Poucos políticos caíram tão profundamente ou subiram tão rápido nas pesquisas de opinião quanto François Hollande. Desde os ataques em Paris, há cerca de um mês, o presidente francês mais impopular do pós-guerra tem visto sua popularidade aumentar – dobrando para 40%, o nível mais alto em dois anos.
De uma figura política tida como ridícula, considerada incapaz de ajudar uma adoentada França, Hollande tem emergido como estadista digno de reconhecimento, que levou uma nação a enfrentar conjuntamente o luto e ofereceu uma saída para o futuro.
"É algo único, nunca vimos isso antes", afirma o sociólogo Michel Wieviorka. "E ele não é o único que está subindo. O primeiro-ministro Manuel Valls está indo ainda mais alto."
Poucos analistas políticos, porém, acreditam que essa alta vá perdurar. "Todos lembram que, no passado, quando um político recebeu muito apoio, ele caiu muito rapidamente, bem para baixo", completa Wieviorka.
Um ano atrás, Hollande mostrava-se humilhado e derrotado, abalado por uma série de indicadores econômicos sombrios e por relatos de um suposto caso extraconjugal com a atriz francesa Julie Gayet.
Pouco tempo depois, ele terminou a relação com sua companheira de longa data Valérie Trieweiler, que acabou escrevendo um livro onde acusava o líder socialista de zombar dos pobres como "desdentados".
Hoje, no entanto, ele é mais lembrado marchando lado a lado com líderes mundiais nas manifestações em prol da liberdade de expressão em Paris e por anunciar uma série de medidas para conter o jihadismo na França.
"As medidas corretas foram tomadas de imediato, logo depois dos ataques", afirma a professora aposentada Maryse Pinheiro. Ela, uma socialista convicta, acredita que os ataques provaram que os críticos de Hollande estavam errados. "As pessoas agora veem que ele é realmente forte, que ele não é um molenga. Ele é um homem sério e pragmático, que sabe como se adaptar à situação. Acho que a popularidade de Monsieur Hollande vai continuar subindo."
No entanto, a história sugere o contrário. Assim como Hollande, o presidente George W. Bush viu sua popularidade disparar após o 11 de Setembro, chegando a 90% de aprovação.
"Quando acontece um evento maior que ameaça a nação, isso motiva a unidade nacional – o que beneficia aquele que personifica essa unidade", explica Étienne Schweisguth, do Instituto de Estudos Políticos de Paris. "Mas isso só perdura enquanto as pessoas acharem que a nação está ameaçada."
Bush manteve o clima de unidade nacional, lembra Schweisguth, ao declarar guerra ao Iraque, no início de 2003. Mesmo assim, seis anos mais tarde, ele deixou o cargo como um dos presidentes mais impopulares da história do país, com somente 22% de aprovação.
Na França, persiste o sentimento de uma nação ameaçada. Na terça-feira, um assaltante empunhando uma faca feriu levemente três soldados que patrulhavam um centro da comunidade judaica na cidade de Nice. Hollande também está tentando consolidar uma sensação de unidade nacional, dando atenção a populações judaicas e muçulmanas do país, que se sentiram vítimas dos ataques.
No mês passado, o governo anunciou uma série de medidas para erradicar algumas causas do terrorismo doméstico, que vão de lições sobre laicismo nas escolas, passando pelo aumento de capelães muçulmanos nas prisões, à criação de mais empregos em subúrbios desfavorecidos, vistos como um terreno fértil para jihadistas. Mais recentemente, ele despachou milhares de soldados e policiais franceses para patrulhar instituições religiosas e outros locais públicos sensíveis.
Observadores veem as recentes medidas de forma mista. "Psicologicamente, é bom enviar o Exército para vigiar escolas judaicas e outros lugares, porque isso tranquiliza os cidadãos", diz o especialista em terrorismo Mathieu Guidère, da Universidade de Toulouse. "Mas do ponto de vista da segurança, sabemos que os jihadistas têm como alvo os militares e os judeus, então esses dois alvos são colocados no mesmo lugar."
Por enquanto, os holofotes estão voltados para Hollande e seu governo. Um arquirrival, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, que retomou a presidência do partido de centro-direita UMP, não está chamando muita atenção.
Por sua vez, a líder da extrema direita, Marine Le Pen, da Frente Nacional, permaneceu na retaguarda depois dos ataques – o que, segundo analistas, pode vir a ser uma estratégia sábia.
Poucos acreditam que este período de distensão vai continuar. Todos os velhos problemas que assombram o governo de Hollande persistem, e a França terá eleições municipais em março. De fato, dados divulgados na semana passada mostram que o desemprego atingiu um novo recorde em dezembro último, e que a economia mal cresce.
"É claro, após esse ataque terrorista, houve muita comoção. Todos queriam estar juntos. Mas hoje sabemos que grandes debates estão por começar", diz Wieviorka. "E todos os problemas que criaram o terrorismo ainda estão aqui", completa o analista político.
Conversas nos arredores de Paris também sugerem um retorno à realidade. "Acho que Hollande fez o melhor – ao menos, ele não cometeu nenhum erro", afirma a empresária Nathalie Baylac, que normalmente apoia a ala de centro-direita. "Mas isso não vai mudar o meu voto. Eu realmente não tenho muita confiança em nenhum político."
Fonte: Deutsche Welle
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