quarta-feira, 17 de junho de 2015

Bálcãs na mira do "Estado Islâmico"

Em vídeo, jihadistas convocam milhares de muçulmanos que vivem na área a matar vizinhos "infiéis". Para mídia local, região é alvo importante para os extremistas, mas analistas divergem sobre o real perigo.

A história dos Bálcãs nos últimos cem anos é uma cronologia única da opressão contra muçulmanos, alega o grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI), cuja propaganda também tem a região como alvo. A única saída para a luta contra comunistas, "cruzados" ou judeus é a jihad ("guerra santa"), dizem. Em um vídeo, os muçulmanos da Bósnia e Herzegovina, Sérvia, Kosovo, Albânia e Macedônia foram convocados a matar os vizinhos "infiéis".

"Coloquem explosivos debaixo dos carros e das casas deles. Derramem veneno em sua comida, os deixem morrer", apelou um jovem barbudo na língua bósnia. Os terroristas no vídeo receberam apelidos que identificam suas origens: Al-Bosni, Al-Albani e Al-Kosovi.

A propaganda já atingiu seu primeiro objetivo: todas as mídias regionais divulgaram, ao longo de dias, que o EI tem especialmente a região dos Bálcãs como alvo. Tal cobertura jornalística é útil para os extremistas, critica o especialista em terrorismo Vlado Azinović, da Bósnia.

"Exclusivamente pelo Twitter, o EI posta mais de 200 mil mensagens por semana. Todas incluem ameaças em diferentes línguas. Por isso, é simplesmente errado acreditar que o EI mira especialmente nos Bálcãs", afirmou Azinović em entrevista à DW.

A teoria de que os Bálcãs representam uma porta de entrada para os jihadistas é vista pelo especialista como um produto midiático e uma expressão de "histeria".

O jornal alemão Welt am Sonntag também escreveu que os islamistas radicais criam cada vez mais redes nos Bálcãs Ocidentais e oferecem "uma espécie de pré-treinamento para potenciais jihadistas". A situação seria tão preocupante que o tema teria sido tema de discussão no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) e até mesmo do recente encontro de cúpula do G7.

"A ameaça do EI deve ser levada a sério", afirma Filip Ejdus, da Faculdade de Ciências Políticas de Belgrado. Embora ele não acredite que o EI possa fundar uma sucursal nos Bálcãs, ele teme que os terroristas realizem em breve grandes atentados na Europa.

"Os Bálcãs deverão ser uma presa fácil por conta de sua instabilidade. As elites políticas precisam entender que não se pode dar uma resposta à ameaça global sem uma firme cooperação com as democracias ocidentais", afirmou Ejdus em entrevista à DW

Da miséria à jihad

Na Bósnia, já foram realizados ataques com mortes dentro de um contexto islamista. Em abril deste ano, um suposto militante do EI matou um policial e feriu outras duas pessoas na cidade de Zvornik. Ainda não foi comprovado se foi de fato uma ação coordenada pelas lideranças do "Estado Islâmico".

Embora as opiniões dos especialistas sobre a extensão da ameaça do grupo nos Bálcãs estejam divididas, uma coisa é certa: o EI recruta novos seguidores na região. De acordo com relatos da mídia local, 250 homens do Kosovo teriam se juntado aos extremistas – um recorde na Europa em relação ao tamanho da população do país. Também na Bósnia e Herzegovina o recrutamento de jihadistas figura no topo da lista.

"Trata-se principalmente de homens jovens que estão à margem da sociedade e que não têm educação nem experiência no mercado de trabalho", afirma Azinović.

Mas os jovens não se radicalizam somente por conta da situação econômica precária em sua terra natal. "Eles viajam para zonas de crise distantes que nem mesmo sabiam encontrar no mapa, para participar de uma guerra que não compreendem. E tudo por acreditarem que, assim, vão cumprir uma missão divina", diz Azinović.

Interpretação radical

Ejdus lembra que as guerras iugoslavas da década de 1990 também foram travadas entre religiões diferentes – entre sérvios ortodoxos, bósnios muçulmanos e croatas católicos. Na época, as facções árabes mujahedin lutaram ao lado dos bósnios muçulmanos. Após a guerra, a interpretação radical do islã permaneceu na região, e as mesquitas são financiadas até hoje por países do Golfo Pérsico.

"Essa interpretação da religião serve de inspiração para a 'guerra santa'. Embora a grande maioria dos muçulmanos nos Bálcãs rejeite essas ideias anticivilizatórias, elas infelizmente conseguem alcançar um grupo de pessoas", afirma Ejdus.

Isso também se aplica ao Kosovo, diz Ismail Hasani, sociólogo da religião, em entrevista à DW. Ele diz que existem alguns imãs que foram treinados no Oriente Médio e propagam uma interpretação não tradicional do islã. Mas essas variantes radicais, afirma o especialista, não encontram um terreno fértil na região dos Bálcãs.

"Estou convencido de que essas interpretações, em breve, serão coisa do passado", afirma Hasani. "Há um preconceito sobre os Bálcãs, de que pessoas aqui mal podem esperar para matar seus vizinhos. Mas esse tempo já passou."

Um detalhe, porém, não foi mencionado em algumas reportagens sobre a propaganda do EI: o vídeo dirigido aos Bálcãs foi gravado no ano passado, e muitos dos militantes que aparecem nas imagens já estão mortos.

Fonte: Deutsche Welle

Nota do GBN: É de extrema importância que as potencias busquem criar uma ferramenta de cooperação entre suas "armas" para combater a ameaça do EI, não se pode subestimar esta nova ameaça global, que dentro de pouco tempo tem se alastrado como um câncer pelo norte da África e o Oriente Médio, e que se não for feito um trabalho conjunto de combate contra essa ameaça, logo veremos suas ramificações alcançar os portões da Europa e dentro de pouco tempo se alastrarão por todo continente levando o caos as nações europeias que hoje possuem uma vasta população islamita que pode ser inflamada e influenciada por esse grupo para se levantar contra os Estados ocidentais e suas politicas muitas vezes segregacionistas, que excluem a população islâmica, causando uma ruptura que posse servir de entrada para o fanatismo do EI.
No Iraque vimos o que deu subestimar esse inimigo, perdemos Mossul e outras grandes cidades sem conseguir organizar uma resistência ou mesmo uma contra-ofensiva, na Síria assistimos o mesmo e isso não irá cessar enquanto não houver coesão entre as grandes potencias.   
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