Ele é um dos homens mais procurados pelos Estados Unidos. O
governo americano, que o colocou em sua lista de terroristas, oferece uma
recompensa de US$ 7 milhões (R$ 15,7 milhões) por sua captura.
Mas encontrá-lo não será nada fácil. Embora raramente seja visto em público,
suas mensagens são amplamente divulgadas na Internet, e aqueles que o conhecem o
descrevem como um sujeito cruel e brutal.
Seu nome é Ahmed Abdi Aw-Mohamed Godane, um dos fundadores da Karakat Shabaab
al-Mujahedin, ou Al-Shabab, o grupo que nos últimos dias fez manchetes pelo
mundo após o ataque no Shopping Westgate, no Quênia.
Nascido em Hargeisa, na região separatista da Somalilândia, no norte da
Somália, acredita-se que Godane tenha entre 30 e 40 anos.
Culto e implacável
"Ele é conhecido como culto e estudioso. Muitas vezes recitava poemas para
ilustrar seus discursos. Cita versos do Corão, e artigos acadêmicos obscuros",
diz Yonis Nur, jornalista somali da BBC África.
"Ele fala bem tanto em árabe como em somali e, geralmente, grava e posta suas
mensagens na Internet".
Mas Godane, também conhecido como Abu Zubeyr ou Moktar Ali Zubair, foi capaz
de eliminar impiedosamente muitos de seus rivais pelo poder no Al-Shabab.
"Estudou no Paquistão no anos 1990, e lá se envolveu com círculos do jihad.
Em seguida viajou para o Afeganistão, onde foi treinado pela Al Qaeda", disse
Nur.
"Quando voltou para Somalilândia, ele organizou diversos grupos religiosos
fundamentalistas locais e se juntou ao Al-Shabab".
Mas em 2008, quando o então líder supremo da organização, Moalim Aden Hashi
Ayro, morreu em um ataque aéreo liderado pelos Estados Unidos, Godane começou
uma luta implacável pelo poder do Al- Shabab.
"Enquanto seus rivais dentro do grupo, como Sehikh Hassan Dahir Aweys,
buscavam uma abordagem mais local dentro da Somália, o objetivo de Godane sempre
foi marcar presença internacional", Nur acrescentou.
"Assim, em 2010 Godane anunciou sua parceria com a Al Qaeda."
Em julho passado, Hassan Dahir Aweys se entregou ao governo da Somália, e
muitos de seus companheiros estão mortos.
Segundo Nur, essa rendição foi resultado de um "golpe" orquestrado por
Godane, o que para muitos foi o triunfo da "linha dura" dentro Al-Shabab.
Linha dura
"Com apenas um golpe, Godane conseguiu realinhar a dinâmica da liderança
radical do grupo e consolidou ainda mais seu poder ao se livrar de seus
principais detratores", disse o analista somali Abukar Hassan, um especialista
da Royal African Society na Grã-Bretanha.
Entre os detratores que morreram durante o "golpe" estavam o co-fundador do
Al-Shabab, Ibrahim al Afghani, um aliado próximo de Osama bin Laden, e um outro
líder, Burhan Maalim.
Godane saiu vitorioso desta luta pelo poder e, nos últimos meses, tem
realizado uma série de ataques dentro e fora da Somália, sempre intensificando
sua campanha militar para se estabelecer como uma força mais radical, violenta e
com uma agenda mais ampla e internacional.
"A mensagem enviada por Godane após o ataque em Nairobi, o mais mortal
realizado pelo grupo até hoje, foi a de que esta foi uma retaliação à presença
das força armadas quenianas na Somália", disse Nur.
"Mas, na verdade, a intenção do ataque era consolidar sua posição como líder
da organização, e sua nova agenda globalizada", acrescenta.
Na Somália, no entanto, o grupo é isolado.
Nas áreas controladas pelo Al-Shabab na Somália, Godane impôs a estrita lei
islâmica Sharia, que foi posta em prática com execuções públicas, amputações e
apedrejamentos.
"Isso gerou falta de apoio, e um isolamento do grupo na Somália. Mas eles
continuam com a busca por jovens para se juntar à sua causa", diz Nur.
Estratégia globalizada
Apesar das críticas que recebe dentro do Al-Shabab, Godane continua a
eliminar seus oponentes.
A vítima mais recente, acredita-se, foi Omar Shakif Hammami, um conhecido dos
Estados Unidos que foi chefe de propaganda do grupo.
Em entrevista ao Voz da América este mês, Hammami classificou Godane como
"controlador e obsessivo", e em seguida tuitou que o líder do Al Shabab "havia
enlouquecido".
No dia 12 de setembro foi noticiado que Hammami havia sido morto em uma
emboscada por militantes do Al-Shabab.
Os especialistas agora preveem que Godane continuará com sua estratégia
jihadista "globalizada" contra alvos tanto na Somália como na região. E
continuará a trabalhar em estreita colaboração com a Al Qaeda.
"Por mais de três décadas, (o Al-Shabab) sob o controle de Dahir Aweys
definiu a narrativa do islâmismo político, que ganhou tanto amigos como inimigos
dentro dos movimentos islâmicos", disse à BBC Abdi Aynte, analista e
diretor-executivo do Instituto do Patrimônio de Estudos Políticos, com sede em
Mogadíscio, na Somália.
"Aweys (classificado como terrorista pelos Estados Unidos em 2001), apoiava,
principalmente, a ideologia nacionalista na Somália."
"Ele argumentava que o islâmismo era a única resposta para a Somália e o
único fator unificador contra o tribalismo e as facções."
Mas a geração mais jovem que está sendo lidera por Godane, acrescenta o
especialista, "simplesmente está presa ao culto ao martírio, alimentado pela Al
Qaeda."
"Eles não se importam com a opinião pública. O que eles querem é estabelecer
um Estado islâmico através da conquista militar. E o que eles desejam, ao invés
de poder, é o martírio", diz Aynte.
E como diz Yonis Nur, "enquanto o caos reinar na Somália, as coisas não vão
mudar no país."
"E o Ocidente, que até agora ignorou o que acontece na Somália, deve perceber
que o problema, como demonstrou o ataque em Nairobi, não é algo local. Tornou-se
um problema global."
Fonte: BBC Brasil
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