As chances de que o presidente da Síria, Bashar al-Assad,
ordene bombardeios contra Israel em represália a um eventual ataque americano
são "muito baixas", avaliam analistas israelenses. Mas há uma minoria que
acredita que o "improvável" possa acontecer.
Entre os analistas políticos e militares em Israel é praticamente unânime a
opinião de que se houver um ataque dos Estados Unidos contra a Síria, Damasco
não responderá com mísseis contra Israel, o principal aliado americano no
Oriente Médio.
Para Schlomi Eldar, colunista do site Al Monitor que há 20 anos cobre a
região para canais de TV israelenses e é autor de livros e documentários sobre o
Oriente Médio, o regime de Assad não teria força militar para lançar uma
ofensiva contra Israel após dois anos de guerra civil.
"A Síria ameaça lançar mísseis contra Tel Aviv se os Estados Unidos a
atacarem, como um mosquito que ameaça atacar um elefante. Assad pensa que
ninguém percebeu que seu Exército está destroçado (...), que milhares de
soldados desertaram e que necessita da ajuda do Hezbollah para retomar a cidade
estratégica de Kussair", afirma Eldar em artigo no Al Monitor.
Status quo, Al Qaeda e poderio bélico
Para o jornalista e escritor Uri Avnery, existe um "acordo tácito" entre
Assad, o presidente americano, Barack Obama, e o premiê de Israel, Binyamin
Netanyahu.
"Todos têm interesse em manter o status quo, ou seja, todos querem manter
Assad no poder na Síria", disse em entrevista à BBC Brasil.
Avnery é fundador do movimento de paz Gush Shalom e ex-membro do Knesset, o
Parlamento israelense, para partidos de esquerda.
"Tanto para os Estados Unidos como para Israel a alternativa a Assad seria
pior. Os islamistas radicais da linha da Al Qaeda tomariam o poder", diz
Avnery.
"Nessas circunstâncias, Assad não tem interesse em atacar Israel e ampliar o
confronto", complementou.
O historiador Eyal Zisser, da Universidade de Tel Aviv, reforça a teoria de
que Assad não tem meios para atacar Israel nesta altura da guerra civil que
trava contra os rebeldes em seu próprio território.
"As capacidades do Exército sírio estão bastante desgastadas, há escassez de
munição, não é a Siria de três anos atrás. A Força Aérea da Síria também está em
situação difícil, há falta de peças de reposição e de combustível e a manutenção
é precária", disse Zisser em entrevista ao site de noticias israelense Ynet.
Hezbollah e Irã
No entanto, para Yehuda Balanga, especialista em Síria da Universidade de Bar
Ilan, se Assad se sentir "encurralado", ele será, sim, capaz de atacar
Israel.
Balanga pertence a uma minoria entre os analistas que acha que a
probabilidade de que o presidente sírio decida lançar mísseis contra Tel Aviv é
significativa.
"Se Assad sentir que está com as costas contra a parede ele poderá mobilizar
seus aliados - o Hezbollah e o Irã - para lançar uma represália".
Para Balanga, Assad não abrirá mão do poder na Síria "em hipótese
alguma".
"Se perder o poder, os sunitas poderão massacrar os alauítas", afirmou.
Apreensão e incertezas
Nas últimas duas semanas, desde que um ataque americano à Síria vem se
configurando como iminente, a mídia israelense vem debatendo incessantemente a
possibilidade de que haja um ataque ao país.
Embora a maioria das previsões descarte esse cenário, o nervosismo do público
vem aumentando e um dos sinais dessa tensão é a corrida de milhares de pessoas
aos centros de distribuição de máscaras anti-gás.
Caso o cenário considerado "improvável" acabe se concretizando e as cidades
israelenses se transformarem em alvos para mísseis da Síria ou de seus aliados,
muitos dos civis em Israel estarão desprotegidos.
"Se mísseis de Bashar al-Assad caírem na retaguarda, não deveremos nos
surpreender se houver caos, incerteza e falhas das autoridades que supostamente
devem proteger os civis", afirma o analista militar Reuven Pedhatzur em artigo
no jornal israelense Haaretz.
Pedhatzur aponta a "falta de coordenação" entre vários órgãos do governo que
devem assumir a responsabilidade em casos de emergência e o fato de que faltam
máscaras de gás para 40% da população.
"Se Assad concretizar suas ameaças, o que aconteceu há 20 anos, quando
mísseis Al Hussein caíram em Tel Aviv, se repetirá", adverte Pedhatzur, em
referência à primeira Guerra do Golfo, em 1991, quando as autoridades
israelenses se mostraram despreparadas para proteger os civis dos mísseis
lançados pelo Iraque.
Fonte: BBC Brasil
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