segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Investidor fica mais seletivo ao aplicar na América Latina

 
Você pode culpar o Brasil, a China ou até o Fed, o banco central dos Estados Unidos. Os mercados emergentes estão tendo um desempenho terrível este ano, liderados pela América Latina.
 
imageDepois de crescerem uma média anual de 6,4% ao longo da última década, os mercados emergentes devem crescer 4,5% este ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional. Após dez anos de retornos anuais de 15%, o índice MSCI de mercados emergentes já caiu 2% este ano. A América Latina caiu até agora 9%.
 
A China tem sido um grande catalizador do crescimento da América Latina, devorando as commodities produzidas na região. Mas a desaceleração da economia chinesa também reduziu o apetite do país por esses produtos.
 
Agora, a expectativa é de que a economia brasileira cresça apenas 2,4% este ano — bem menos que os 7,5% registrados há três anos. O país está importando mais do que exporta, gerando um déficit em conta corrente que deixou os investidores cautelosos e contribuiu para um declínio de 50% do real nos últimos dois anos.
 
Os consumidores brasileiros foram às compras impulsionados pelo crédito e agora estão lidando com os efeitos colaterais, à medida que as dívidas sobem junto com as taxas de juros. O governo tem tentado reformar a infraestrutura do País e reduzir o alto custo de fazer negócios no Brasil. Mas estas medidas, em vez de acalmar, assustaram os investidores, por causa de seu tom intervencionista. E como o país representa 58% do índice MSCI Latin America, seus infortúnios pesam sobre toda a região. Mais de US$ 8 bilhões já deixaram fundos mútuos especializados na região este ano, de acordo com a EPFR Global.
 
Pedimos a quatro gestores de fundos que se concentram nos mercados emergentes que analisassem a situação e nos contassem onde estão colocando seu dinheiro.
 
Adam Kutas vem trabalhando com a América Latina por quase dez anos e atualmente gerencia US$ 1,4 bilhão do fundo Fidelity Latin America (FLATX). O mexicano Luis Carrillo, gerente do fundo JPMorgan Latin America (JLTAX), de US$ 141 milhões, tende a escolher empresas menores com boas perspectivas de crescimento a longo prazo. Jim Carlen, ex-economista internacional do Departamento de Tesouro americano, gerencia os US$ 796 milhões do fundo Columbia Emerging Markets Bond (REBAX), que tem 30% de seus ativos aplicados na América Latina, um dos percentuais mais altos entre fundos semelhantes.
 
Lewis Kaufman, que administra o fundo Thornburg Developing World (THDAX), com uma carteira de US$ 1,3 bilhão, fica longe de empresas e países com grandes dívidas. Quatro dos ativos nos quais seu fundo mais investe estão na América Latina.
 
A seguir, trechos editados do debate:
 
Barron's: Este tem sido um ano duro para a América Latina. O que está acontecendo?
 
Carlen: Nos últimos 12 a 18 meses, tivemos dois problemas. A contínua injeção de uma enorme liquidez no mercado pelo Fed puxou para cima os preços dos ativos em mercados emergentes e tornou os investidores muito menos avessos ao risco.
 
Barron's: Em outras palavras, o dinheiro estava sendo despejado na América Latina, em parte, porque as pessoas não sabiam onde mais colocá-lo. Qual é o outro problema?
 
Carlen: A demanda por commodities não está mais estimulando a economia como antes, e o consumidor está gastando menos.
 
Kaufman: Estamos em uma inevitável marcha rumo a juros mais altos. Países com déficits em conta corrente que precisam ser financiados com fluxos de ações e títulos de dívida vão sofrer. Países que não precisam de investimento estrangeiro para equilibrar seus orçamentos são estruturalmente mais sólidos.
 
Barron's: O que isso significa do ponto de vista do investimento?
 
Kaufman: Para o primeiro grupo, gostaríamos de ser mais táticos. Se o Brasil cair acentuadamente, seria uma boa oportunidade para comprar. Países mais sólidos do ponto de vista estrutural, principalmente o México e os países da região andina — especialmente Peru e Colômbia —, têm contas mais saudáveis.
 
Barron's: Os latino-americanos estão em uma onda de consumo sustentado pelo crédito nos últimos dois anos. Qual é o estado da classe média na região?
 
Kaufman: O consumo sobe quando há mais trabalho, há aumento real nos salários, mais acesso ao crédito e uma taxa de poupança em queda. Em lugares com uma menor penetração do crédito, como nos países andinos, a perspectiva é muito melhor.
 
Kutas: Nós vemos tensão entre consumidores no Brasil. E o banco central do país enfrenta uma estagflação.
 
Barron's: Isso deprime a perspectiva [do mercado] de ações, não?
 
Carrillo: Quando o mercado brasileiro de ações caiu em 2011 e 2012, todo mundo pensou que o copo estava só pela metade e que era uma grande oportunidade para mergulhar nele. Mas a questão deveria ter sido: "Esse copo é do tamanho certo?". O Brasil precisa de um copo menor por causa das perspectivas menores de crescimento. Agora que as expectativas foram corrigidas, nos sentimos mais confortáveis de voltar ao mercado.
 
Barron's: Considerando-se os problemas que o sr. citou, existe uma boa razão para investir na América Latina?
 
Kaufman: Ainda é um mercado muito pouco desenvolvido. Por exemplo, no Peru, apenas 20% das lojas de varejo pertencem a grandes redes, o resto são pequenos negócios. Mesmo com a desaceleração das commodities, o Peru deve registrar um crescimento de 4,5% a 5%.
 
