A ameaça dos mísseis balísticos chamou a atenção mundial
em 1991, quando o regime de Saddam Hussein
bombardeou a Arábia Saudita e Israel com mísseis balísticos Al- Hussein, com
base nos mísseis R-11/17 Scud soviéticos, em resposta a operação Desert Storm,
resposta á sua invasão ao vizinho Kuwait.
Durante as últimas décadas, assistimos um
aumento considerável no número de sistemas deste tipo e países a operá-los,
principalmente sendo usados como armas estratégicas, possuindo um desempenho
superior aos de gerações anteriores e apresentando a capacidade de ser armados
com armas de destruição em massa.
Tal tecnologia hoje não mais de dominio
restrito a grandes nações como á decadas passadas, hoje além dos EUA, Rússia e
China, temos a Índia, Paquistão, Coréia do Norte e Irã entre os principais
desenvolvedores destes sistemas de armas, com um considerável arsenal possuindo
alcance suficiente para aplicação estratégica.
A Coreia do Norte desenvolveu sua própria
linha de mísseis balísticos, o Taepo –Dong, que possui variantes dentro da
categoria IRBM (míssil balístico de alcance intermediário no inglês) e ICBM ( míssil balístico intercontinental). Sendo a Coréia do Norte o principal
colaborador no desenvolvimento da tecnologia aplicada pelo Irã em seus mísseis
balísticos próprios, com a criação da família de mísseis balísticos Shahab.
Os mísseis balísticos iranianos Shahab 3 e
4 estão enquadrados na categoria de IRBM’s, tendo muita similaridade com os
IRBM’s norte-coreanos do tipo Nodong 1, enquanto a versão Shahab 5 é
considerado por analistas um míssil ICBM, provavelmente derivado da colaboração
norte-coreana, apresentando muitas similaridades com o Taepo -Dong 2.
Na Índia desenvolve sua própria família de
IRBM’s e ICBM’s, o AGNI IV esta inserido na categoria de IRBM’s, enquanto a
versão AGNI V esta classificado entre os ICBM’s.
Todos países citados acima, possuem
programas de IRBM’s e ICBM’s em andamento, criando um desafio para as defesas
em geral, pois a cada nova versão, novas capacidades são acrescentadas,
transpondo as atuais defesas antimísseis. O resultado da proliferação de
mísseis balísticos IRBM’s e ICBM’s no
mundo tem sido, ao longo das duas últimas décadas, o crescente desenvolvimento
e implantação de investimentos em sistemas ABM ( Anti Ballistic Missile )
recursos em desenvolvimento por diversos países, mais notoriamente na Rússia.
Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e
a União Soviética realizaram grandes investimentos no desenvolvimento de
sistemas ABM, sendo hoje a Rússia
herdeira dos sistemas soviéticos continuando a operar uma capacidade
significativa desde os anos 1970 e desenvolvendo sistemas avançados . Ambos os
antagonistas da Guerra Fria implantaram sistemas de emprego dual ABM / SAM ( Sistemas de mísseis antiáereos /
antimísseis balísticos ), possuindo capacidades otimizadas para combater não só
as ameaças dos mísseis balísticos, os sistemas S- 300 da Rússia e Patriot dos
Estados Unido, este último amplamente utilizado em 1991 contra os IRBMs
iraquianos . Uma importante característica em ambos os sistemas, são o
desenvolvimento da capacidade de acompanhar e destruir aeronaves de elevado
desempenho , bem como projéteis balísticos.
Atualmente temos observado o
desenvolvimento em Israel e diversas nações de uma série de sistemas ABMs e um aumento nas capacidades ABM’s do
pós-Guerra Fria, tanto pelos EUA como pela Rússia.
A Rússia tem investido pesado no
desenvolvimento não só de novos ICBM’S e IRBM’s, como os mísseis “Yars” e
“Rubehz”, mas tem desenvolvido principalmente seus sistemas, como o S- 300PMU2,
S-400 e o desenvolvimento do novo sistema S-500. A maioria desses sistemas
possui capacidade de interceptar mísseis balísticos ainda na fase de reentrada
da atmosfera. Sendo importante ressaltar que tais sistemas possuem grande
mobilidade, sendo capazes de operar em cenários adversos.
