Jovens mascarados e vestidos de preto andam em grupo no meio de
protestos. Portam bandeiras negras ou símbolos anarquistas, quebram vidraças,
entram em confronto com a polícia e embora não possuam líderança clara, têm nome
definido: Black Blocs.
Essa poderia ser uma cena vista no Brasil, no Egito, na Turquia, na Grécia,
nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar do mundo.
Para Francis Dupuis-Déri, professor de ciência política da UQAM (Université
du Québec à Montréal) e autor do livro "Les Black Blocs", a internet e a
crescente insatisfação com os governos e a economia impulsionam o movimento.
"Os Black Blocs são fáceis de identificar, eles usam roupas específicas. É
algo simples de ser reproduzido. Alguém pode vê-los na TV e imitá-los. Acredito
que a internet também tenha um papel crucial", disse.
De acordo com Dupuis-Déri, que pesquisa os grupos há dez anos, a internet se
tornou o seu principal canal de comunicação porque permite que os grupos
interajam rapidamente e organizem protestos.
"Os Black Blocs não são uma organização permanente. Pelo caráter anarquista
desses grupos, eles não têm um líder ou um representante para falar com o
governo, por exemplo. Antes e depois de uma manifestação, eles não existem",
explicou.
No Brasil, como em outras partes, os Black Blocs usam o Facebook para postar
vídeos, fotos e organizar atos. Foi por meio do perfil Black Bloc Egypt que
jovens egípcios convocaram ataques ao palácio presencial e o fechamento de
pontes no Cairo.
Identificando-se apenas como Morro, um dos administradores da página egípcia
contou à BBC Brasil que o grupo já se reunia há dois anos para protestar.
"Primeiro, pensamos em formar um movimento hooligan, mas depois vimos vídeos e
Black Blocs na Grécia e nos inspiramos", disse.
As táticas violentas dos Black Blocs no Egito foram duramente reprimidas
pelas forças de segurança. Ao menos três membros do grupo foram mortos e dezenas
estão presos. Atualmente, o grupo tem presença tímida nas manifestações.
Assim como no Brasil, onde Black Blocs têm depredado agências bancárias e
concessionárias de carro, no Egito o grupo provocou a desconfiança do público e
de outros manifestantes.
"A maior parte das pessoas no Egito tem medo deles, acha que são vândalos ou
bandidos", afirmou a ativista egípcia Nihal Zaghloul.
Tática
Surgida nos anos 1980 na Alemanha no âmbito dos movimentos de contra-cultura
e em defesa dos squats, a tática de protesto Black Bloc originalmente pode ou
não usar a violência e tem alvos específicos, como agências bancárias.
Da década de 1990 em diante, a técnica Black Bloc se espalhou pelas cenas
anarquistas, punk, anti-facistas e ecológicas. E ganhou força em mobilizações
contra o neoliberalismo e o capitalismo, como na reunião da Organização Mundial
do Comércio (OMC) em 1999, em Seattle, em 2001, em Roma, ou durante a reunião do
G20 em Toronto, em 2010.
Segundo Dupuis-Déri, os Black Blocs são em geral indivíduos com ativa
participação política no dia a dia.
Os Black Blocs que participaram dos protestos de 2012 no Quèbéc, Canadá, se
disseram "estudantes, trabalhadores, desempregados e revoltados", no "Manifeste
du Carré Noir", que fizeram circular na internet.
Recentemente, grupos Black Blocs atuaram em diferentes protestos contra os
governos na Grécia, na Turquia, no Chile e no México.
"Os Black Blocs são sintomáticos de uma crescente insatisfação mundial com os
governos e o sistema econômico. A violência em um movimento social sempre tende
a assustar e afastar as pessoas, isso é senso comum. Mas há casos em que a
violência chamou a atenção da mídia, levantou um debate público, denunciou
repressões", explicou o cientista político.
Violência
Movimentos como os protestos de Seatlle fizeram conhecida a face violenta
desses grupos, mas a violência "não é necessariamente usada pelos Black Blocs",
diz o professor de ciência política canadense.
"Os atos violentos são dirigidos a alvos determinados como as forças de
segurança e os bancos. Casos de furtos ou roubos não são comuns".
O acadêmico lembra também que a violência é uma constante histórica em lutas
de movimentos sociais e revoluções.
"Mesmo o movimento feminista pelo direito ao voto no início do século 20 viu
momentos de violência", diz Dupuis-Déri.
Em 1911, centenas de mulheres saíram às ruas de Londres em protesto e
quebraram janelas e vitrines no centro comercial da cidade. A então líder do
movimento feminista Emmeline Pankhurst disse que "o argumento da vidraça
quebrada era o argumento mais valorizado na política moderna".
Depois da prisão em massa das ativistas ela ainda alegou que "elas tinham
tentado tudo – protestos e reuniões — mas nada funcionara".
Fonte: BBC Brasil
0 comentários:
Postar um comentário