O plenário do Conselho de Segurança das Nações Unidas - com cinco membros
permanentes e dez rotativos - aprovou nesta sexta-feira, 27, por unanimidade a
resolução que obrigará a Síria de Bashar Assad a desfazer-se, sob supervisão
internacional, de seu arsenal químico. Como queriam os russos, o texto acertado
não prevê o recurso imediato à força caso Damasco se recuse a colaborar com os
inspetores.
Antes da votação em Nova York, o presidente Barack Obama afirmara na Casa
Branca a jornalistas que o acordo sobre as armas químicas "tem o potencial de
ser uma imensa vitória da comunidade internacional". Em seguida, ponderou:
"Obviamente, há ainda muito trabalho a ser feito".
Falando ao lado do primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, Obama defendeu
que a resolução da ONU pode deter o uso de armas químicas na Síria no futuro e
levará a resultados mais satisfatórios do que uma eventual ação militar contra
Damasco.
O presidente americano reconheceu que "há preocupações legítimas" sobre se a
Síria cumprirá sua palavra e sobre detalhes técnicos do trabalho da Organização
para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) para retirar e eliminar os produtos.
"No entanto, (a resolução) representa um potencial passo adiante", afirmou
Obama.
A base da resolução é o pacto articulado no início do mês de setembro por
americanos e russos em Genebra, o qual suspendeu, no último momento, uma
ofensiva militar dos EUA contra alvos do regime Assad. O governo de Barack Obama
queria "punir" a Síria pelo ataque químico ocorrido em 21 de agosto na periferia
de Damasco.
Americanos, europeus, países árabes e ONGs afirmam que tropas de Assad foram
as responsáveis pelo uso do arsenal proibido. O regime sírio e a Rússia culpam
os rebeldes, que supostamente usaram armas químicas para incriminar as forças do
governo.
O acordo desta sexta-feira, 27, representa um inédito avanço: em mais de dois
anos e meio de guerra civil na Síria, com 120 mil mortos e milhões de refugiados
e deslocados, o Conselho de Segurança foi incapaz de chegar a um consenso sobre
uma resolução. Por três vezes a diplomacia russa chegou a usar seu poder de veto
para frear textos que condenavam abertamente violações cometidas pelo regime de
Assad.
Na sexta-feira, o governo da França defendeu que o entendimento sobre as
armas químicas síria deve abrir caminho para debates que levem a uma solução
política.
"Espero que sejamos capazes de marcar uma data para que finalmente a
conferência de 'Genebra 2' (reunindo as principais facções sírias, potências e
países da região) ocorra. A única solução é política. Avançamos na questão das
armas químicas, mas pessoas continuam a se matar no terreno", afirmou o ministro
das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius.
A Rússia também exortou a comunidade internacional a trabalhar
"energicamente" por uma conferência de paz sobre a crise na Síria. "Pessoas
continuam a morrer e civis sírios sofrem a cada dia", afirmou o ministro das
Relações Exteriores do Kremlin, Sergei Lavrov, discursando na Assembleia-Geral
das Nações Unidas. "A única possibilidade hoje para colocar um fim a essa
instabilidade é trocar o atual impasse por um acerto político na crise
síria."
Os russos conseguiram uma importante vitória ao retirar do texto uma
autorização "automática" para o uso da força caso Assad não coopere, como
queriam americanos e europeus. "Nenhuma concessão foi feita", disse o
vice-chanceler Sergei Ryabkov.
Fonte: Reuters
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