quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Uma resposta a ameaça dos mísseis balísticos.

A ameaça dos mísseis balísticos chamou a atenção mundial em 1991, quando o regime de Saddam Hussein bombardeou a Arábia Saudita e Israel com mísseis balísticos Al- Hussein, com base nos mísseis R-11/17 Scud soviéticos, em resposta a operação Desert Storm, resposta á sua invasão ao vizinho Kuwait.
Durante as últimas décadas, assistimos um aumento considerável no número de sistemas deste tipo e países a operá-los, principalmente sendo usados como armas estratégicas, possuindo um desempenho superior aos de gerações anteriores e apresentando a capacidade de ser armados com armas de destruição em massa.
Tal tecnologia hoje não mais de dominio restrito a grandes nações como á decadas passadas, hoje além dos EUA, Rússia e China, temos a Índia, Paquistão, Coréia do Norte e Irã entre os principais desenvolvedores destes sistemas de armas, com um considerável arsenal possuindo alcance suficiente para aplicação estratégica.
A Coreia do Norte desenvolveu sua própria linha de mísseis balísticos, o Taepo –Dong, que possui variantes dentro da categoria IRBM (míssil balístico de alcance intermediário no inglês)  e ICBM ( míssil balístico intercontinental).  Sendo a Coréia do Norte o principal colaborador no desenvolvimento da tecnologia aplicada pelo Irã em seus mísseis balísticos próprios, com a criação da família de mísseis balísticos Shahab.
Os mísseis balísticos iranianos Shahab 3 e 4 estão enquadrados na categoria de IRBM’s, tendo muita similaridade com os IRBM’s norte-coreanos do tipo Nodong 1, enquanto a versão Shahab 5 é considerado por analistas um míssil ICBM, provavelmente derivado da colaboração norte-coreana, apresentando muitas similaridades com o Taepo -Dong 2.
Na Índia desenvolve sua própria família de IRBM’s e ICBM’s, o AGNI IV esta inserido na categoria de IRBM’s, enquanto a versão AGNI V esta classificado entre os ICBM’s.
Todos países citados acima, possuem programas de IRBM’s e ICBM’s em andamento, criando um desafio para as defesas em geral, pois a cada nova versão, novas capacidades são acrescentadas, transpondo as atuais defesas antimísseis. O resultado da proliferação de mísseis balísticos IRBM’s e ICBM’s  no mundo tem sido, ao longo das duas últimas décadas, o crescente desenvolvimento e implantação de investimentos em sistemas ABM ( Anti Ballistic Missile ) recursos em desenvolvimento por diversos países, mais notoriamente na Rússia.
Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética realizaram grandes investimentos no desenvolvimento de sistemas ABM,  sendo hoje a Rússia herdeira dos sistemas soviéticos continuando a operar uma capacidade significativa desde os anos 1970 e desenvolvendo sistemas avançados . Ambos os antagonistas da Guerra Fria implantaram sistemas de emprego dual  ABM / SAM ( Sistemas de mísseis antiáereos / antimísseis balísticos ), possuindo capacidades otimizadas para combater não só as ameaças dos mísseis balísticos, os sistemas S- 300 da Rússia e Patriot dos Estados Unido, este último amplamente utilizado em 1991 contra os IRBMs iraquianos . Uma importante característica em ambos os sistemas, são o desenvolvimento da capacidade de acompanhar e destruir aeronaves de elevado desempenho , bem como projéteis balísticos.
Atualmente temos observado o desenvolvimento em Israel e diversas nações de uma série de sistemas ABMs  e um aumento nas capacidades ABM’s do pós-Guerra Fria, tanto pelos EUA como pela Rússia.
A Rússia tem investido pesado no desenvolvimento não só de novos ICBM’S e IRBM’s, como os mísseis “Yars” e “Rubehz”, mas tem desenvolvido principalmente seus sistemas, como o S- 300PMU2, S-400 e o desenvolvimento do novo sistema S-500. A maioria desses sistemas possui capacidade de interceptar mísseis balísticos ainda na fase de reentrada da atmosfera. Sendo importante ressaltar que tais sistemas possuem grande mobilidade, sendo capazes de operar em cenários adversos.
