segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Iranianos vão às ruas contra EUA diante de embaixada em Teerã

 
Ultraconservadores iranianos contrários à reaproximação com os EUA mobilizaram nesta segunda-feira dezenas de milhares de pessoas na frente da antiga embaixada americana em Teerã para celebrar o 34º aniversário da tomada de reféns que levou os dois países à ruptura.
A invasão da representação diplomática, na qual 52 reféns americanos permaneceram em cativeiro por 444 dias, é comemorada a cada 4 de novembro, mas esta celebração foi a maior dos últimos anos, segundo testemunhas.
 
O volume da manifestação é amplamente atribuído a esforços da milícia linha dura basij, influente em mesquitas e universidades, para engrossar o coro contra o presidente Hasan Rowhani, cujos acenos ao Ocidente são vistos como capitulação.
 
Formada em grande parte por estudantes transportados em ônibus fretados, a multidão que se espremeu na rua Taleghani, no centro de Teerã, entoava a todo instante o grito de "Morte à América", em sinal de rejeição a apelos do campo pró-Rowhani para que a conclamação seja abolida.

Protesto no Irã

Numerosos cartazes anti-EUA erguiam-se sobre a maré humana. Muitos ostentavam a pergunta: "Por que não abolir o grito de 'morte à América?'", com variações de respostas.
 
Algumas mensagens diziam: "porque os EUA impõem sanções" ou "porque os EUA fazem filmes anti-iranianos", referência a "Argo", cujo tema é o sequestro da embaixada americana.
 
"Todos os problemas que enfrentamos são causados pelos EUA. Continuaremos com o slogan enquanto eles mantiverem sua política de tirania e injustiça", esbravejou o estudante Mohamad E., 16.
 
Veterano da guerra contra o Iraque, na qual os EUA apoiaram o ditador Saddam Hussein na invasão do Irã, um senhor que se identificou apenas como Pirhayati, 64, disse que é "impossível ser amigo da América."
 
"A relação entre o Irã e os EUA é a mesma que a de uma ovelha com um lobo. Nunca poderão ser amigos", afirmou o veterano, cujo olho esquerdo, perdido na guerra, estava forrado com algodão.
 
O único politico a discursar foi o ex-negociador nuclear Saeed Jalili, que se candidatou à última eleição presidencial, em junho, com uma plataforma ultraconservadora contrária a concessões nas conversas atômicas.
 
"Pela lógica do [aiatolá Ruhollah] Khomeini [fundador da teocracia iraniana], 'Morte à América'pregava a morte da humilhação das nações [e] e da violência que permite ocupar países", disse Jalili, ombros cobertos com o lenço xadrez preto e branco dos milicianos basijis.
 
RACHA INTERNO
 
A demonstração de força dos ultraconservadores evidencia um racha interno acerca dos esforços diplomáticos do governo Rowhani, que oferece ao Ocidente importantes concessões nucleares em troca do fim das severas sanções econômicas ao Irã.
 
A primeira rodada de negociações com as potências na era Rowhani, iniciada no mês passado, retoma nesta quinta-feira, em Genebra, num ambiente elogiado por ambas as partes.
 
O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, reiterou no último domingo que apoia acenos do presidente.
Mas, embora seja detentor da palavra final no país, Khamenei está sob pressão de facções como a Guarda Revolucionária, que temem perder relevância ideológica e privilégios econômicos em caso de normalização com o Ocidente. A milícia basij, protagonista do protesto desta segunda-feira, é ligada à guarda.
 
Um analista ligado ao regime disse à Folha que as contradições refletem a dupla estratégia do Irã.
 
"Os EUA negociam e ao mesmo tempo dizem que todas as opções estão sobre a mesa, inclusive um ataque. O Irã decidiu fazer o mesmo. Negocia e grita 'Morte à América'".
 
Fonte: Folha
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