Podemos analisar o atual desenvolvimento do conflito no Iêmen e refletir a respeito de três pontos-chave, para que possamos estabelecer uma analise geopolítica da situação e o que poderá ser desencadeado a partir de uma soma de fatores que podem tornar tal intervenção desfavorável para a estabilidade da região.
- A intervenção militar por parte dos Estados árabes sunitas, tem o objetivo implícito de restaurar o governo do presidente Hadi em Sanaa, significa que a evolução do conflito regional entre sunitas e xiitas passa de uma guerra por procuração a um conflito envolvendo diretamente seus patrocinadores rivais.
- Dado o histórico militar que apresenta um desempenho sem brilho contra os Houthi, esta torna-se uma operação de alto risco para os sauditas, egípcios e outros países que contribuem com tropas terrestres e apoio militar. Um revés na intervenção teria consequências para a estabilidade interna, nomeadamente na Arábia Saudita e Egito. Tal intervenção também carrega um alto risco de sofrer uma retaliação iraniana, sob a forma de promover a agitação entre sauditas e demais envolvidos.
- A intervenção provavelmente irá gerar um fator desestabilizador para os países envolvidos, principalmente se para atingir seus objetivos políticos venha a causar pesadas baixas, algo que poderá provocar críticas internas e reprovação por parte dos sauditas e egípcios.
EVENTO
A Arábia Saudita lançou ataques aéreos contra Sanaa, no Iêmen, em 26 de março, e disse que iria se comprometer com o envio de tropas terrestres em apoio ao presidente Mansour Hadi Abdurabu.
O presidente do Iêmen Abdurabu Mansour Hadi pediu aos estados árabes para ajudá-lo militarmente em restaurar a sua autoridade no país. Só a Arábia Saudita e o Egito estão em condições de contribuir com um número significativo de forças terrestres, enquanto outros Estados do Golfo, como o Kuwait, Qatar e os Emirados Árabes Unidos estão fornecendo apoio aéreo e fornecendo um pequeno contingente de forças especiais. Este relatório analisa as limitações e as conseqüências da intervenção pela Arábia Saudita e o Egito.
Da guerra por procuração ao envolvimento direto
O aspecto crucial da intervenção da Arábia Saudita no Iêmen é que ele representa uma mudança de usar seus aliados para lutar contra aliados do Irã, para assumir um confronto direto com aliados do Irã. Isto reflete a influência crescente do Irã e do sucesso militar no Líbano, na Síria, e agora no Iraque, onde milhares de tropas da guarda revolucionária islâmica do irã estão lutando ao lado de milícias xiitas iraquianas. Os patrocinadores do conflito entre sunitas e xiitas, evidentemente agora avaliam que os seus interesses fundamentais, incluindo a segurança do estreito de Bab-al-Mandeb, no extremo sul do Mar Vermelho, sob a ameaça direta com o avanço do conflito justifica o envolvimento direto. Isso reflete a maneira pela qual os avanços do Estado Islâmico no Iraque foram considerados suficientemente ameaçadores para o Irã, ao ponto de resultar no envio de tropas para o Iraque. O envolvimento dos patrocinadores regionais do conflito entre sunitas e xiitas é suscetível de aumentar, e aumentam o risco de uma guerra direta entre os patrocinadores rivais na perspectiva de três a cinco anos.
As pressões para intervir
A Arábia Saudita provavelmente avalia que o risco de intervir no Iêmen e não é menor do que o risco de uma não-intervenção. O Egito é altamente dependente da ajuda econômica dos Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, e por isso é pouco provável que recuse um pedido para envio de tropas para combater os Houthi. Além disso, atacando os Houthi dá o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi e a família governante da Arábia Saudita a chance de reforçar as suas imagens como protetores dos interesses árabes muçulmanos e sunitas, num momento em que a sua legitimidade está sendo desafiada em seus próprios países por militante islamistas.
Limitações sauditas
A intervenção militar da Arábia Saudita, no Iêmen, em novembro e dezembro de 2009 contra o Houthi parou após operações terrestres transfronteiriças e não conseguiu reprimir a insurreição Houthi; em vez disso resultou numa breve ocupação Houthis de territórios dentro da Arábia Saudita. Isso contribuiu para a marginalização do príncipe Khaled bin Sultan, o ministro da Defesa, em seguida. Embora os sauditas, provavelmente planejem um avanço rápido por terra até Sanaa via Marib, uma das consequência seria forçar a retirada dos combatentes Houthi do sul, os sauditas enfrentam o risco de um compromisso aberto para manter Hadi no poder, e combater uma insurreição Houthi prolongada. Uma falha em tal operação causaria um sério prejuízo as ambições do filho do rei, ministro da Defesa, Mohammad bin Salman, que busca promover a sua posição na sucessão e cujo perfil na mídia saudita tem sido positiva, em associação com os ataques aéreos. Tropas da Arábia Saudita não foram testadas em combate. Além disso, a sua lealdade não está garantida, e elementos, entre eles estão propensos a simpatizar com a Al-Qaeda, podendo causar problemas de segurança interna no seu regresso a casa. No entanto, a Arábia Saudita lançando-se diretamente envolvida na guerra contra os xiita apoiados pelo Irã, provavelmente serviria para reforçar a credibilidade nacional e regional da família Al Saud, apesar do risco de fracasso militar.
