O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão de Inquérito da ONU
sobre a crise na Síria, desmentiu nesta segunda-feira, 6, a versão de que grupos
rebeldes em luta contra o regime de Bashar Assad usaram armas químicas. A
denuncia havia sido feita no fim de semana por outra integrante de alto escalão
da comissão, a suíça Carla del Ponte.
A discórdia dentro da ONU veio à
tona um dia depois de Israel
ter voltado a atacar o território sírio com o suposto objetivo de impedir que
armas iranianas cheguem ao grupo xiita libanês Hezbollah. O regime
Assad ameaçou retaliar "com todos os meios à disposição" o bombardeio
israelense.
A tensão na região fez a cotação do barril de petróleo ultrapassar US$ 105.
Autoridades israelenses negaram que o país está à beira da guerra ou mesmo
disposto a interferir na disputa interna síria.
"Dispomos de testemunhos sobre a utilização de armas químicas, em particular
do gás sarin. Não por parte do regime sírio, mas dos opositores", disse Carla em
entrevista a uma rádio suíça. Segundo ela, "as investigações ainda estão longe
de serem concluídas" e, portanto, ainda não se poderia afirmar se Assad usou ou
não o arsenal proibido.
A declaração de Carla pegou a ONU inteiramente de surpresa. Nesta tarde,
Pinheiro emitiu uma nota para esclarecer que a comissão de inquérito "não chegou
a resultados conclusivos sobre o uso de armas químicas na Síria por nenhum dos
grupos em conflito". "Como resultado, a comissão não está em posição de fazer
nenhum comentário adicional sobre as alegações neste momento", sublinhou o
brasileiro.
Pinheiro limitou-se a insistir que governo e oposição devem ter em mente que
o uso de armas químicas é "proibido em todas as circunstâncias". O Exército
Sírio Livre, que reúne grupos guerrilheiros em luta contra Assad, também
rejeitou a acusação de Carla, qualificando a fala da jurista suíça de "meras
especulações".
Após desferir o segundo ataque contra a Síria em 48 horas, Israel
tentou acalmar as tensões, indicando que seu objetivo é impedir o fortalecimento
do Hezbollah, e não entrar na disputa entre rebeldes e o regime Assad. Mas,
publicamente, nenhuma autoridade israelense admitiu que foi o país que desferiu
o ataque.
"Os ventos da guerra não estão soprando", disse Yair Golan, comandante das
forças israelenses na fronteira com o Líbano e a Síria. "Vocês veem alguma
tensão? Não há tensão. Pareço tenso para você", afirmou o militar a jornalistas,
enquanto fazia cooper com soldados.
Em um sinal de que são reduzidos os temores de uma retaliação síria, o
primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, chegou à China para uma visita
oficial. Pequim, que tenta barrar na ONU qualquer ação direta contra Damasco,
exortou os lados em conflito a evitar uma escalada nas tensões, embora não tenha
mencionado explicitamente Israel.
A Rússia, principal aliada de Assad entre as grandes potências, disse que o
bombardeio israelense "causa especial preocupação". O chanceler russo, Sergei
Lavrov, e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, se encontrarão nesta
terça-feira para discutir a crise síria.
Tzachi Hanegbi, veterano deputado próximo a Netanyahu, afirmou que o governo
israelense busca evitar "um aumento na tensão com a Síria, deixando claro que,
se há atividade, é contra o Hezbollah, e não contra o regime Assad".
Fonte: Estadão
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