Durante conferência do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, realizada em Nova York, entre abril e maio, o chefe da delegação russa e diretor do Departamento de Não Proliferação de Armas do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Mikhail Ulianov, falou sobre os fatores que dificultam o processo de desarmamento nuclear.
O ano de 2015 é esperado para ser decisivo para o desarmamento nuclear. Neste ano, completam-se 70 anos dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki pelos Estados Unidos, e diversos eventos estão programados para relembrar essas trágicas páginas da história mundial.
Além disso, é também em 2015 que se celebram os 45 anos desde que as cinco primeiras potências nucleares - China, EUA, França, Grã-Bretanha e Rússia - chegaram a um acordo quanto ao Artigo 6° do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), sobre a realização de negociações de boa fé para a eliminação de seus arsenais nucleares.
Mas, apesar das esperanças de que as potências atômicas abandonem completamente esse tipo de armamento, na prática é muito improvável que isso aconteça. Enviado à conferência quinquenal de exame do TNP em Nova York, o diretor do Departamento de Não Proliferação de Armas do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Mikhail Ulianov, falou sobre o assunto:
Dos países-membros do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), 160 clamaram pela eliminação completa desse tipo de armamento devido às consequências humanitárias de sua utilização. Os Estados detentores de armas nucleares (EAN) são contra. O tratado começou a ruir?
Quando tantos países, ou seja, a maioria absoluta do TNP assina uma iniciativa sobre consequências humanitárias do uso de armas nucleares, é impossível ignorá-la. Mas não estamos de acordo com a iniciativa.
Por que a questão não foi levantada em 2005 ou no final do século passado? Não aconteceu nada de extraordinário no mundo que incentive a discussão do tema.
Parece que o assunto foi inserido de maneira artificial na agenda internacional. Além disso, a iniciativa gera grandes expectativas na área do desarmamento nuclear, e isso pode realmente minar a base do TNP.
Muitos países já afirmam que o TNP tem caráter discriminatório...
Sim, eles dizem que os países com armas nucleares têm vantagens. Enquanto os outros se comprometem a não desenvolver esse tipo de armamento, as potências nucleares, em vez de se desarmar, não têm nenhuma pressa em atender às aspirações da comunidade internacional no que diz respeito a um mundo não nuclear.
Parece bastante lógico, não é?
Sim, nessa lógica obviamente existe um senso comum. Mas essas avaliações contrastam com a realidade: durante os últimos 25 anos, os americanos e os russos reduziram as armas nucleares táticas em aproximadamente 85%. Desde 2005, a número de ogivas caiu para um terço. É um ritmo lento?
O processo de desarmamento nuclear não está desacelerando?
A situação com desarmamento nuclear é realmente complexa. Até 5 de fevereiro de 2018, russos e americanos terão que chegar aos níveis citados no último Start [da sigla em inglês, Tratado de Redução de Armas Estratégicas]. O que acontecerá depois? Não existe uma resposta, a situação na área da estabilidade estratégica é muito incerta.
Agora, ninguém, provavelmente, pode responder à pergunta sobre a ratificação de um novo acordo sobre a redução de armas estratégicas de ataque. Da agenda russa, pelo menos, essa questão não consta.
Existem chances de continuar o diálogo com os Estados Unidos sobre a questão da defesa antimíssil?
Não temos informações sobre a vontade de Washington de discutir essa questão. Como se sabe, o diálogo sobre a questão da estabilidade estratégica por meio da Comissão Presidencial foi congelado.
Os americanos declararam que um sistema de defesa antimísseis será construído com ou sem a permissão da Rússia. Eles também afirmaram explicitamente que não atenderão a nossas demandas por garantias legais de que o sistema não ameace a Rússia. Em geral, as relações bilaterais atuais não ajudam a reiniciar as negociações.
Você acredita que a possibilidade de um conflito nuclear está aumentando?
Não, não acredito. Não aconteceu nada de tão extraordinário que possa incentivar o uso de armas nucleares. Os americanos e outros países estão bem cientes de sua responsabilidade
De acordo com o Artigo 14º do Tratado Start, a intensificação de sistemas de defesa antiaérea pode ser considerada como motivo para que um país se retire do tratado. Por que a Rússia ainda não se retirou?
Em novembro de 2011, o então presidente russo Dmítri Medvedev declarou que o país poderia rever sua posição sobre o tratado caso o novo sistema ameace sua segurança. Isso não aconteceu até agora. O sistema americano ainda está em fase inicial de preparação.
As declarações do presidente Vladímir Pútin no documentário "Crimeia. Caminho de volta" (2015) de que se considerou a possibilidade de colocar as armas nucleares em prontidão durante a operação de reintegração da península não provam que hoje o governo dá mais valor a esse tipo de armamento que no passado?
O presidente disse que essa possibilidade foi considerada, mas não se pode inferir de maneira nenhuma de suas palavras que as forças nucleares tenham sido colocadas em alerta máximo.
Os participantes da conferência em Nova York acusaram a Rússia de violar o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário...
Essas questões devem ser resolvidas por via diplomática. Acreditamos que a polêmica sobre esse tema na conferência de exame do TNP seja despropositada, mas já que nossos parceiros americanos levantaram a questão primeiro, expressaremos nossa posição em resposta.
E a parte russa acusou os Estados Unidos de violar o tratado com a construção e uso de drones de ataque...
Os drones de ataque americanos se enquadram na categoria de mísseis de médio e curto alcance, independentemente de suas funções. Antes de produzir os drones, os colegas americanos poderiam conversar com a Rússia, propor alterações ao tratado... Mas eles optaram pelo caminho da violação dos artigos.
Isso significa que você admite a possibilidade de introduzir alterações ao tratado?
O tratado não exclui essa possibilidade. Qualquer parte pode introduzir alterações, mas apenas com o consentimento da outra parte. Mas a Rússia não tem nenhuma intenção de propor quaisquer alterações ao tratado.
Fonte: Gazeta Russa
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