Barron's: E o Brasil?
 
Kaufman: Eu não preciso necessariamente estar otimista sobre o desenvolvimento econômico do Brasil para comprar ações brasileiras. O Brasil é facilmente o mercado de capitais mais profundo da América Latina.
 
Barron's: O que o sr. quer dizer com profundo?
 
Kaufman: Amplitude e liquidez. É possível encontrar oportunidades [de investimento] porque o mercado é muito mais desenvolvido.
 
Barron's: Investidores frequentemente tratam todos os mercados emergentes da mesma forma. Como eles deveriam olhar para a América Latina agora?
 
Carrillo: Durante a primeira década deste século, a China ajudou todos os mercados emergentes. Na segunda metade, os motores de crescimento deverão ser diferentes em cada lugar.
 
Barron's: Como o mercado está mudando?
 
Carrillo: Muito poucas empresas abriram o capital entre os anos 90 até 2005. Vimos provavelmente 300 ofertas públicas iniciais só nos últimos três anos.
 
Kutas: Veja as transações recentes. Empresas colombianas estão comprando ativos na América Central. Elas chegaram ao máximo de participação de mercado no seu próprio país e precisam de capital para se internacionalizar. Isso significa mais opções de investimento.
 
Carrillo: A S.A.C.I Falabella começou no Chile e domina aquele mercado. Ela foi para o Peru, Colômbia e agora Brasil. Lima tem cerca da metade do PIB per capita de Santiago, então, a perspectiva de crescimento do Peru é muito mais de longo prazo.
 
Barron's: E o Brasil. Qual e o futuro de sua economia e moeda?
 
Kaufman: O Brasil é o país com os maiores desequilíbrios. Tem havido muito crédito fácil por muito tempo. O governo criou empregos para produzir coisas que as pessoas não querem comprar, então o desemprego é bem baixo. As empresas brasileiras não têm insumos para produzir e precisam importá-los. Isso tudo produz déficit em conta corrente. Como a perspectiva de investimento não é boa, o investimento estrangeiro direto para financiá-lo não está lá.
 
Barron's: Mas vocês ainda têm ações brasileiras?
 
Kaufman: Digamos que o ciclo do crédito no Brasil já encerrou seu percurso e as coisas vão melhorar em 18 meses.
 
Carrillo: Já que pensamos no longo prazo, tentamos ficar longe de empresas ou setores influenciados pelos governos.
 
Barron's: E os bancos?
 
Kaufman: Os bancos brasileiros estão provavelmente subvalorizados se você tiver uma perspectiva de longo prazo. Há duas coisas que eu prefiro no setor bancário peruano, por exemplo: É muito consolidado, com os cinco maiores bancos controlando 85% do mercado.
 
Barron's: Ainda não tocamos no México. O mercado subiu 29% em 2012 enquanto o mercado brasileiro caiu 5%. O que está acontecendo?
 
Kutas: O México teve um desempenho ruim por quase 10 anos, até meados de 2011, enquanto o Brasil roubava o show. Em 2012, a presidente Dilma fez muita coisa que assustou o investidor estrangeiro e prejudicou as perspectivas [do mercado].
 
Barron's: Compare isso com o México.
 
Kutas: O presidente Enrique Peña Nieto prometeu muitas reformas, incluindo a reforma do setor de energia. Ele fez muitas promessas, rápido demais, e a economia entrou em recessão no segundo e terceiro trimestres deste ano. Tudo o que vejo são mais impostos para os ricos e uma politica energética enfraquecida.
 
Carlen: Eu não concordo. No México, nós caímos na armadilha de acreditar que eles fariam reformas fiscal, educacional e de energia, pá-puff. Obviamente, não é assim que acontece.
 
Carrillo: A expectativa é de que as reformas decolem como uma nave espacial. Não é assim. É apenas um avião.
 
Kaufman: É pior que isso. Empresas de produtos ao consumidor no México têm tido resultados substancialmente abaixo das previsões.
 
Barron's: Após subirem 42% em dez meses, as ações do México já caíram 17% desde seu pico em abril. Está na hora de voltar ao mercado?
 
Carrillo: Não, ele ainda não caiu o suficiente.
 
Barron's: Mas, no longo prazo, a perspectiva para o crescimento econômico do México é saudável?
 
Kutas: Trata-se de um cenário muito melhor do que o de 10 a 20 anos atrás. Se o grande problema agora é que as reformas não estão acontecendo rápido o suficiente, isso é muito melhor do que se elas simplesmente não estivessem acontecendo.
 
Barron's: O investidor na América Latina deveria reduzir suas expectativas daqui para frente?
 
Carlen: No mercado de títulos de dívida, é preciso escolher os países certos. Países com superávit em conta corrente ou com déficit completamente respaldados por investimento estrangeiro direto e crescimento e políticas macroeconômicas decentes são países bons para investir.
 
Barron's: Que países são esses?
 
Carlen: Peru e Colômbia. Nós vemos muito potencial na dívida soberana da Colômbia, que fez um trabalho melhor com as reformas estruturais em meio à queda das commodities.
 
Barron's: Então, qual é a conclusão?
 
Carrillo: O Brasil está puxando todo o resto para baixo, mas Chile, Peru e Colômbia estão tendo um bom crescimento.
 
Kutas: No curto prazo, o Brasil enfrenta problemas estruturais. Mas como um todo, trata-se de uma região com mais de meio bilhão de pessoas, então é engraçado quando eu ouço as pessoas dizerem que ela acabou.
 
Fonte: The Wall Street Journal
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