Bem oportuno se encararmos o atual cenário geo-estratégico que é imposto á Rússia, com a China sendo detentora de um grande estoque de IRBMs, sendo os mísseis DF- 21C sua espinha dorsal, o que confere ao governo chinês uma cobertura significativa do território russo e representam um risco estratégico real de longo prazo para a Rússia, pesando muito nas relações diplomáicas entre China e Rússia.
Em certo ponto, a implantação de um grande número de IRBMs da China lembra o jogo imposto pela OTAN durante o período da Guerra Fria, onde ambos possuiam sistema de IRBM’s dispostos em áreas estratégicas, criando um cenário de equilibrio e tensão entre os dois eixos que dominavam o cenário político bipolar existente naquele período sombrio da humanidade. Essa capacidade proporciona um efeito estratégico significativo sem se apoiar no poder estratégico dos ICBM’s.
O problema estratégico enfrentado pela Rússia não se restringe ao enclave chinês, mas sua posição geográfica coloca a Rússia ao alcance de IRBMs e ICBMs lançados do Irã e da Coreia do Norte. Não que isso ofereça uma ameaça real e imediata á Rússia, pois esta possui boa relação tanto com o Irã, como a Coreia do Norte, e em relação a China possui um grande histórico de acordos políticos e comerciais que dão lastro a boa relação de estabilidade entre estas nações. Porém, em um cenário hipotético de um ataque contra a Rússia lançado por uma dessas três nações, é de extrema importancia estratégica o dominio da tecnologia e sistemas  ABM / SAM de última geração capazes de contrapor tais ameaças.
Tal fato exposto acima, dá a real dimensão das necessidades russas de manter um constante desenvolvimento de seus sistemas ICBM’s, IRBM’s e principalmente a concepção de uma variada gama de sistemas ABM/SAM de notável capacidade.
Neste momento, a Rússia iniciou a substituição progressiva de toda a sua rede de sistemas SAM oriundos da era soviética, buscando atualizar suas capacidades de defesa para as ameaças impostas pelos avanços tecnológicos do campo de batalha moderno. Tal processo esta previsto para ser completado na próxima década, fornecendo uma capacidade robusta para defender sua infraestrutura e pontos estratégicos das ameaças representadas pelos modernos aviões de combate, mísseis de cruzeiro e armas guiadas de precisão.
Tais desenvolvimentos também leva a Rússia ao título de principal fornecedor de sistemas ABM/SAM’s no mundo. Fornecendo seus complexos de defesa a diversas nações ao redor do mundo, possuindo sisntemas em camadas que oferecem proteção em diversos níveis, atendendo aos mais variados orçamentos de defesa.
Os sistemas ABM’s da Rússia tem representado um salto em relação ao sistemas similares em outras nações, sendo alvo de “clonagem” por parte de outras nações, como podemos exemplificar com o sistema HQ-9 desenvolvido pela China, que recentemente chamou a atenção da Turquia.
Dentre os novos desenvolvimentos no campo de ABM’s russos, podemos citar o
Almaz- Antey S-500 Triumf,  o sistema será similar ao SAM / ABM  S- 400, mas será otimizado , principalmente para a função de ABM . O S- 500 deverá ser implantado em paralelo com o sistema de S- 400, que se destina principalmente a substituir os atuais S- 300 em suas diversas variantes .

Olhando para outras áreas do globo, vemos na América do Sul a busca por novos sistemas SAM, onde não se contempla a ameaça direta representada por IRBM’s e ICBM’s, devido a não proliferação destes tipos de armamento neste continente, mas países como a Venezuela investiram em sistemas de uso dual ABM/SAM, com a aquisição de um sistema S-300 junto a Rússia, enquanto isso o Brasil estuda a aquisição de um sistema similar após a aquisição dos sistemas Gepard e Pantsir S1 para dotar suas forças armadas de capacidade de defesa antiáerea moderna.
Por Angelo Nicolaci - GBN GeoPolítica Brasil
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