Obstáculos à intervenção egípcia
Os militares do Egito não conseguiram pacificar a insurgência Sinai, apesar de uma campanha prolongada usando métodos draconianos para suprimir a presença jihadista na península. Além disso, o Egito tem a necessidade de manter uma reserva estratégica para uma possível intervenção militar na Líbia, onde o Estado Islâmico e outros grupos militantes estão estabelecendo-se. Além disso, o Egito não tinha nenhuma experiência no envio de forças ao exterior, uma vez que forneceu um contingente para participar da Primeira Guerra do Golfo. Além disso, a intervenção militar do Egito no Iêmen em 1960 foi desastrosa, contribuindo para a derrota do Egito em 1967 na Guerra dos Seis Dias contra Israel, e terminando com a divisão do país após os militares egípcios não conseguirem derrotar o Zaidi de quem os Houthis são sucessores.
Impacto sobre o Irã
Os iranianos são suscetíveis de avaliar se eles precisam aumentar o seu apoio ao Houthi, de forma limitada, apesar da geografia. O espaço aéreo iemenita foi fechado pela Arábia Saudita, deixando apenas a rota de reabastecimento do Houthi pelo mar, sendo essa a única opção aberta ao Irã. Isso aumenta o risco de intercepção de transportes por navios de guerra da coalizão árabes e, potencialmente, de incidentes entre navios de guerra iranianos e árabes.
O conflito no Iêmen deve atrair cada vez mais os recursos iranianos, que já estão sendo tensos por compromissos assumidos no Iraque, Síria e Líbano. Como tal, o Irã provavelmente se sentem sob crescente pressão para chegar a um acordo nas negociações sobre a questão nuclear em que esta envolvido, o que impede novas sanções, no mínimo, a fim de garantir que ele possa continuar a patrocinar seus aliados. O Irã também é passível de retaliar, colocando uma pressão adicional sobre a Arábia Saudita através do Bahrein, onde ele se absteve até agora de apoiar os manifestantes e insurgentes do Bahrein diretamente.
PREVISÃO
Nem os egípcios nem os sauditas são suscetíveis de ser capazes de derrotar o Houthi e seus aliados em combate e estabelecer o controle sobre o terreno montanhoso em que a familiaridade com o solo será uma grande vantagem que o Houthi terá. Como tal, esta intervenção carrega um alto risco de tornar-se um conflito aberto, enquanto o exército iemenita se fragmentou, e não há nenhuma liderança política capaz de restaurar a ordem no país sem apoio externo. Vítimas árabes egípcias ou sauditas significativas no Iêmen poderão resultar em agitação e manifestações em ambos os países, enquanto o fracasso total, que envolve a retirada sem retirar o Houthi do poder em Sanaa, aumentaria o risco para a estabilidade política em ambos os países. Além disso, os incidentes navais menores entre navios iranianos e sauditas ou egípcios ao largo da costa do Iêmen, incluindo perto de Bab-al-Mandeb, são cada vez mais prováveis, aumentando o risco de danos colaterais para a navegação em trânsito em todo o estreito e a interrupção de rotas estratégicas de carga e petróleo, o que terá um impacto sobre o mercado de petróleo.
O Irã provavelmente ira retaliar contra a intervenção saudita, procurando reter as tropas sauditas em outros lugares, aumentando os riscos de terrorismo no Bahrein, e, potencialmente, na província oriental da Arábia Saudita. A intervenção direta da Arábia Saudita, no Iêmen, será mais fácil para o Irã justificar o aumento de sua intervenção direta no Iraque e, potencialmente na Síria, que por sua vez poderá provocar a Turquia.
Existe um alto risco dos Houthis antecipar os sauditas, tentando aproveitar Marib e os campos de energia de lá. Há também um alto risco de incursões do Houthi em território saudita na Província de Jizan.
A estabilidade de toda a região esta em jogo, enquanto os aliados europeus e os EUA assistem a distancia o desenrolar da crise, ja estando comprometidos com a crise na Ucrânia e ainda mantendo operações no Afeganistão, Iraque e Líbia, assim nos resta continuar acompanhando o desenrolar dos fatos.
Fonte: GBN GeoPolítica Brasil com agencias de noticias
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