Bem oportuno se encararmos o atual cenário
geo-estratégico que é imposto á Rússia, com a China sendo detentora de um
grande estoque de IRBMs, sendo os mísseis DF- 21C sua espinha dorsal, o que
confere ao governo chinês uma cobertura significativa do território russo e representam
um risco estratégico real de longo prazo para a Rússia, pesando muito nas
relações diplomáicas entre China e Rússia.
Em certo ponto, a implantação de um grande
número de IRBMs da China lembra o jogo imposto pela OTAN durante o período da
Guerra Fria, onde ambos possuiam sistema de IRBM’s dispostos em áreas
estratégicas, criando um cenário de equilibrio e tensão entre os dois eixos que
dominavam o cenário político bipolar existente naquele período sombrio da
humanidade. Essa capacidade proporciona um efeito estratégico significativo sem
se apoiar no poder estratégico dos ICBM’s.
O problema estratégico enfrentado pela
Rússia não se restringe ao enclave chinês, mas sua posição geográfica coloca a
Rússia ao alcance de IRBMs e ICBMs lançados do Irã e da Coreia do Norte. Não
que isso ofereça uma ameaça real e imediata á Rússia, pois esta possui boa
relação tanto com o Irã, como a Coreia do Norte, e em relação a China possui um
grande histórico de acordos políticos e comerciais que dão lastro a boa relação
de estabilidade entre estas nações. Porém, em um cenário hipotético de um
ataque contra a Rússia lançado por uma dessas três nações, é de extrema
importancia estratégica o dominio da tecnologia e sistemas ABM / SAM de última geração capazes de
contrapor tais ameaças.
Tal fato exposto acima, dá a real dimensão
das necessidades russas de manter um constante desenvolvimento de seus sistemas
ICBM’s, IRBM’s e principalmente a concepção de uma variada gama de sistemas
ABM/SAM de notável capacidade.
Neste momento, a Rússia iniciou a
substituição progressiva de toda a sua rede de sistemas SAM oriundos da era
soviética, buscando atualizar suas capacidades de defesa para as ameaças
impostas pelos avanços tecnológicos do campo de batalha moderno. Tal processo
esta previsto para ser completado na próxima década, fornecendo uma capacidade
robusta para defender sua infraestrutura e pontos estratégicos das ameaças
representadas pelos modernos aviões de combate, mísseis de cruzeiro e armas
guiadas de precisão.
Tais desenvolvimentos também leva a Rússia
ao título de principal fornecedor de sistemas ABM/SAM’s no mundo. Fornecendo
seus complexos de defesa a diversas nações ao redor do mundo, possuindo
sisntemas em camadas que oferecem proteção em diversos níveis, atendendo aos
mais variados orçamentos de defesa.
Os sistemas ABM’s da Rússia tem
representado um salto em relação ao sistemas similares em outras nações, sendo
alvo de “clonagem” por parte de outras nações, como podemos exemplificar com o
sistema HQ-9 desenvolvido pela China, que recentemente chamou a atenção da Turquia.
Dentre os novos desenvolvimentos no campo de ABM’s russos, podemos citar o
Almaz- Antey S-500 Triumf, o sistema será
similar ao SAM / ABM S- 400, mas será otimizado
, principalmente para a função de ABM . O S- 500 deverá ser implantado em
paralelo com o sistema de S- 400, que se destina principalmente a substituir os
atuais S- 300 em suas diversas variantes .
Olhando para
outras áreas do globo, vemos na América do Sul a busca por novos sistemas SAM,
onde não se contempla a ameaça direta representada por IRBM’s e ICBM’s, devido a não proliferação destes tipos de armamento neste continente, mas países
como a Venezuela investiram em sistemas de uso dual ABM/SAM, com a aquisição de
um sistema S-300 junto a Rússia, enquanto isso o Brasil estuda a aquisição de um sistema
similar após a aquisição dos sistemas Gepard e Pantsir S1 para dotar suas forças armadas de capacidade de defesa antiáerea moderna.
Por Angelo Nicolaci - GBN GeoPolítica Brasil
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