No último domingo, as tropas do governo iraquiano abandonaram suas posições na cidade de Ramadi, o que fez com que a capital da maior Província do Iraque - a apenas 112 km de Bagdá - caísse nas mãos do grupo autodenominado "Estado Islâmico".
A polícia e o Exército fizeram um recuo caótico após dias de intenso combate. O "EI" afirma ter capturado tanques e lançadores de mísseis largados pelos militares.
Eventos semelhantes ocorreram quando o "EI" ocupou Mosul - a segunda maior cidade do Iraque -, Fallujah e Tikrit (todas em 2014), ainda que esta última tenha sido retomada pelo governo.
O que explica a falência do governo iraquiano em enfrentar o "EI"? Será que outras forças armadas - como milícias xiitas - têm poder de fogo para vencer os extremistas?
Corrupção
No papel, as forças militares do Iraque têm tamanho considerável: um Exército de 193 mil e estimados 500 mil policiais e paramilitares, segundo estimativas de 2014 de grupos internacionais de estudos estratégicos.
A agência americana CIA calcula que o "EI" tenha até 31 mil combatentes no Iraque e na Síria - ou seja, numericamente bastante inferior às tropas oficiais. Mas esses números parecem não refletir a realidade do campo de batalha.
Uma investigação sobre a corrupção no Exército iraquiano, em novembro de 2014, identificou 50 mil nomes falsos na folha de pagamento da instituição.
Conhecidos internamente como "soldados fantasmas", eles já não se apresentavam mais para combate ou de fato não existiam. Mas seus salários continuavam a ser pagos.
Falhas organizacionais
A máquina militar de Saddam Hussein foi completamente desmantelada após a derrubada do ex-presidente pelas forças americanas, em 2003, e foi substituída por um Exército nacional não-sectário - ou pelo menos assim se esperava. Mas claramente houve erros no caminho.
Pode ter sido um erro tentar estabelecer um Exército em estilo ocidental, porém sem o preparo suficiente. A saída das forças americanas do país, no fim de 2011, pôs fim ao treinamento e à orientação provida às tropas iraquianas, que ficaram despreparadas para combates futuros.
Além disso, antigos líderes militares da época de Saddam estão hoje entre os mais importantes comandantes do "Estado Islâmico".
Milícia xiita
Quando Mosul foi dominada pelo "EI", em junho de 2014, uma aliança de combatentes - chamada Força de Mobilização Popular, com dezenas de milhares de integrantes - foi formada para conter a ameaça do grupo extremista.
O Serviço Árabe da BBC relata que essa força é composta por dois grupos principais: um primeiro oriundo de fortes organizações paramilitares, como a Brigada Badr, braços do Hezbollah e outros (há relatos de que esses soldados sejam apoiados pelo Irã); e um segundo grupo, estimulado por clérigos xiitas a combater o sunita "EI".
Poucos dias depois de militantes do "EI" terem tomado o controle de Mosul, o mais importante clérigo xiita local fez um chamado às armas.
Segundo relatos recentes de Bagdá, muitos jovens xiitas têm se alistado em mesquitas e treinado para entrar nos campos de batalha.
Mas será que a Mobilização Popular conseguirá derrotar o "EI" em Ramadi?
O grupo conseguiu, recentemente, impor uma derrota militar ao "Estado Islâmico" ao retomar Tikrit. Mas as milícias também foram acusadas por grupos de direitos humanos de promover "ataques de vingança" contra sunitas da região.
Jaafar al-Hussaini, porta-voz do Kataib Hezbollah-Iraq, um dos grupos que integram a Mobilização, disse à BBC que, ainda que as milícias xiitas sejam aliadas próximas do Exército iraquiano, os sunitas não os aceitam nesse papel.
Na Província de Anbar, até mesmo tribos sunitas que apoiam o governo central iraquiano rejeitam a presença da Mobilização como força libertadora na região.
O líder sunita Abdurazak Al-Shamari afirmou recentemente que "ninguém pode libertar áreas sunitas a não ser os seus filhos".
Fonte: BBC Brasil
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