Esta decisão foi definitivamente confirmada há alguns dias pelo ministro da Defesa da Turquia, Ismet Yilmaz. Fornecimento do HQ-9 à Turquia vai ter efeitos de longo alcance para as posições da China no mercado mundial de armas. Com isso, as exportações chinesas saem mais para lá dos limites estreitos dos mercados de armas que já são tradicionais para Pequim, como os do Paquistão, Sudão e Bangladesh.
Esta é a primeira vez que a China entra no mercado de um país grande e relativamente desenvolvido, fornecendo um sistema de armas tão complexo e caro como é o sistema de mísseis antiaéreos de médio alcance. A Turquia tem estreitos laços de cooperação militar-técnica com o Ocidente. É um Estado influente, com um impacto particularmente importante nos países do mundo muçulmano. O contrato para fornecer uma dúzia de divisões do HQ-9, no valor estimado de 3,6 bilhões de dólares, vai alterar a atitude de políticos de muitos países para com as armas chinesas em geral.
O atual sucesso só é parcialmente explicado pelas realizações dos fabricantes chineses de sistemas de defesa antiaérea. Os fatores técnico-militares têm desempenhado no contrato em questão, bem como em muitas outras transações da mesma índole, um papel secundário em relação aos fatores políticos. Dificilmente se pode imaginar que as prestações do HQ-9 superem as prestações dos sistemas propostos pelos EUA, a Europa e a Rússia.
A Turquia é um novo líder regional, um país que procura aplicar uma política independente, mesmo apesar de continuar sendo membro da OTAN e ter assinado o Acordo de Associação com a União Europeia. A liderança turca segue políticas internas que provocam o desagrado do Ocidente.
Em meio à crise ucraniana, a Turquia não só deixou de se juntar às sanções contra a Rússia, mas também fechou um acordo estratégico com Moscou nos setores de gás natural e energia nuclear. Para a Turquia, a China é mais um parceiro estratégico. E um parceiro estratégico, provavelmente, não menos importante do que a Rússia. A cooperação com a China e a Rússia assegurará à Turquia uma sustentabilidade frente à crescente pressão do Ocidente.
A cooperação técnico-militar entre a Turquia e a China conta com uma longa história. A China tem-se mostrado altamente propensa a transferir à Turquia não só as armas prontas para operar, mas precisamente as tecnologias. A Turquia tem recebido licenças chinesas para fabricar sistemas pesados de lançadores múltiplos de foguetes, mísseis balísticos de curto alcance e alguns tipos de armamento para aeronaves.
Enquanto isso, a Rússia desde o princípio não estava pronta para pôr à disposição da Turquia grandes volumes de tecnologias relacionadas com os sistemas de defesa antiaérea, devido, obviamente, ao fato de a Turquia continuar sendo membro da OTAN. Por outro lado, os EUA e os países da UE, apesar das inúmeras promessas, não puderam, afinal das contas, satisfazer as demandas de seus parceiros turcos, concernentes à transferência de tecnologias.
Não há dúvida de que a decisão da Turquia para comprar o sistema chinês irá causar uma reação negativa dos EUA. Não obstante, a Turquia já foi capaz de decidir soberanamente sobre a compra de gás russo e, neste caso, também não deverá haver grandes problemas. O fornecimento do HQ-9 à Turquia torna-se uma importante lição da história: a China começa a transformar-se em uma superpotência moderna e um polo de atração para os países em desenvolvimento de porte menor. Isso acontece simplesmente por causa da envergadura da economia chinesa e a grandeza do Estado chinês que, além disso, está em condições de prosseguir uma política externa soberana e independente.
Fonte: Sputnik News
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