora deste mundo. Quando nós falamos da integração das cadeias produtivas globais, da qual o Brasil está ficando fora em função da impossibilidade que temos hoje de firmar acordos bilaterais decorrentes das amarras que nos prendem ao Mercosul, nós temos que buscar solução. Este é um dos pontos que constam do Plano Nacional de Exportação que o Ministro Armando Monteiro divulgou recentemente e quase certamente vai mencionar na palestra de abertura do ENAEX.
S: E quanto ao agronegócio? O senhor falou ainda há pouco das commodities…
JAC: O agronegócio, para o Brasil, é a salvação da lavoura. É o que está sustentando o comércio exterior brasileiro com os elevados superávits. No agronegócio nós temos competitividade dentro das fazendas, ou dos campos. Ao sair do campo para embarcar o produto, nós sentimos o problema da falta de competitividade: vamos encontrar uma logística muito cara e ineficiente; uma burocracia muito elevada; custos burocráticos ainda elevados e custo financeiro. Mas dentro do campo o agronegócio é muito competitivo. O Brasil é reconhecidamente um dos países que têm a mais elevada produtividade no campo. Se não fosse por isso, não estaríamos ocupando a posição de destaque que temos no mercado internacional. Não podemos esquecer que o Brasil está em 1.º, 2.º, no máximo em 3.º lugar na exportação e produção de soja, de carne, de açúcar, de suco de laranja, de café e milho. A nossa produtividade é reconhecida mundialmente.
S: Como o Brasil deve proceder para saltar posições, já que ocupa a quinquagésima quarta posição entre os países mais competitivos no mundo?
JAC: Quando falamos em competitividade, à primeira vista imagina-se que a competitividade é apenas do setor privado, mas na realidade ela é do setor público, o Governo, com o setor privado. Os dois têm que fazer o dever de casa. A elevada competitividade das empresas acaba se reduzindo porque elas têm que absorver uma parcela não cumprida pelo Governo. Mas temos que continuar tentando, utilizando o ENAEX, mais uma vez, como uma forma de tentar aproximar Governo e setor privado a falar o mesmo idioma, de forma que possamos ter preços competitivos no mercado internacional. Não podemos esquecer que a tendência mundial é o mundo se formar através de blocos comerciais, e esses blocos visam a melhorar a produtividade, a competitividade, e principalmente eliminar as barreiras tarifárias. Ou seja, o futuro do mundo será um comércio exterior aberto, e quem não for competitivo terá dificuldade em participar desse mundo comercial. E o Brasil, como a sétima economia do mundo, tem que estar presente, e para isso precisamos fazer nosso dever de casa. E, quando digo “nosso”, é setor privado e Governo.
Fonte: Sputnik News
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